Nossa Senhora Peregrina - Parte IV
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Na mensagem para a Jornada Mundial da Juventude 2023 em Lisboa, inspirado no tema escolhido «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39), o Papa Francisco destacou aos jovens o aspecto do levantar-se, do peregrinar, do estar a caminho e caminhar juntos com a Virgem Maria, iluminando com a mensagem de seu Filho os ambientes que nos rodeiam.
No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* volta a falar de Nossa Senhora Peregrina, que "reabre para todos e em particular vós, jovens como Ela, o caminho da proximidade e do encontro":
"A Jornada Mundial da Juventude é um momento de forte peregrinação dos jovens, mostrando esse rosto dinâmico e alegre da nossa Igreja. Milhões de jovens reunidos dessa vez em Portugal, sede da JMJ. Nessa atmosfera de uma Igreja peregrina, de uma Igreja militante e caminhante, aprofundamos a temática de Nossa Senhora Peregrina, pois Maria também se colocou a caminho, por diversas vezes. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se, caminha e não se acomoda. Não é peregrina apenas porque visita Isabel. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito grande, de discípula, de serva a caminho, para cumprir a vontade de Deus.
Dizia assim nosso Papa Francisco: “Como é importante para as nossas famílias peregrinar juntos, caminhar juntos e ter a mesma meta em vista! Sabemos que temos um percurso comum a realizar; uma estrada, onde encontramos dificuldades, mas também momentos de alegria e consolação”. A peregrinação não termina quando se alcança a meta do santuário ou do lugar proposto, disse o Papa, mas quando se volta para casa e se retoma a vida de todos os dias, fazendo valer os frutos espirituais da experiência vivida. Na proclamação do Ano Santo da Misericórdia, em 2015, o Papa Francisco escrevia assim sobre peregrinação: “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação”(Misericordiae Vultus, 14).
Na narrativa dos evangelhos uma das caraterísticas de Jesus nitidamente perceptíveis é o seu estar «a caminho». Ele nasce numa viagem, como recém-nascido tem de viajar para se refugiar num país estrangeiro, durante a sua vida pública desloca-se a um ritmo permanente, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, dos lugares desertos para as praças, de casa para a sinagoga, da estrada para o campo, da beira-mar para a montanha. Quando se aproxima «a hora de passar deste mundo para o Pai» (Jo 13,1), toma a firme decisão de se pôr a caminho de Jerusalém» (Lc 9,51). Por fim, morre fora de casa, a terminar uma “via-crucis”. Ele mesmo é «o caminho» (Jo 14,6). Com um «segue-Me» envolve muitos a pôr-se a caminho juntamente com Ele. Mesmo depois da sua morte, os seus discípulos são conhecidos como «os da via» (At 9,2). Pedro captou bem a identidade do Mestre quando o anuncia com esta frase sintética: «Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos» (At 10,38). A imagem que fascinou os primeiros convertidos ao cristianismo é a de Jesus que caminha conduzido pelo Espírito e fazendo bem por onde passa.
Maria, a mãe de Jesus viandante, assemelha-se a Ele nisto. Ela é mãe peregrina. Queremos seguir essa «peregrinação» de Maria nas pegadas que os evangelhos nos oferecem, que nos descreve também a Lumen Gentium, número 58. A Bíblia é um livro cheio de caminhos e de viagens, a história entre Deus e a humanidade é um entrelaçado dinâmico entre sair e chegar, ir e vir, partir e voltar, entre êxodo e advento. O caminhar de Maria insere-se neste movimento, neste sistema de encontro divino-humano, sempre aberto ao imprevisto, à surpresa e à novidade, mas sempre guiado pelo vento do Espírito. Efetivamente, a narrativa evangélica sobre Maria começa na pequena localidade de Nazaré e termina na cidade de Jerusalém. Ambos os lugares são como que uma fresta onde a terra se abre para o céu, como trampolim de lançamento onde a casa abre de par em par a porta para um caminho. Em ambos irrompe o «poder do Altíssimo»”, se derrama o Espírito Santo, tanto em Nazaré na Anunciação, quanto em Jerusalém no Cenáculo, no dia de Pentecostes. Em ambos os lugares, depois da descida do Espírito Santo, há um movimento de saída, de peregrinação, de não ficar parado. Maria está presente em ambos os lugares."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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