O lugar de oração para o encontro com Deus
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"O lado aberto de Jesus na cruz é o lugar por excelência da oração, a ponte entre o céu e a terra, a porta aberta ao abraço. É um lugar místico, onde místico não significa etéreo ou inacessível, mas íntimo e atraente para todos aqueles que sabem voltar a ser pequenos como crianças". Partimos dessas palavras do cardeal italiano Angelo De Donatis para introduzir a reflexão do Pe. Gerson Schmit* intitulada "O lugar de oração para o encontro com Deus".
"Lembrando o que Jesus disse a mulher samaritana no poço de Jacó, o Catecismo da Igreja Católica, no n. 2560, aponta assim: "Se conhecesses o dom de Deus!" (Jo 4,10). A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos poços aonde vamos procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de todo ser humano, é o primeiro a nos procurar, e é Ele que pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido vem das profundezas do Deus que nos deseja. A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele”. Deus tem sede de nossa sede dele é uma frase de Santo Agostinho. O mesmo santo, sedento de Deus e da Verdade, acrescenta: “o esfriamento do amor é o silêncio do coração, o ardor do amor é o grito da oração”. Num de seus mais belos escritos, no seu livro das Confissões, Santo Agostinho declara: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz”. O doutor da Igreja aqui revela que procurou Deus nas criaturas, nas obras criadas por Deus, mas finalmente encontrou-o dentro dele mesmo, no seu santuário interior, no mais recôndito de seu ser, no âmago de seu íntimo mais profundo e sublime, onde Deus está, se encontra e nos espera. Agostinho procurava fora o que estava dentro dele mesmo.
Nem sempre encontramos Deus porque O procuramos em cisternas vazias, que não retêm água, em poços de águas poluídas. Buscamos Deus onde Ele não se encontra, onde Ele não se deixa encontrar. Nos cadernos sobre a Oração que preparam o Jubileu, o de n. 5 é de autoria de Antonio Pitta, biblista que leciona na Pontifícia Lateranense, subsídio que tem como título “As parábolas da Oração”. O biblista aponta, nesse caderno, um título sobre “Os lugares de oração”. E diz assim: “Além do templo de Jerusalém, as sinagogas espalhadas nas aldeias da Palestina favoreciam à vivência da oração. Não foi por acaso que Lucas escolheu a sinagoga de Nazaré para narrar o início da vida pública de Jesus (Lc 4,16-30). A sinagoga era lugar de oração e de aprofundamento da Sagrada Escritura. Com a destruição do segundo templo (70 d.C), as sinagogas passam a constituir os únicos lugares para se rezar em Assembleia. Sem diminuir a função do templo e da sinagoga, Lucas registra que Jesus rezava em todos os lugares: no deserto, por ocasião das tentações (Lc 4,1) ou em lugares desertos (Lc 5,16;9,18). Todavia, para rezar preferia a montanha, como antes de escolher os discípulos (Lc 6,12) e por ocasião da Transfiguração (Lc 9,28). O lugar que mais amava era o “monte das Oliveiras” (Lc 22,39), pouco distante das muralhas de Jerusalém, do outro lado do Vale do Cedron. Sobre aquele monte Jesus suou gotas de sangue e, daquele lugar (Lc 24,50-53), foi elevado ao céu, na Ascensão (At 1,12). A preferência pelo Monte se deve a uma das particularidades da oração: a ascese ou a propensão para o alto. Quando é autêntica, a oração favorece um estado de levitação (não de leveza), com o qual se é levado para o alto. Tal estado não vale somente para situações excepcionais de êxtase ou de arrebatamento, mas para qualquer experiência de oração. O céu evoca o lugar do encontro para quem sobe um monte a fim de rezar”[1] .
Jesus aponta à mulher samaritana que haverá um tempo que nem no monte Garizim, nem no monte de Jerusalém se adorará o Senhor, mas que a verdadeira adoração se dará em espirito e em verdade, ou seja, no templo interior do coração, onde o Espírito Santo nos impele a uma oração autêntica. Mas o Catecismo da Igreja Católica, em relação ao lugar de oração, descreve assim no n. 2691: “A Igreja, casa de Deus, é o lugar próprio para a oração litúrgica da comunidade paroquial. E também o lugar privilegiado da adoração da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. A escolha de um lugar favorável é importante para a verdadeira oração: - para a oração pessoal, pode ser um "recanto de oração", com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas, para aí estar "no segredo" diante do Pai. Numa família cristã, essa espécie de peque no oratório favorece a oração em comum; - nas regiões onde existem mosteiros, a vocação dessas comunidades é favorecer a partilha da Oração das Horas com os fiéis e permitir a solidão necessária a uma oração pessoal mais intensa; - as peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas da oração cristã”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] PITTA, Antonio. Jubileu 2025. As parábolas da Oração, Cadernos sobre a Oração, Ed. CNBB, 2024, p.18.
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