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Cardeal Parolin em primeiro plano, tendo ao fundo a cúpula da Basílica de São Pedro. Cardeal Parolin em primeiro plano, tendo ao fundo a cúpula da Basílica de São Pedro.  (ANSA)

Parolin: para o Papa negociar não é render-se, mas condição para uma paz justa e duradoura

Após as palavras do Papa Francisco sobre a Ucrânia na entrevista à Rádio e Televisão Suíça, o secretário de Estado Pietro Parolin intervém sobre o assunto numa entrevista ao Corriere della Sera. O mundo – afirma o purpurado – corre o risco de uma escalada nuclear.

Vatican News

Publicamos o texto na íntegra da entrevista concedida a Gian Guido Vecchi pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, publicada nesta terça-feira, 12, no Corriere della Sera.

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Eminência, parece claro que o Papa pede uma negociação e não uma rendição. Mas porquê dirigir-se somente a uma das duas partes, à Ucrânia, e não à Rússia? E evocar a “derrota” do agredido, como motivação para a negociação, não corre o risco de ser contraproducente?

«Como recordado pelo diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, citando as palavras do Santo Padre de 25 de fevereiro passado, o apelo do Pontífice é que “se criem as condições para uma solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura”. Neste sentido é óbvio que a criação de tais condições não diz respeito apenas a uma das partes, mas sim a ambas, e a primeira condição parece-me ser precisamente a de pôr fim à agressão. Nunca devemos esquecer o contexto e, neste caso, a pergunta que foi dirigida ao Papa, que, em resposta, falou de negociação e, em particular, da coragem da negociação, que nunca é uma rendição. A Santa Sé prossegue esta linha e continua a pedir um “cessar-fogo” – e cessar fogo deveriam fazer antes de tudo os agressores – e, portanto, a abertura de tratativas. O Santo Padre explica que negociar não é fraqueza, mas é força. Não é rendição, mas é coragem. E diz-nos que devemos ter uma maior consideração pela vida humana, pelas centenas de milhares de vidas humanas que foram sacrificadas nesta guerra no coração da Europa. Estas são palavras que se aplicam à Ucrânia, bem como à Terra Santa e a outros conflitos que estão ensanguentando o mundo».

Ainda existem possibilidades de se chegar a uma solução diplomática?

«Por se tratarem de decisões que dependem da vontade humana, permanece sempre a possibilidade de chegar a uma solução diplomática. A guerra desencadeada contra a Ucrânia não é o efeito de uma catástrofe natural incontrolável, mas somente da liberdade humana, e a mesma vontade humana que causou esta tragédia também tem a possibilidade e a responsabilidade de tomar medidas para lhe pôr fim e abrir caminho a uma solução diplomática».

A preocupação da Santa Sé é uma escalada do conflito? O senhor mesmo falava sobre isso, dizendo que a hipótese de envolvimento dos países ocidentais é “assustadora”.

«A Santa Sé está preocupada com o risco de uma extensão da guerra. O nível crescente de conflito, a explosão de novos confrontos armados, a corrida armamentista são sinais dramáticos e perturbadores neste sentido. A expansão da guerra significa novos sofrimentos, novas mortes, novas vítimas, novas destruições, que se somam àquelas que o povo ucraniano, especialmente as crianças, as mulheres, os idosos e os civis, experimenta na sua própria carne, pagando o preço excessivamente elevado por esta guerra injusta».

Francisco também falou sobre o conflito israelense-palestino, evocando a “responsabilidade” dos envolvidos. O que as duas situações têm em comum?

«As duas situações têm certamente em comum o fato de se terem expandido perigosamente para além de qualquer limite aceitável, que não se consegue resolver, de terem reflexos em vários países e que não podem encontrar uma solução sem uma negociação séria. Preocupa-me o ódio que eles estão gerando. Quando poderão ser curadas essas feridas tão profundas?».

Ainda sobre o tema da escalada do conflito: o Papa falou várias vezes sobre o perigo de um conflito nuclear, “é suficiente um acidente”, será este o medo subjacente da Santa Sé? Um “acidente” como o de Sarajevo em 1914?

«O risco de uma “deriva” nuclear fatal não está ausente. Basta observar a regularidade com que certos representantes governamentais recorrem a esta ameaça. Só posso esperar que isto seja propaganda estratégica e não um “aviso” de um acontecimento verdadeiramente possível. Quanto ao “medo subjacente” da Santa Sé, acredito que este seja antes de tudo de que os vários atores desta trágica situação acabem por se fechar ainda mais nos seus próprios interesses, não fazendo o que podem para alcançar uma paz justa e estável ".

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12 março 2024, 08:29