O comércio da guerra e o paradoxo da segurança
Alessandro Gisotti
"Dê-me dois bombardeiros. Com o custo deles, curarei todos os doentes de lepra." Era 1955, quando Raoul Follereau fez esse apelo sincero e provocativo aos Estados Unidos e à União Soviética. Ele enfatizava a desproporção imoral dos gastos com armas em relação a uma batalha de civilização como a luta contra a hanseníase. Setenta anos se passaram, a Guerra Fria terminou há muito tempo, a lepra ainda faz vítimas em muitas áreas do planeta, mas - como o Papa Francisco denuncia incansavelmente - a corrida armamentista não só não parou, mas acelerou sua velocidade insana.
Os dados oficiais coletados no Relatório SIPRI, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, fundado em 1966, em Estocolmo, dão razão ao pontífice. Enquanto aguardamos os do ano corrente, que provavelmente não serão baixos devido à escalada da guerra no Oriente Médio, além do conflito na Ucrânia, os de 2022 já são alarmantes. Um ano em que os gastos militares mundiais atingiram a cifra recorde de 2.240 bilhões de dólares (EUA, China e Rússia foram os maiores investidores, enquanto pela primeira vez na Europa foi gasto mais em armamentos do que nos tempos da Cortina de Ferro). Para se ter uma ideia, esse valor é mil vezes maior do que o balanço total da Cruz Vermelha Internacional, com seus 20 mil funcionários em todo o mundo.
A organização humanitária sediada em Genebra anunciou nos últimos meses um corte de funcionários devido a uma queda nas doações. Um destino infelizmente comum a muitas ONGs e instituições de caridade nos últimos anos. Assim, enquanto os balanços para a produção e venda de armas estão aumentando exponencialmente, os fundos disponíveis para quem gostaria de se comprometer com o bem dos outros estão caindo. Uma combinação dramática que mostra como o comércio da guerra é feito às custas dos inocentes e também daqueles que gostariam de salvar esses inocentes. "A guerra", recordou Francisco na Audiência Geral de 29 de novembro passado, "é sempre uma derrota, todos perdem. Nem todos perdem, pois há um grupo que ganha muito: os fabricantes de armas. Esses ganham muito, em cima da morte de outros". Uma forte denúncia. E, no entanto, é preciso lembrar que, já em 1961, o presidente dos EUA, Dwight Eisenhower - certamente não um pacifista, tendo guiado como general os Aliados à vitória contra o nazismo na Europa - advertiu contra o "complexo militar-industrial" e sua interferência indevida nas escolhas da política americana num sentido militarista.
"O aumento contínuo dos gastos militares globais nos últimos anos", observou Nan Tian, pesquisador do SIPRI, "é um sinal de que vivemos num mundo cada vez mais inseguro. Os Estados estão aumentando o poder militar em resposta a um ambiente de segurança em deterioração, que eles não esperam que melhore no futuro próximo". Um trágico círculo vicioso denunciado muitas vezes pelo Papa. "Para dizer 'não' à guerra", disse ele no dia de Natal, "é preciso dizer 'não' às armas. Porque se o homem, cujo coração é instável e ferido, encontra instrumentos de morte em suas mãos, mais cedo ou mais tarde ele os usará". As consequências, tanto paradoxais quanto nefastas, estão aí para todos verem: armamo-nos para nos sentirmos mais seguros e, como resultado, o mundo está cada vez mais inseguro.
As pessoas "não querem armas, mas pão", disse novamente o Papa Francisco na Urbi et Orbi de Natal. Palavras que parecem idealmente ecoar as de Madre Teresa de Calcutá quando ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1979. "Em nossa família", advertiu ela, dirigindo-se aos Poderosos da Terra, "não precisamos de bombas e armas, de destruir para levar a paz, mas apenas de estarmos juntos, amarmos uns aos outros". Estar juntos: esse sonho de fraternidade universal que Francisco, assim como o Santo cujo nome leva, invoca e testemunha como o único antídoto ao "espírito de Caim" que, infelizmente, mesmo neste 2023, semeou morte e destruição.
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