A dimensão corpórea da liturgia
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
A linguagem simbólica, ou melhor, a dimensão simbólica da linguagem, é aquela que permite ao homem estar aberto à realidade que o rodeia, aquela em que a realidade pode revelar-se.
Neste sentido, Giorgio Bonaccorso¹ explica que os símbolos que encontramos na experiência religiosa devem ser entendidos não como tipos particulares de sinais, mas como exemplos da dimensão simbólica mais global. Esses símbolos, no entanto, expressam esta dimensão, não isoladamente, mas como partes de uma rede mais ou menos complexa que os conecta. Os símbolos sempre pertencem a este ou aquele contexto, e um desses contextos é o ritual. O ritual é uma sequência particular de ações que, em certo sentido, redesenha a rede simbólica segundo critérios internos. Ele não pode existir sem símbolos e, portanto, depende da linguagem simbólica, mas, ao mesmo tempo, remodela essa linguagem segundo seus próprios critérios.
Neste contexto, padre Gerson Schmidt* nos propõe uma reflexão sobre a dimensão corpórea da liturgia:
"A linguagem é a casa em que o ser humano habita. Frei Carlos Susin, professor da Pontifícia Universidade Católica, aponta que o Símbolo e o Rito são intrínsecos à nossa condição humana. “As manifestações e saudações constantes dos anjos, na narrativa bíblica, estão dentro da delicadeza da linguagem que o homem poderia entender, dentro da condição humana perceptível, ou seja, condescendentes à corporeidade do ser humano”, disse. Por isso, os anjos sempre aparecerão ao homem de modo visível, mesmo sendo invisíveis.
Se é assim a condição dos anjos invisíveis para se manifestar de maneira perceptível e em linguagem que o homem possa entender, quão profundo é o mistério do Natal!! Não se trata de um anjo a nos visitar. Não se trata de uma manifestação pontual de Deus do anjo que vem com uma missão de anunciar e ir em embora. É muito mais. É muito mais. O natal é um acontecimento novo, onde o Deus generoso faz carne e vem habitar entre nós, que não somos anjos, mas pobres pecadores, necessitados da sua salvação.
Palavra símbolo é etimologicamente significativa quando falamos de linguagem humana. A palavra no latim como symbŏlus ou no grego sýmbolos, formado pelo prefixo sin-, em referência a articulação grega syn-, que indica a ideia de encontro ou união, baseado no indo-europeia *sun-, interpretado como o conector com, e-bolo, associado ao verbo ballein, que se refere a lançar ou arremeter, com raiz no indo-europeu *gwele-, por lançar.
A palavra simbólica e ritual “clama por discernimento”, disse Frei Susin, no Congresso Litúrgico Teológico que já referendamos aqui tantas vezes, “para se tornar um ato de liberdade”. Sim – bolum (juntar) pode se se tornar dia-bolum (dispersar, separar). Símbolos e ritos não podem ser automaticamente humanos, mas tão somente quando, segundo Kant, “são assumidos pela consciência e responsabilidade”.
Precisamos entender a DIMENSÃO ANTROPOLÓGICA DA LITURGIA. Paulo VI, no encerramento do Concílio, afirmou que para conhecer o ser humano é necessário conhecer a Deus. Para reconhecer a Deus é necessário conhecer o ser humano e o nosso Humanismo muda-se em Cristianismo e o nosso Cristianismo faz-se Teocêntrico, afirma o Frade Capuchinho Frei Carlos Susin. Assim, ritos e símbolos não podem ser arbitrariamente inventados. Os símbolos não são inventados, mas “eles que nos inventam, nos constituem, nos transformam, nos unificam”.
A Igreja não edita um novo missal para brincar com ritos, pois falar em “novo missal” é uma linguagem errônea quando utilizada. A Igreja no Brasil realiza uma Terceira Edição melhorada e atualizada com alguns pontos adaptados, segundo à renovação querida pela Constituição Sacrosanctum Concilium, do Concilio Vaticano II, ou seja, as atualizações oficiais de Paulo VI e o Papa João Paulo II, devidamente aprovadas, divulgadas e autorizadas. A liturgia atualiza o mistério de Deus estudado na Teologia."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹ Giorgio Bonaccorso, "I linguaggi simbolici e rituali" (artigo).
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