Momento em que Papa Francisco assina a Carta Apostólica Admirabile Signum diante de afrescos do Presépio em Greccio Momento em que Papa Francisco assina a Carta Apostólica Admirabile Signum diante de afrescos do Presépio em Greccio  (ANSA)

Admirabile Signum do Papa Francisco

"Quinze dias antes do Natal, Francisco de Assis chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro»."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“Hoje à tarde vou a Greccio, no lugar onde São Francisco fez o primeiro presépio. Lá vou assinar uma Carta Apostólica sobre o significado e o valor do presépio. Se intitula Admirabile signum, porque o presépio é um sinal simples e maravilhoso da fé cristã. É uma Carta curta, que pode ajudar a se preparar para o Natal.”

No  final do Angelus do domingo, 1° de dezembro de 2019, o Papa Francisco anunciava aos fiéis reunidos na Praça São Pedro a ida à cidadezinha italiana de Greccio, de pouco mais de 1.500 habitantes, para a assinatura da Carta Apostólica Admirabile Signum sobre o significado e o valor do Presépio. Neste nosso espaço na primeira semana do Tempo do Advento, Pe. Gerson Schmidt*, inspirado neste documento pontíficio, nos fala sobre a tradição do Presépio:

"O capuchinho Frei Luiz Carlos Susi, falando sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS DO RITO” no recente Congresso Teológico Litúrgico em Porto Alegre, dizia com bastante propriedade: “o ser humano ritualiza porque é corpo espiritual e se relaciona corporalmente, inclusive na sua condição espiritualmente mais alta, no nosso caso, na comunidade eucarística”.  Jesus mesmo na Eucaristia diz: “Isto é o meu corpo”. É a partir dos sentidos corporais - ouvir, ver, tocar, sentir, saborear, doar, receber, acolher, nutrir-se, abraçar que o ser humano pode afetar-se espiritualmente e abrir-se a uma relação espiritual”.

 

Nesse contexto antropológico litúrgico, de símbolos e ritos, cabe aqui perfeitamente um comentário a respeito da mais recente assinatura da Carta Apostólica Admirabile Signum do Papa Francisco sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias. Estamos no tempo do Advento, preparativo para o Natal. O presépio hoje é confeccionado e preparado, nesse tempo precioso das quatro semanas que antecedem o Natal, colocado em nossas casas, nossos ambientes de trabalho, no comércio, em nossas igrejas e comunidades, nos mais variados espaços e lugares do mundo inteiro, tornando mais visível esse gesto da encarnação do Verbo Divino no ventre da humanidade. Papa Francisco diz que “a encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus, mesmo quando facilmente se torna discreta a ponto de passar desapercebida. A pequenez é, de fato, o caminho para encontrar Deus."

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está preparando o próximo Jubileu de 2025 e publica diversos cadernos, de linguagem acessível a todos, retomando os textos fundamentais do Concílio Ecumênico Vaticano II e o ensinamento dos Padres Conciliares (entenda-se os que participaram do Concilio Vaticano II). Os temas são justamente das quatro constituições Conciliares que aqui no nosso espaço MEMÓRIA HISTÓRICA estamos sempre aprofundando. No Caderno do Concilio número 13 – com o título OS TEMPOS FORTES DO ANO LITURGICO”, Edições CNBB, página 36, fala assim sobre o Tempo do Advento: “O Advento se caracteriza pela celebração desse movimento (ou seja, da primeira e segunda vinda de Cristo) e vivê-lo significa fazer um itinerário, um caminho que nos conduz àquele que vem: o termo adventos (do latim) de fato, indica a tensão dinâmica para com aquele que vem do futuro, que se torna presente no hoje, e que nos arrasta consigo”[1].

Papa Francisco nessa recente Carta Apostólica sobre o presépio fala da origem do Presépio, tal como nós o entendemos. Escreve assim o Sumo Pontífice: “A mente nos leva a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura”. E continua Papa Francisco assim: “As Fontes Franciscanas narram, de forma detalhada, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco de Assis chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro». Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Gréccio, naquela ocasião, não havia figuras; o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes”. A fonte bibliográfica que o Papa utiliza é de Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas, 469.

Desta força nasceu a nossa tradição do presépio, tão ricamente adornado pelos cristãos e que serve de uma rica catequese para as crianças, explicando os símbolos e personagens que ali se apresentam. “Todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério”, afirma Papa Francisco."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio 13 – OS TEMPOS FORTES DO ANO LITURGICO, Edições CNBB, pg. 36.

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04 dezembro 2023, 08:11