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O funeral de José Carlos celebrado pelos cardeais Krajewski e Steiner O funeral de José Carlos celebrado pelos cardeais Krajewski e Steiner 

Adeus ao sem-teto brasileiro José Carlos. Krajewski e Steiner celebram o funeral

Os dois cardeais presidiram nesta terça-feira, 15 de outubro, na capela da Igreja de Santa Mônica o funeral do brasileiro sem-teto que a Esmolaria ajudava diariamente. Ele faleceu em agosto devido a uma doença e por motivos burocráticos será enterrado depois de dois meses no Cemitério Flaminio - Prima Porta. Aspirante a poeta, ele só pedia cadernos aos voluntários.

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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O brasileiro José Carlos de Sousa sem-teto dormia há anos na rua, próximo à colunata de São Pedro. Passava dias e noites no sol e no frio. Ele faleceu de uma doença no fígado. Há muito tempo ele tinha perdido o interesse por comida e roupas. Pedia apenas cadernos aos voluntários que levavam a ele as refeições. Folhas de papel brancas e limpas para escrever os poemas que lhe vinham à mente enquanto observava as idas e vindas de turistas, peregrinos e fiéis que passavam pela Praça São Pedro, “coração da cristandade”, todos os dias, que talvez o “julgassem” ao vê-lo naquelas condições, mas aos quais indicava o caminho para a Basílica. “Como um anjo que indica o caminho”, disse o esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski, ao celebrar o funeral do brasileiro de 61 anos na Igreja de Santa Mônica na manhã desta terça-feira, 15 de outubro. Também concelebrou com ele o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, que fez uma pausa nos trabalhos do Sínodo sobre a Sinodalidade assim que soube da notícia.

Cardeais Krajewski e Steiner no funeral na Igreja de Santa Mônica
Cardeais Krajewski e Steiner no funeral na Igreja de Santa Mônica

Dois cardeais, religiosas, voluntários e amigos sem-teto no funeral

Dois cardeais deram o último adeus a uma das muitas pessoas pobres da área de São Pedro. José Carlos morreu em agosto no hospital São Carlos, em Roma. A cirrose hepática o deixou tão doente que ele não conseguia nem se mover: “Nós o acompanhamos ao ambulatório sob a colunata, mas seus dias estavam contados”, lembrou o padre Roberto Cherubini, sacerdote da Comunidade de Santo Egídio. Devido à burocracia habitual, somente depois de dois meses foi possível enterrá-lo. Ele foi enterrado nesta terça-feira no cemitério romano de Prima Porta.

Um momento das exéquias
Um momento das exéquias
Dom Leonardo Steiner falou sobre o funeral no briefing sobre o Sínodo. Clique para ouvir!]

Esta manhã, na igreja situada a poucos metros de São Pedro, que leva o nome da mãe de Santo Agostinho, havia cerca de trinta pessoas, incluindo voluntários da Comunidade de Santo Egídio e Unitalsi, as Missionárias da Caridade e a congregação coreana das Irmãs Kkottongnae de Jesus, alguns jovens que acompanharam a liturgia com cantos de violão em italiano e português e os companheiros de rua de José. “Irmãs, amigos e voluntários”, como estava escrito na fita roxa que prendia a coroa de flores vermelhas e amarelas colocada sobre o caixão de mogno.

Cardeal Steiner incensando o caixão
Cardeal Steiner incensando o caixão

"Um bom coração"

Sentada nas primeiras filas estava irmã Elaine Lombardi, religiosa das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret, talvez a que conheceu José Carlos mais de perto. Talvez pela origem comum, talvez porque a religiosa como ela diz, ficou impressionada com este senhor “que não tinha exigência”. "Sempre quis fazer um pouco mais. Você sabe, ele era brasileiro como eu. Mas ele me dizia: “Irmã, eu não preciso de nada. Dê aos outros. Traga-me cadernos." Ele era um poeta, um coração bom. Chegou a Roma com o sonho de ir daqui a Jerusalém. Bem, hoje ele conseguiu. Foi para a Jerusalém celeste", disse a religiosa.

Uma irmã arruma a coroa de flores
Uma irmã arruma a coroa de flores

Homilia de Krajewski

"José morreu, portanto, vive", disse o cardeal Krajewski em sua homilia focada na importância de ter "um coração limpo". "Não são as roupas, os trajes que importam, mas sim o coração. Quando está limpo, todas as coisas que você vê são limpas. O coração se torna nossos olhos para o mundo."

"O nosso José sabe de tudo isto. Ele não precisa mais se confessar, não espera pelo fruto do Sínodo, por algum livro para melhorar a vida cristã". "Ele sabe tudo" porque agora, disse o cardeal, está perto de Deus que "é misericordioso, que não se cansa dos nossos pecados, que sempre nos acolhe e sempre nos perdoa". Recordando a vida do sem-teto entre os mármores de Bernini, o esmoleiro disse: "Talvez, quando estava sob a colunata, tenha sido julgado pelos fiéis, pelos peregrinos, pelos turistas. Digamos que não se apresentava de forma esplêndida. Mas Jesus nos diz que isso não é tudo para o homem, o tudo é o coração".

O caixão de José Carlos de Sousa
O caixão de José Carlos de Sousa

O obrigado aos "anjos da caridade"

Krajewski agradeceu aos voluntários que compareceram ao funeral: "Eles o conheciam porque levavam a ele comida, muitos o levavam ao ambulatório. Sabemos o quanto ele estava doente… Esses anjos representavam a fé através da caridade. Ao ajudá-lo, vocês ajudaram o próprio Jesus, que tem o rosto de todos aqueles que estão sob a colunata". Aqueles homens e mulheres de diferentes nacionalidades, línguas, costumes, que junto com José Carlos, "quando chegar a nossa hora de encontrar Jesus, talvez nos ajudarão a abrir um pouco a porta do Paraíso", concluiu o cardeal Krajewski.

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15 outubro 2024, 14:27