O dinamismo alegre e contagiante da Páscoa
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Na alegria da Festa da Ressurreição, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “O dinamismo alegre e contagiante da Páscoa”:
“Retomo aqui uma reflexão já realizada em outro momento sobre esse alegre tempo litúrgico e maravilhoso da Páscoa. Atualizo com inovações. Importante dizer que a Páscoa foi recuperada pela Igreja e foi selada pelo Concílio Vaticano II. O Mistério Pascal passou a ser o centro de toda a liturgia e de todas as ações da Igreja. Mas a Páscoa não é um acontecimento pontual. Cabe acontecer essa passagem de Deus por meio de uma renovação em nossas vidas, em nossas Igrejas e em nossa Igreja Universal, em nossas paróquias e comunidades, pequenas ou grandes, para que sejam missionárias de Cristo vivo e Ressuscitado, que foi o esplendor proclamado pelo querigma (o anúncio da Boa nova) dos primeiros tempos calorosos da Igreja nascente. Pe. Pedro Farnés, jovem e recém-formado no Instituto Pastoral de Liturgia de Paris, que faleceu com mais 100 anos de idade, foi na época do Concilio um liturgista fundamentalmente importante para toda essa renovação conciliar, e outros homens ilustres como Dom Botte e Boyer, Romano Guardini e outros teólogos e assessores que foram os que prepararam e atuaram com intensidade no concílio.
Muita gente escutou Farnés e se escreveu milhares de livros depois do Concílio, mas verdadeiramente não se entendeu ainda tudo o que é a Páscoa. Depois de 40 dias, o mistério da quaresma que trilhamos em preparação intensa para a Páscoa é para que ela se realize em cada um, de maneira nova e decisiva. A Páscoa não é um acontecimento qualquer e apenas litúrgico, escondido e preso nos ritos que celebramos, mas é um acontecimento singular para que cada um de nós possa experimentar a glorificação à qual Deus leva o ser humano. E vemos a missão da Igreja, que será sem ruga e sem mancha; que será conduzida de ser gente pecadora e escrava, como o povo de Israel, a poder ter uma missão imensa de luz, de direção da história, de Páscoa, de passar para a alegria plena, na contemplação e proclamação do Vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.
A Páscoa não pode ser comparada com qualquer Missa, nem com nenhuma vigília de oração, nem com nada; é todo um memorial junto com o qual o próprio Deus se empenhou para realizar esta Aliança que prometeu a Abraão e os profetas. A Páscoa não é uma Missa mais comprida, de meia noite, mas algo muito maior no seu significado e sentido profundo. A Vigília Pascal não é uma Missa do Galo, como acontece no Natal. É Deus que passa nessa noite das noites, de maneira mais forte daquela da Páscoa Judaica. É Deus que quer realizar páscoa-passagem na nossa história hodierna, desejando comer ardentemente o cordeiro pascal conosco, como fez com os seus discípulos, antes de partir, quando deixou seu testamento àqueles que amou e amou até o fim, até a morte, e morte de cruz. Nós não celebramos a Páscoa. É a Páscoa que se celebra em nós. É a páscoa que vem com potência a nós. Deus irrompe e o poder da sua passagem (Pessach-Páscoa) nos convida a sair de nosso Egito interior, de nossas trevas, de nossos pecados, nossas angústias, para passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, da terra do Egito para a Terra Prometida, da prisão do pecado para a plena e doce graça do Redentor-Ressuscitado. É a páscoa que Jesus Cristo fez e quer repetir agora conosco.
Por isso, a oitava da Páscoa é como o mesmo e único dia pascal, estendido também até Pentecostes. São 50 dias pascais, como se fosse uma única celebração em tom de aleluia, alegria, louvor, júbilo e festa. No Caderno do Concílio de número 13 – publicação da CNBB para a preparação o Ano Jubilar 2025, nos aponta sobre o precioso Tempo Pascal – O Ressuscitado entre nós, usando subtítulo Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), descrevendo desta forma: “Algumas festas principais do Cristianismo precisam de certo tempo para serem acolhidas e assimiladas. Na Igreja Primitiva, o mistério pascal era celebrado não só nos três dias de Tríduo, mas também nas sete semanas seguintes, conhecidas como o “Tempo Pascal dos 50 dias”, como acorda o termo grego Pentecoste (50 dias)”. E continua o texto do Dicastério para a Evangelização, afirmando que “a normativa litúrgica aconselha os cristãos a celebrarem os 50 dias que se sucedem do domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes “com alegria e exultação, como um único dia de festa, aliás como grande domingo em que a Igreja se alegra, com o cântico de Aleluia, pela vitória do Senhor sobre a morte e pela vida nova que a participação no mistério Pascal fez germinar nos fiéis. Não é por acaso que os domingos desse período não se chamam “Domingos depois da Páscoa”, mas sim domingos “da Páscoa”, que com seu conteúdo mistérico se expande nesse tempo repleto de presença do Ressuscitado. É precisamente essa presença que faz com que o período Pascal seja considerado como Laetíssimum Espatium (período de grande alegria), expressão cara a Tertuliano, período habitado por imensa e intensa alegria pela promessa mantida pelo Senhor: “Eu estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”(Mt 28,20)[1].
No agora de nossa vida, o Kairós do hoje (termo grego que significa o momento presente da ação da graça de Deus), a Páscoa vem para ser celebrada em nós com uma dimensão totalmente transformadora, criativa e nova. O movimento da revelação de Deus não é ascendente, mas descendente. A Páscoa também. Cristo quem desce, quem mergulha em nossa história e vem realizar Páscoa conosco, irrompendo com seu amor ofertante. A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual tudo emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada da Páscoa. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos. As variadas ações eclesiais são tudo pequenas celebrações e desdobramentos da grande Páscoa, do esplendor do Mistério Pascal. Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o sentido da Páscoa. Em outras palavras, somos filhos da Páscoa, filhos no Filho, pelo mergulho batismal gestado na Vigília Pascal. O movimento litúrgico, bíblico e toda a renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para colocar em movimento a história e o mundo todo nessa dinâmica salvífica. Na Páscoa, todas as coisas são renovadas e recapituladas em Cristo, como afirma São Paulo.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio 13 – Jubileu 2025 – Os tempos fortes do Ano Litúrgico – Edições CNBB, 2023, p. 29-30.
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