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A coletiva de imprensa sobre os trabalhos do Sínodo nesta quarta-feira (11) A coletiva de imprensa sobre os trabalhos do Sínodo nesta quarta-feira (11) 

No Sínodo, orações pelas vítimas da guerra e a voz de quem salva vidas no mar

Pobreza, migração, abusos, o papel das mulheres, identidade sexual no centro do trabalho do Sínodo sobre a Sinodalidade. Ruffini: "nenhuma polarização, é uma experiência de compartilhamento". Apelos pela paz e pelo sofrimento dos povos que vivem os conflitos. O cardeal Lacroix: "escutar os outros leva a refinar o próprio pensamento". A voz de Papua Nova Guiné no discurso de Grace Wrackia e o testemunho de Luca Casarini: ajudar os irmãos no Mediterrâneo é um presente.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

A sexta Congregação Geral do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano, foi aberta com uma meditação do cardeal Arthur Roche, que evocou o "perigo de uma guerra sangrenta" com a violência em Gaza e Israel nas últimas horas. O presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, e a secretária Sheila Pires, apresentaram os trabalhos da assembleia entre a tarde de terça-feira (10) e a manhã desta quarta-feira (11), centrados em temas como os conflitos no mundo, a pobreza, os abusos e a identidade sexual, na coletiva diária aos jornalistas realizada nesta quarta (11) na Sala de Imprensa do Vaticano.

Entre os convidados estava o cardeal Gérald Cyprien Lacroix, arcebispo de Québec, no Canadá, que relatou a experiência do "enriquecimento" destes dias na Sala Paulo VI; além de Grace Wrakia, da Oceania, que testemunhou a voz das "pequenas" comunidades de Papua Nova Guiné; e de Luca Casarini, ativista e fundador de "Mediterranea Saving Humans", uma ONG que nasceu em 2018 da "indignação" diante de milhares de mortes no Mediterrâneo e que hoje se dedica a salvar vidas no mar. Convidado especial para o Sínodo, Casarini compartilhou um forte testemunho sobre esse trabalho realizado pela organização: um "encontro" entre duas pobrezas, disse ele, aquela material, de quem é forçado a deixar "a única riqueza em sua posse", a própria terra, e a pobreza espiritual de um Ocidente que parece ter perdido a capacidade de chorar e rejeitar o "horror".

Um pequeno "Círculo Menor" em Santa Marta

Paolo Ruffini foi o primeiro a tomar a palavra, relatando sobre um "pequeno 'Círculo Menor'" estabelecido na terça-feira (10) na Casa Santa Marta, quando um grupo de pessoas pobres de Roma foi convidado a almoçar com o Papa e o cardeal Konrad Krajewski. A eles chegou a ser perguntado "o que esperavam da Igreja" e "a resposta", segundo Ruffini, "foi: 'amor. Somente amor".

Na esteira do Concílio

339 membros estavam presentes na Congregação de terça (10), 345 na manhã desta quarta (11), que rezaram o Angelus conduzido pelo cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que pediu a intercessão de São João XXIII, cuja memória foi lembrada neste 11 de outubro, também aniversário da abertura do Concílio Vaticano II. Um momento histórico para a Igreja universal, evocado pelo cardeal Lacroix em seu discurso: "o que estamos vivendo é uma continuidade de tudo isso", disse o cardeal canadense. João XXIII foi "profético", disse ele: idoso, doente, Roncalli foi "inspirado" pelo Espírito sobre a necessidade de "viver um Concílio ecumênico", do qual, a propósito, ele não conseguia nem mesmo ver o final.

Lacroix leu o discurso de abertura do Concílio de João XXIII, que é extraordinariamente atual neste tempo sinodal que a Igreja está vivendo desde outubro de 2021. "A metodologia que estamos usando tem como objetivo ouvir o Senhor, sua Palavra, sua presença em cada pessoa batizada, e isso nos permite estar abertos ao outro e aos outros". Ao ouvir a Palavra de Deus, dos irmãos e das irmãs, "podemos encontrar nuances, mudar o que pensamos e é assim que vemos que Deus está trabalhando e está trabalhando em todas as pessoas", disse o arcebispo de Quebec, revelando que viver tudo isso em nível pessoal "me leva a ajustar, refinar, mudar um pouco meu pensamento". Em todo caso, do Sínodo, acrescentou, "não esperemos mudanças doutrinárias, mas aprendamos a caminhar juntos".

O cardeal Lacroix durante o Sínodo
O cardeal Lacroix durante o Sínodo

A voz das "pequenas" ilhas da Oceania

Por outro lado, a ideia por trás do próprio Sínodo sobre a Sinodalidade "é deixar-se desafiar pelo que surge nas outras intervenções de maneira livre". E também para dar voz àqueles que até agora permaneceram em segundo plano. Grace Wrackia, a esse respeito, expressou gratidão ao Papa por ter convidado representantes das Ilhas Salomão e de Papua Nova Guiné para o Sínodo. "Por tantos anos", disse ela em um discurso apaixonado, "nós ouvimos e agora gostaríamos de falar, e gostaríamos que vocês ouvissem, porque temos algo a dar ao mundo. É a nossa maneira de viver, viver em comunhão, viver juntos e construir relações".

