Sínodo, Ormond Rush: "discernir a diferença entre oportunidades e armadilhas"
Padre Modino – Regional Norte 1 da CNBB
Para refletir sobre o Documento de Síntese, Ormond Rush, Professor Associado de Religião e Teologia no Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica Australiana, ajudou os participantes do Sínodo a refletirem a partir da perspectiva do Concílio Vaticano II, que pode "conter algumas lições para este sínodo, à medida que agora é realizada a síntese de seu discernimento sobre o futuro da igreja".
O ensinamento do Concílio Vaticano II
Em seu discurso, ele observou como um dos principais pontos de tensão no Vaticano II foi a "tradição", contando como um texto preliminar sobre "as fontes da revelação" foi rejeitado, o qual "foi concebido nas categorias do neoescolasticismo, que falava de revelação, fé, Escritura e tradição de uma forma amplamente unidimensional: em termos apenas de declarações doutrinárias proposicionais".
O professor australiano lembrou as palavras do perito conciliar Joseph Ratzinger, que observou que a fonte de tensão eram duas abordagens à tradição: uma compreensão "estática" da tradição, legalista, proposicional e a-histórica, relevante para todos os tempos e lugares, tendendo a se concentrar no passado, e uma compreensão "dinâmica", personalista, sacramental e enraizada na história, realizada no presente, mas aberta a um futuro ainda a ser revelado, que o Concílio definiu como "tradição viva". Ratzinger falou de três maneiras inter-relacionadas pelas quais o Espírito Santo guia o desenvolvimento da tradição apostólica: o trabalho dos teólogos; a experiência vivida pelos fiéis; e a supervisão do magistério, onde Rush vê uma igreja sinodal.
Diferentes abordagens à tradição
Nessa perspectiva, "a tradição não deve ser vista apenas de forma afirmativa, mas também de forma crítica", disse Rush. Relembrando as palavras do Papa Francisco, ele observou que "a tradição é uma realidade viva, e apenas uma visão parcial vê o 'depósito da fé' como estático". O teólogo vê a revelação não apenas como "uma comunicação de verdades sobre Deus e a vida humana, articuladas nas Escrituras e em declarações doutrinárias", mas como "uma comunicação do amor de Deus, um encontro com Deus Pai em Cristo por meio do Espírito Santo".
Uma revelação que na Dei Verbum, o que é importante para entender a sinodalidade e o próprio propósito deste Sínodo, é apresentada "como um encontro contínuo no presente, e não apenas como algo que aconteceu no passado". Uma revelação que na Dei Verbum aparece basicamente como diálogo. A partir daí, ele definiu este Sínodo como "um diálogo com Deus”, que Rush vê presente nas "conversas no Espírito". Por isso, "Deus está esperando sua resposta". Para isso, apontou o Concílio de Jerusalém como uma possível inspiração, onde com "o Espírito Santo tiveram que se reunir para uma nova adaptação do Evangelho de Jesus Cristo com relação a essa nova questão, que não havia sido prevista antes".
Lembrando que "o Vaticano II exortou a Igreja a estar sempre atenta aos movimentos do Deus revelador e salvador presente e ativo no fluxo da história, prestando atenção aos 'sinais dos tempos' à luz do Evangelho vivo", Rush vê o discernimento deste Sínodo como um chamado "para ver, com os olhos de Jesus, os novos tempos; mas também nos exorta a estarmos atentos às armadilhas, onde podemos estar sendo atraídos para formas de pensar que não são de Deus". Essas armadilhas estão presentes em "nos ancorarmos exclusivamente no passado, ou exclusivamente no presente, ou não estarmos abertos à futura plenitude da verdade divina para a qual o Espírito da Verdade está conduzindo a Igreja", desafiando todo o povo de Deus a "discernir a diferença entre oportunidades e armadilhas" e, para isso, ele os convidou a "fixar nosso olhar em Jesus".
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