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O cardeal Pietro Parolin na semana passada, na Suíça, para a Conferência de Paz pela Ucrânia O cardeal Pietro Parolin na semana passada, na Suíça, para a Conferência de Paz pela Ucrânia  (ANSA)

Parolin sobre ausência da Rússia na Conferência da Suíça: é uma limitação, a paz se faz juntos

O cardeal Pietro Parolin no Senado da Itália para o encontro "Colóquios para a Paz" comenta sobre a recente cúpula em Lucerna: "ouvi de muitos: não estamos em guerra com a Rússia, mas estamos aqui para buscar um caminho de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Gostei muito disso". Sobre o comércio de armas: "há muitos interesses econômicos, e é por isso que o apelo do Papa continua sem ser atendido".

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Volta satisfeito o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, da conferência realizada na semana passada em Buergenstock, Lucerna, na Suíça, com o objetivo de encontrar uma solução de paz para a Ucrânia. O cardeal representou a Santa Sé na cúpula, convidado como observador. Na tarde desta quarta-feira (19/06), no Palazzo Madama, sede do Senado na Itália, para o evento Colóquios para a Paz, organizado pela Associação "Avvocatura in Missione" com vários parlamentares italianos, o cardeal enfatizou aos jornalistas à margem da reunião que a conferência na Suíça foi "uma coisa útil", mas com "a limitação, observada por muitos dos palestrantes, de não ter a presença da Rússia. A paz é sempre feita em conjunto".

Uma paz justa e o princípio da fraternidade

"Ouvi - e gostei disso - de muitos: não estamos em guerra com a Rússia, mas estamos aqui para buscar um caminho de paz entre a Rússia e a Ucrânia", destacou o cardeal, reiterando a importância do adjetivo 'justo' combinado com a palavra paz: "Uma paz justa... ou seja, uma paz que se fundamente nos princípios do direito internacional e na estrita adesão à Carta da ONU." Junto com isso, para Parolin, deve haver "o princípio da fraternidade, um princípio metajurídico, mas que também encontra aplicações concretas nos sistemas jurídicos. Se não fizermos o esforço de nos sentirmos irmãos neste mundo, nunca conseguiremos superar os conflitos".

O cardeal Parolin no Senado da Itália
O cardeal Parolin no Senado da Itália

Falta de confiança

O "grande problema de hoje" para o qual, de acordo com o secretário de Estado do Vaticano, "os organismos internacionais funcionam pouco ou nada" é, na verdade, "a absoluta falta de confiança mútua": "não confiamos mais uns nos outros e é por isso que os arsenais de armas convencionais, mas também de armas atômicas, estão aumentando. Todos querem ter certeza de que estão se protegendo diante do outro, que não é mais confiável ou capaz de ter relacionamentos baseados na paz e no respeito".

Interesses econômicos por trás do comércio de armas

Por trás das armas, então, "há grandes interesses econômicos em jogo", afirma claramente o cardeal, ecoando as palavras do Papa Francisco. Justamente aquelas palavras diante das quais governos e partidos políticos parecem surdos: quando são os critérios de mercado que guiam grupos e governos, "é lógico que o Papa pode, com razão, pedir que se pare com a proliferação de armas, mas certamente esse apelo não será ouvido", comenta o cardeal. "No entanto, o Papa é corajoso porque continua insistindo. É um tema sobre o qual ele bate e rebate e esperamos que, pouco a pouco, consiga abrir uma brecha".

Parolin em encontro com os jornalistas
Parolin em encontro com os jornalistas

Envio de armas para a Ucrânia

Questionado sobre o debate entre as forças políticas na Itália sobre o envio de armas para a Ucrânia, o secretário de Estado enfatizou que "a única maneira de resolver esse problema é nos reunirmos e começarmos a conversar sem condições, e então também poderemos parar de enviar armas". Primeiro, porém, há uma medida a ser tomada, que "é conseguir iniciar as negociações entre os dois lados (Rússia e Ucrânia), mesmo que de forma muito discreta e confidencial. Que os dois lados comecem a conversar entre si". Portanto, sim, até mesmo a presença do presidente russo Vladimir Putin em uma hipotética mesa de diálogo é contemplada: "é claro! A paz é feita em dois, caso contrário, se não houver um, não há paz".