Os trabalhos do Sínodo na Sala Paulo VI
Os trabalhos do Sínodo na Sala Paulo VI

Fortes apelos à paz

Ao listar os tópicos abordados pelos Círculos e Congregações, o prefeito Ruffini explicou que muitos discursos abordaram o tema da paz e das pessoas que sofrem com a guerra: "foi feita referência a como os cristãos podem ser um sinal de paz e reconciliação em um mundo desfigurado por guerras e violência". Foram também lançados "fortes apelos" pelos países assolados por conflitos e pelo "sofrimento em algumas Igrejas Orientais".

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Uma Igreja humilde para os pobres

Outro tema que emergiu, disse Sheila Pires, foi "o desejo de uma Igreja em favor dos pobres, humilde, itinerante, que caminha com os pobres". Pobres que "têm muitas faces": os excluídos, os migrantes, as vítimas das mudanças climáticas e até mesmo as mulheres e religiosas em algumas partes do mundo consideradas "cidadãs de segunda classe". "Foi dito que elas deveriam ser protegidas dos abusos", explicou Pires.

Reflexões sobre abusos e identidade sexual

O tema dos abusos também ganhou centralidade nas reflexões: "falou-se da nossa credibilidade sendo questionada por escândalos como aqueles do abuso sexual e da necessidade de erradicar todo abuso sexual, de poder e espiritual e fazer de tudo, continuar fazendo de tudo, para estar perto das vítimas", disse Ruffini.

Nos grupos e nas intervenções, a questão da identidade sexual foi então abordada. Foi dito que ela deve ser abordada "com responsabilidade e compreensão, permanecendo fiel ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja", explicou o prefeito para a Comunicação. Alguns pediram "maior discernimento sobre o ensinamento da Igreja sobre a sexualidade"; para outros, entretanto, "não há necessidade de maior discernimento". Instigado pelas perguntas dos jornalistas, ele continuou explicando que "não havia nada que pudesse ser enquadrado no estereótipo da polarização. É uma experiência de compartilhamento".

As perguntas que os participantes do Sínodo fizeram a si mesmos foram "como incorporar o cuidado pastoral com relação ao amor entre casais homossexuais, entre os divorciados, enquanto permanecem fiéis aos ensinamentos da Igreja". "Mais ou menos todos os que falaram sobre essas questões disseram que é preciso rejeitar todas as formas de homofobia", observou Paolo Ruffini, explicando que vários membros disseram "que muitas dificuldades surgem do fato de não se conhecer a realidade e o caminho pessoal dos indivíduos". 

A questão dos migrantes

Quanto à questão dos migrantes, alguns bispos - como foi explicado na coletiva de imprensa - "pediram ajuda a outras conferências episcopais" que estão em situações melhores do ponto de vista da integração e do acolhimento. Uma maneira de "poder se beneficiar" das habilidades desenvolvidas para garantir que as pessoas acolhidas possam se integrar à sociedade. Também foi reiterada "a necessidade de os migrantes e refugiados respeitarem as leis dos países em que se encontram".

Luca Casarini
Luca Casarini

O depoimento de Luca Casarini

Sobre o tema da migração, o testemunho de Luca Casarini foi comovente para a maioria dos presentes na coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano. Ele começou se descrevendo como "um homem privilegiado", porque "em um mundo em que há uma corrida para ver quem mata mais pessoas, um mundo dominado pelo ódio, ajudar uma vida, abraçar irmãos e irmãs no meio do mar, é um presente infinito que muda sua vida. Mudou a minha...".

O ativista também refletiu sobre a questão da pobreza: "nós, no meio do mar, encontramos esses irmãos e irmãs e, naquele momento, você encontra duas pobrezas". Por um lado, a pobreza econômica e social que obriga as pessoas a "deixar sua terra, sua família, sua memória", suas únicas riquezas; por outro lado, a pobreza desoladora de uma parte do mundo que agora considera o "horror normal". "Não somos mais capazes de chorar por uma criança que morre", disse Casarini. "Essas duas pobrezas se ajudam mutuamente e abrem espaço para algo que devemos buscar desesperadamente hoje no mundo do ódio, o amor. Foi assim que conheci Jesus e Deus".

Com graça e ironia, o convidado especial respondeu às perguntas daqueles que lhe perguntaram se ele se sentia "fora de lugar" em um evento como o Sínodo, pontuado por vários rituais e momentos espirituais. "Eu sempre me sinto deslocado e inadequado em todos os contextos", ele sorriu. "Eu realmente considero todos os presentes no Sínodo meus irmãos e irmãs, estou aprendendo a transformar o ressentimento e o rancor em piedade." O segredo que "estou tentando aprender é se colocar no lugar da outra pessoa. Que não devemos esperar resolver tudo sozinhos, mas é o Espírito Santo que age. Portanto, coisas loucas podem acontecer... como o fato de eu estar no Sínodo".

O fundador de Mediterranea também foi questionado sobre seu "arrependimento" pelas ações durante o G8 de 2001, em Gênova, e sobre a acusação de ajudar e incentivar a imigração clandestina. "Em Gênova, passei por oito anos de julgamento e fui absolvido em todos os três níveis de acusação", respondeu Casarini, enquanto a outra acusação "eu não conseguia entender". "Para mim, nenhum ser humano é clandestino.... Eu entendi que estava sendo investigado porque resgatei 38 pessoas durante 38 dias no meio do mar. O maior impasse que a Europa já conheceu. Entre essas pessoas, havia uma garota que foi estuprada por cinco guardas líbios antes de ir para o mar; durante 38 dias, ela não teve sequer um médico. Eu cometi algum crime? Me prendam, estou feliz por ter feito isso".

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12 outubro 2023, 08:00