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Mensagem Pascal e Benção Urbi er Obri (04/04/2021) Mensagem Pascal e Benção Urbi er Obri (04/04/2021)  (Vatican Media)

Domingo: o Dia do Sol e da luz verdadeira

"Dia de luz, o domingo poderia chamar-se também, com referência ao Espírito Santo, dia do «fogo». A luz de Cristo, de fato, liga-se intimamente con o « fogo » do Espírito, e ambas as imagens indicam o sentido do domingo cristão." (Papa João Paulo II na Carta Apóstolica Dies Domini)

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou a palestra até a meia-noite. (Atos 20, 7)”

O preceito do domingo não é uma invenção arbitrária da igreja, mas exprime apenas de forma jurídica o que para a Igreja está presente desde o início, a partir dos apóstolos, como realidade de fato, no seu dar resposta ao acontecimento do primeiro dia. O fundamento autêntico e primário da celebração do domingo reside no fato de que neste dia Cristo ressuscitou dos mortos. "A celebração do domingo é, portanto, sobretudo uma profissão de fé na ressurreição. É uma profissão de fé que Jesus vive." [1]

Depois de "O sábado e o Domingo na visão de Ratzinger", Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Domingo: O Dia do Sol e da luz verdadeira":

 

"São João Paulo II, na Carta Apóstolica Dies Domini, que fala sobre a santificação do Domingo, aprofunda o dia sagrado do cristão com a criação, o primeiro dia em que Deus fez a luz. O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações.

Os aprofundamentos teológicos fizeram a conexão entre criação e Ressurreição. Lemos assim nessa carta apostólica de João Paulo II: “Era, com efeito, natural para a reflexão Cristã relacionar a Ressurreição e a criação, acontecida no primeiro dia da semana, com o primeiro dia daquela semana cósmica (Gn1,1-2,4) em que o livro do Gênesis divide o evento da criação: o dia da criação da Luz (1,1s). O relacionamento feito convidava a ver a ressurreição início de uma nova criação, da qual Cristo glorioso constitui as primícias, sendo Ele o ‘primogênito de toda a criação’ (Cl 1,15) e também o ‘primogênito dos que ressuscitam dos mortos’ (Cl 1,18). O domingo, com efeito, é o dia em que, mais do que qualquer outro, o Cristão é chamado a lembrar a salvação que foi oferecida no batismo e que o tornou homem novo em Cristo. "Sepultados com Ele no batismo, foi também com ele que ressuscitasse pela fé no Poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos”(Cl 2,12) (Dies Domini,24-25).

O Papa João Paulo II também referenda os Santos Padres e disse que o primeiro dia é também o oitavo dia, ou seja, situado, relativamente a sucessão Septenária dos dias, numa posição única e transcendente evocadora do início do tempo, mas também do seu fim no século futuro. São Basílio, mencionado pelo Papa, explica que o domingo significa o dia realmente único que virá após o tempo atual, o dia sem fim, que não conhecerá tarde nem manhã, o século imorredouro que não poderá envelhecer; o domingo é o prenúncio incessante da vida sem fim, que reanima a esperança dos cristãos no seu caminho. Santo Agostinho diz que a celebração do domingo, dia simultaneamente primeiro e oitavo, orienta o cristão para a meta da Vida Eterna[2].

Um dos textos mais belos sobre a Eucaristia dos primeiros séculos que temos a disposição no Catecismo da Igreja Católica é o de São Justino, que faz uma apologia, uma defesa dos cristãos para o imperador pagão Antonino Pio (138-161), acusados de fazerem reuniões estranhas. O Catecismo, a partir dos números 1345, apresenta uma explicação mais detalhada dos aspectos próprios dessa liturgia dos primórdios, do século II. Nessa apologética de São Justino fala que “no dia 'do Sol' (o domingo), como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Fala assim, a respeito, o CIC, no n.1348: “Todos se reúnem. Os cristãos acorrem a um mesmo lugar para a Assembleia Eucarística, encabeçados pelo próprio Cristo, que é o ator principal da Eucaristia”.

O Papa São João Paulo II comenta esta Apologia e diz assim: “De fato, uma perspicaz intuição Pastoral sugeriu à Igreja para cristianizar, aplicando ao domingo, a conotação de "dia do Sol”, expressão esta com que os Romanos denominavam esse dia e que ainda aparecem em algumas línguas contemporâneas, subtraindo os fiéis às seduções de cultos que divinizavam o sol e orientando a celebração deste dia para Cristo, verdadeiro ‘sol’ da humanidade. São Justino, escrevendo aos pagãos, usa a terminologia corrente para dizer que os cristãos faziam a sua reunião no ‘chamado dia do Sol’, mas a alusão a essa expressão assume, já então, para os crentes um novo sentido perfeitamente evangélico. Cristo é realmente a luz do mundo (cf. Jo 9, 5) e o dia comemorativo de sua ressurreição é o reflexo perene, no ritmo semanal do tempo, desta epifania de sua glória. O tema do domingo, como dia iluminado pelo Triunfo de Cristo ressuscitado, está presente na Liturgia das Horas, e possui uma ênfase espiritual na vigília noturna, que liturgias orientais prepara e introduz o domingo. Reúnem-se, nesse dia, a Igreja, de geração em geração, torna própria a admiração de Zacarias, quando dirige o olhar para Cristo como "o Sol Nascente para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte”(Lc 1,78-79) e vibra em sintonia com a alegria experimentada por Simeão, quando tomou em seus braços o menino, enviado como ‘Luz para Iluminar as nações’(Lc 2,32)”(Dies Domini,27).

Tal como Joseph Ratzinger, em Obras Completas (Volume XI) - a Teologia da Liturgia, aponta que “poder-se-ia inclusive dizer que a imagem da semana como período de 7 dias tenha sido escolhida para tal narrativa exatamente em função do Sábado, desembocando no sinal da Aliança constituído pelo sábado, a narrativa da criação torna evidente que criação e Aliança, desde o princípio, estão juntas; que o criador e o Redentor não possam ser senão o único e o mesmo Deus”. E João Paulo II, em Dies Domini, ainda conclui: “o ‘Dia da Luz’, o domingo, poderia chamar-se também, com referência ao Espírito Santo, o ‘dia do Fogo’. A luz de Cristo, com efeito, liga-se intimamente com o ‘fogo’ do Espírito, e ambas as imagens indicam o sentido do Domingo Cristão. (...). A Páscoa da semana torna-se assim de certa forma Pentecostes da semana, no qual os cristãos revivem a experiência feliz do encontro dos Apóstolos com o Ressuscitado, deixando-se vivificar pelo sopro do seu Espírito”(Dies Domini,28)."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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 [1] Joseph Ratzinger, Chi ci aiuta a vivere? Su Dio e l’uomo, Queriniana, Brescia 2006, parte 4. - Celebrare la fede, § 11. Che cosa celebriamo la domenica?, pp. 130-138.
[2] JOÃO PAULO II, Dies Domini, 26.

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19 agosto 2024, 09:05