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Dom Paul Richard Gallagher em imagem de arquivo durante uma conferência da AIEA Dom Paul Richard Gallagher em imagem de arquivo durante uma conferência da AIEA 

Santa Sé na Agência de Energia Atômica: não às armas atômicas, sim ao nuclear pelo bem comum

O secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher, fez uma intervenção no primeiro dia da 68ª sessão da Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), que está sendo realizada em Viena até a próxima sexta-feira (20/09). O arcebispo argumentou sobre o compromisso pela não proliferação nuclear e a segurança das usinas de energia, como aquelas ameaçadas pelo conflito na Ucrânia.
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Alessandro Di Bussolo - Vatican News

A Santa Sé “reconhece o papel fundamental da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) na busca de um mundo livre de armas nucleares”, o que “é possível e necessário”, como afirma o Papa Francisco, e reitera o “firme apoio às muitas contribuições da Aiea ao regime de não proliferação nuclear, bem como ao uso seguro, protegido e pacífico das tecnologias nucleares. É essencial que essas tecnologias sejam sempre abordadas a partir de uma perspectiva que sirva ao bem comum da humanidade e ao desenvolvimento integral de cada pessoa”. Foi o que disse o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para Relações com Estados e as Organizações Internacionais, em discurso no primeiro dia da 68ª Sessão da Conferência Geral da Aiea, que está sendo realizada de 16 a 20 de setembro em Viena, na Áustria.

Não atacar perto das usinas de Zaporizhzhya e Kursk

Entre as contribuições da Agência para o avanço da segurança nuclear, a Santa Sé, enfatiza o prelado, apoia particularmente os esforços “para garantir a segurança e a proteção na usina nuclear de Zaporizhzhya” e para evitar o que o Papa descreveu como um “desastre nuclear”. As atividades militares, ligadas à guerra na Ucrânia, “relatadas nas proximidades de Zaporizhzhya e nas usinas nucleares de Kursk” para a Santa Sé “são profundamente preocupantes”. O arcebispo britânico elogia o diretor geral da Aiea, Rafael Mariano Grossi, e seus inspetores “pela coragem e profissionalismo em manter uma presença contínua no local em Zaporizhzhya e fornecer relatórios imparciais e objetivos sobre a situação”. E a Santa Sé “exorta as partes em conflito a se absterem de atacar esses lugares, cujas consequências poderiam ser devastadoras para toda a humanidade”.

Aiea e o diálogo nuclear entre Irã e Coreia do Norte

A Santa Sé também acolhe positivamente os esforços contínuos da Aiea para lidar com o Irã em relação ao seu programa nuclear, lamentando que Teerã “tenha parado de implementar seus compromissos nucleares sob o Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA) há vários anos”. Em discurso ao Corpo Diplomático em janeiro deste ano, lembra Gallagher, Francisco expressou esperança na retomada das negociações para restabelecer o JCPOA “para garantir um futuro mais seguro para todos”.

Negociações que a Santa Sé também espera que sejam revitalizadas sobre o programa nuclear da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), “que, com sua produção contínua de armas nucleares e testes de mísseis, representa uma séria ameaça à integridade do regime de não proliferação”. Também por esse motivo, destaca o secretário de Relações com os Estados, as garantias da Aiea representam “uma contribuição essencial para promover a paz e a segurança e ajudar a construir um clima de confiança e não de repreensão recíproca”.

Os trabalhos da conferência em Viena, na Áustria
Os trabalhos da conferência em Viena, na Áustria

Tecnologia nuclear pacífica para países em desenvolvimento

O representante vaticano enfatiza o papel da Aiea na implementação do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, assinado e ratificado pela Santa Sé, “com o objetivo de evitar a proliferação de armas nucleares e facilitar a disseminação dos benefícios da ciência e tecnologia nuclear pacífica disponível para os países em desenvolvimento”. Com essas tecnologias, lembra, é possível “aumentar a produção de alimentos, gerar mais eletricidade, gerenciar recursos hídricos, monitorar o meio ambiente e controlar a poluição, além de se preparar para pandemias”.