Autonomia diferenciada a ser implementada sem criar desequilíbrios

Não faltou na conversa com os jornalistas uma referência à autonomia diferenciada, que agora é lei na Itália. O cardeal - que já falou sobre o assunto no passado - não entrou no debate: "não temos que nos pronunciar sobre essas questões, elas são italianas, não temos competência específica para intervir". O que ele faz questão de ressaltar, no entanto, é que "tudo o que ajuda a aumentar a solidariedade é bom". A esperança, portanto, é que "a autonomia diferenciada seja implementada de forma a não criar mais desequilíbrios, mais diferenciações, mais desigualdades entre uma parte da Itália e outra".

Viagem ao Líbano

Por fim, Parolin confirmou sua viagem ao Líbano, que, conforme antecipado pela mídia libanesa, deverá ocorrer no final de junho. Não se trata de uma visita diplomática, nem de uma missão de paz na Terra Santa, também à luz das recentes tensões com Israel que parecem estar mudando o eixo do conflito no Oriente Médio. "Há algum tempo fui convidado pela Ordem de Malta local para visitar suas obras, que são de grande impacto social em uma situação de crise total. A crise libanesa é uma crise a 360° e certamente ali também tentaremos trabalhar um pouco, como sempre fez a diplomacia da Santa Sé, para ajudar a encontrar uma solução institucional".  

A intervenção de Parolin nos "Colóquios para a Paz"
A intervenção de Parolin nos "Colóquios para a Paz"

A esperança de frutos de paz

Um tema, o da viagem ao Líbano, também abordado por Parolin em sua conversa logo depois com os repórteres do lado de fora de San Salvatore in Lauro, a poucos passos do Senado, onde no final da noite ele participou de um evento com o cardeal Matteo Zuppi e representantes do governo. "Qualquer situação em que exista o perigo de que os conflitos se ampliem, se aprofundem e se deteriorem não pode deixar de produzir grande inquietação", disse Parolin em referência às ameaças de uma ofensiva israelense na Terra dos Cedros. "A visita foi planejada, não está relacionada à situação política, mas terá uma dimensão diplomática", acrescentou, expressando a esperança de que a "semana intensa" que acaba de ser vivida, com o Papa pela primeira vez no G7 e o secretário de Estado na Conferência de Paz na Suíça, "deixará algo... Que a semeadura que foi feita dê frutos". 

O discurso no Senado

Em seu discurso nos Colóquios para a Paz na Sala Koch, do Palazzo Madama, Parolin fez um apelo a todos os cristãos: "neste tempo marcado pela guerra, é urgente que eles levem a sério a causa da paz". "Nos céus de muitas nações, as nuvens negras das guerras se adensaram, impedindo que os povos vivam em harmonia", apontou o cardeal, "estamos testemunhando a proliferação de novas trincheiras em nosso mundo e a tendência a se entrincheirar em posições ideológicas"; portanto, é necessário um compromisso para "sensibilizar aqueles que administram a justiça e a política a trabalhar de forma coerente, inspirados pelo Evangelho e pelos princípios éticos".

Devemos começar nas escolas, insistiu o secretário de Estado, para treinar os jovens "em uma cultura de inclusão, evitando ceder à tentação da lógica da rejeição e aos preconceitos e estereótipos que alimentam a hostilidade". "Nosso destino", continuou ele, "não é a morte, mas a vida, não o ódio, mas a fraternidade, não o conflito, mas a harmonia". Que a paz - foi o desejo final de Parolin - "seja a estrela que ilumina e guia o destino de toda a terra. Que as armas que ofendem a Deus e ferem a dignidade humana caiam de nossas mãos".

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20 junho 2024, 08:00