Fernández: trabalhamos para dar mais espaço e poder às mulheres
Andrea Tornielli
Uma hora e meia de diálogo livre, fraterno e franco. Uma reunião que se seguiu à iniciativa do prefeito na semana anterior, quando a presença de dois funcionários do Dicastério para a Doutrina da Fé causou certa insatisfação devido à sua ausência, embora tivesse sido previamente anunciada devido a compromissos anteriores. Na tarde desta quinta-feira (24/10), o cardeal Víctor Manuel Fernández participou de uma reunião com cerca de cem participantes do Sínodo (membros, convidados e especialistas) para ouvir suas perguntas, receber propostas e fazer um balanço do trabalho do “Grupo 5”, que no antigo Santo Ofício está trabalhando na questão dos possíveis ministérios para as mulheres. O cardeal, de acordo com a Secretaria do Sínodo e com os participantes da reunião moderada pelo prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, decidiu - excepcionalmente em respeito às regras do Sínodo - tornar público o áudio completo, que é, portanto, disponibilizado aqui para todos através da mídia vaticana, depois que a proposta de publicá-lo foi acolhida por aplausos dos participantes.
O trabalho do Dicastério
Na primeira parte, Fernández explicou como todo o seu Dicastério - ao qual essa tarefa foi especificamente confiada antes mesmo do Sínodo - está empenhado em aprofundar o tema do papel das mulheres e explorar novas possibilidades para os ministérios dedicados a elas. Em seguida, contou como trabalham, começando com a Consulta, ou seja, ouvindo as propostas do grande grupo de consultores e de consultoras, um grupo que, neste caso, foi ampliado pedindo opiniões e ouvindo experiências muito além dos consultores oficiais do Dicastério. Já foram realizadas duas assembleias ordinárias dos cardeais e bispos membros do Dicastério (Feria quarta, porque é tradicionalmente realizada às quartas-feiras), e o trabalho é coordenado pelo secretário da Seção doutrinal, monsenhor Armando Matteo.
Experiências já em andamento
Fernández ressaltou que a forma de trabalho é sinodal e que a presença de bispos e cardeais do mundo inteiro significa que o trabalho da Feria quarta leva em conta diferentes sensibilidades e culturas. Ele também acrescentou que foi solicitado aos membros do Sínodo que enviassem contribuições e propostas, além de levar em conta as experiências já em andamento que veem mulheres à frente de comunidades, por exemplo, na Amazônia, mas também na África e na Ásia. É justamente para enfatizar a importância de partir da realidade, ou seja, de conhecer e valorizar as experiências já em andamento que talvez sejam desconhecidas ou pouco conhecidas pela teologia europeia. Portanto, cartas de consulta ainda serão enviadas a outras pessoas e instituições.
Reconhecer um papel
O assunto fundamental do grupo, explicou o cardeal, é o papel das mulheres na Igreja, não especificamente a possibilidade do diaconato feminino, no qual a comissão presidida pelo cardeal Giuseppe Petrocchi ainda está trabalhando. Fernández disse que as mulheres querem ser ouvidas e valorizadas: elas pedem para ter autoridade e desenvolver seus carismas e habilidades, mas a maioria delas não pede o diaconato, ou seja, não pede para ser “clericalizada”. É por isso que o trabalho do Dicastério deve prosseguir, nesse meio tempo, com passos “muito concretos” nesse caminho. Fundamental, nesse sentido, é aprofundar as diferenças entre ordem sagrada e potestade, de modo a poder confiar aos leigos e, portanto, também às mulheres, papéis de liderança na Igreja: um caminho sobre o qual é possível obter um consenso significativo. O prefeito perguntou: se for constatado que no passado as mulheres pregavam durante a celebração da Eucaristia ou exerciam um poder sem serem ordenadas diáconas, isso vale menos?
Diaconato, o estudo continua
Fernández prosseguiu afirmando que, sobre a questão específica do diaconato, a comissão liderada pelo cardeal Petrocchi retomará seu trabalho com mais vigor, ouvindo as propostas da assembleia sinodal e as outras do mundo inteiro: propostas e subsídios podem ser enviados através da Secretaria do Sínodo. E, a propósito, recordando seu pronunciamento na sala sinodal, durante o qual resumiu a posição do Papa sobre a questão, o cardeal enfatizou: afirmar que uma decisão sobre o diaconato “não está madura” não significa que Francisco queira encerrar a questão, mas sim continuar a estudar, uma vez que as conclusões do trabalho da comissão não são unívocas e há historiadores segundo os quais no passado houve casos de mulheres ordenadas diaconisas, outros historiadores segundo os quais, em vez disso, foi uma bênção e não uma verdadeira ordenação.
Passos concretos
O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé concluiu dizendo que está convencido de que podemos avançar com passos claros e concretos que empoderem as mulheres na Igreja, começando por distinguir o que é inseparável das ordens sagradas e o que não é. E assegurou ter um coração aberto “para ver aonde o Espírito Santo nos conduz”.
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