A Santa Sé também reconhece os esforços da Aiea “para facilitar o fornecimento de radioterapia e medicina nuclear disponíveis para pacientes com câncer” nos mesmos países que estão “se tornando cada vez mais cruciais” para a disseminação dramática dessa doença. A iniciativa Raios de Esperança representa apenas uma das muitas maneiras “pelas quais a Agência contribui para a saúde e o bem-estar das populações globais”.

O Papa e o objetivo de eliminar as armas nucleares

Em declaração, dom Gallagher baseia o apoio da Santa Sé aos esforços da Aiea no magistério do Papa Francisco, para quem, escreve ele na encíclica Fratelli tutti, “o objetivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se tanto um desafio quanto um imperativo moral e humanitário”. De acordo com o apelo da Santa Sé para “um compromisso coletivo e conjunto com a promoção de uma cultura de cuidado que priorize a dignidade humana e o bem comum”.

O secretário para Relações com Estados e as Organizações Internacionais também cita a mensagem do Papa ao Conselho de Segurança da ONU em junho de 2023, na qual ele pede um “não” decisivo à guerra e afirma “que a guerra não pode ser justificada, mas somente a paz é justa: uma paz estável e duradoura, construída não em um equilíbrio precário de dissuasão, mas na fraternidade que nos une”. Em um mundo no qual “uma corrida armamentista acelerada, alimentada por guerras crescentes, está substituindo os esforços de desarmamento”, Francisco denunciou, em discurso ao Corpo Diplomático em janeiro de 2022, que “o uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, assim como a posse de armas nucleares é imoral”.

Missa dominical em Viena e a cultura do cuidado

Sobre a possibilidade de construir um mundo melhor, fundado em uma “cultura do cuidado” que supere e substitua “a lógica da cultura do descarte”, como o Pontífice costuma dizer, dom Gallagher também focou sua homilia na missa que presidiu no domingo, 15 de setembro, na véspera da Conferência Geral da Aiea, na Igreja de Maria am Gestade. Um mundo, disse ele, “no qual a lógica do poder, da dominação e da exploração seja superada por uma abordagem verdadeiramente humana, enraizada no respeito mútuo, na solidariedade e nos valores universais, como a verdade, o perdão, a compaixão e a boa fé entre as nações”. Dirigindo-se a todos os membros da delegação e a dom Ricard Gyhra, que está iniciando nova função como Representante Permanente da Santa Sé junto às Organizações Internacionais em Viena nestes dias, o arcebispo britânico expressou esperança de que “como membros da única família humana, trabalharemos incansavelmente para alcançar este nobre objetivo, especialmente ao iniciarmos o importante trabalho desta 68ª Conferência Geral”.

A diplomacia do Vaticano e o objetivo de um mundo melhor

Como cristãos, continuou ele, baseamos nossa esperança de um mundo melhor em Jesus Cristo, que “não é um líder mundano triunfante”, mas “um servo sofredor”, como Isaías o retrata na primeira leitura da liturgia de domingo. Jesus, esclareceu ele, “aquele que venceu a morte e restaurou a vida, traz justiça e paz ao tomar sobre si os pecados e as disfunções do mundo inteiro”.

Em conexão com a atividade diplomática, Gallagher lembrou que “não somos os salvadores do mundo. No entanto, somos chamados a suportar o trabalho árduo de negociações longas e muitas vezes frustrantes e a encontrar compromissos em questões políticas e diplomáticas desafiadoras”.  Em um esforço muito oculto, com poucos frutos visíveis, especialmente em uma época em que as armas e o poderio militar são preferidos à diplomacia, foi seu convite: “devemos nos comprometer a usar as ferramentas do diálogo, da paciência, da convicção e da perseverança para alcançar o objetivo que todos desejamos: a coexistência pacífica da família humana e o desenvolvimento integral de cada pessoa”. Que Cristo, o Príncipe da Paz, concluiu o arcebispo no início da Conferência da Aiea, “nos ajude a trabalhar juntos, além de nossos limites naturais, para o bem mútuo e comum e para toda a humanidade”.

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18 setembro 2024, 08:38