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Uma das obras expostas no cárcere da Giudecca Uma das obras expostas no cárcere da Giudecca  (AFP or licensors)

Papa com detentas em Veneza: gesto de humanidade, diz capelão da Giudecca

No domingo, 28 de abril, Francisco estará em Veneza para a Bienal de Arte e vai visitar o Pavilhão da Santa Sé, localizado dentro da casa de detenção feminina na ilha de Giudecca que abriga a exposição “Com os meus olhos”, com curadoria da italiana Chiara Parisi e do francês Bruno Racine.

Roberta Barbi - Vatican News

Quatro detentas com penas alternativas atuam como guias para o visitante curioso que com os seus olhos vai descobrir as obras de arte e performances que o Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Artes de Veneza tem reservado até 24 de novembro, inseridas num contexto especial, ou seja, no cárcere feminino localizado na ilha de Giudecca. “Elas estão muito felizes por estarem envolvidas em um trabalho cultural, mas também por relançarem sua humanidade”, diz Pe. Antonio Biancotto, capelão da prisão. “É uma aposta em sua humanidade recuperada após um período de expiação da pena. Eu diria, portanto, que é uma experiência com um alto valor cultural, mas acima de tudo humano”.

E para coroar esse sonho incrível, o Papa Francisco decidiu ver, desta vez com os próprios olhos, a instalação, intitulada “Com os meus olhos”, da italiana Chiara Parisi e do francês Bruno Racine, promovida pelo prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, cardeal José Tolentino De Mendonça. O Pontífice vai admirar as obras de arte de 9 artistas, mas, acima de tudo, conhecer pessoalmente as 80 hóspedes da instituição.

Estrangeiros do lado de fora, hóspedes do lado de dentro

O tema desta edição da Bienal, com curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Artes de São Paulo, o MASP, é “Estrangeiros em todo lugar”, indicando uma condição universal que todos podem experimentar, especialmente na prisão, um lugar onde se entra como estrangeiro e é percebido como estranho mesmo do lado de fora. "Aqui, as detentas se sentem como hóspedes, elas o experimentam como um lugar de passagem antes de voltarem para suas casas e suas famílias", testemunha a capelão, "mas também há aquelas que têm de cumprir uma longa sentença, talvez anos e anos, de modo que esse lugar também deve ser percebido como um pouco seu, um lugar onde elas podem melhorar e se recuperar’.

'Com os meus olhos' e o olhar sobre a marginalidade

A exposição no Pavilhão da Santa Sé é dedicada aos direitos humanos e aos mundos marginalizados, às periferias onde vivem os últimos. “Para as mulheres presas, isso significou uma atenção extra à sua condição”, continua Pe. Antonio, “que é a de quem está passando por essa experiência de prisão porque caiu em um erro, mas também é a condição de quem é pobre, marginalizado por nascimento ou pelo contexto em que vive. Os olhos sobre a marginalização são, no entanto, um ato de bondade para com todas as pessoas marginalizadas, uma oportunidade de colocá-las no centro de um mundo que normalmente não quer vê-las”.

Além disso, as presidiárias, durante a longa fase de preparação do Pavilhão, puderam participar ativamente da realização das obras dos artistas, alguns dss quais se inspiraram em suas fotografias e poemas ou as envolveram em coreografias especiais. “Elas se deixaram envolver pela alegria”, acrescenta o capelão, “porque querem ser protagonistas de suas próprias vidas e, em breve, da sociedade que as espera lá fora”.

Simone Fattal: obras em lava esmaltada com desenhos e poesias das detentas
Simone Fattal: obras em lava esmaltada com desenhos e poesias das detentas

A arte na prisão, uma experiência imersiva

Levar a arte para a prisão é um ato revolucionário, que visa trazer beleza a um lugar tradicionalmente feio; além disso, permite uma experiência muito especial, pois para visitar, por exemplo, o Pavilhão da Santa Sé na Giudecca, é preciso deixar os celulares de lado, como em qualquer visita a uma instituição penal. “Se você deixar de lado a tecnologia e todas as superestruturas que a acompanham, como é preciso fazer aqui, você realmente se deixa levar pela obra à sua frente: essa é a maneira certa de estar diante da arte, na minha opinião”, diz o Pe. Biancotto.

A primeira vez de um Papa na Bienal

No domingo (28), Francisco estará em Veneza, na Bienal de Artes: uma visita sem precedentes desde a primeira participação da Santa Sé nesse evento, em 2013, graças ao trabalho do então presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi. “As detentas são gratas ao Papa por esta visita, que interpretam como uma gentileza para com elas por parte de um Pontífice que sempre se mostrou sensível ao mundo carcerário e com uma predileção pelos últimos”, conclui o capelão.

“Eles são muito atentos a estes gestos de humanidade e este em particular, do Papa vir visitá-las, faz com que se sintam parte desta humanidade por direito próprio. A esperança é que depois, talvez, as portas da prisão possam ser abertas para algumas delas também, pensemos no Jubileu do próximo ano, como já aconteceu com o Jubileu dos Presos em 2016, quando um indulto foi obtido após o pedido do Papa por um ato de clemência para com os detentos”.

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26 abril 2024, 11:12