Card. Parolin: Papa em Ajácio pedirá oração, justiça e responsabilidade
Massimiliano Menichetti
Preparativos finais em Ajácio, que recebe neste domingo (15) o Sucessor de Pedro, o primeiro Papa a visitar a ilha francesa no centro do Mediterrâneo. O bispo da cidade corsa, cardeal François Bustillo, sublinhou que a presença de Francisco “não é um privilégio, mas uma responsabilidade”. Será uma visita curta, de cerca de doze horas, mas muito intensa e caracterizada pela beleza e vivacidade da religiosidade popular, pelos temas do encontro, da acolhida e do cuidado com a criação.
Perguntamos ao Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, que acompanha o Santo Padre nessa viagem, como a comunidade local pode traduzir o que ele chama de “responsabilidade” em ações concretas para o futuro, tanto em nível espiritual quanto social...
Essa viagem do Santo Padre acontece no coração do Advento e na iminência da abertura do Ano Santo de 2025 podemos, portanto, inscrevê-la na recomendação de São Paulo a Tito de “... viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo... É isso que você deve ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade” (2,12-15). O Papa, com sua presença em Ajaccio, pretende recordar precisamente esse chamado e essa responsabilidade, que a Igreja local - bispo, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas e todas as pessoas envolvidas em diferentes níveis da vida da Igreja - encontrará uma maneira de traduzir em gestos e ações concretas. Parece-me que as escolhas práticas devem ser inspiradas precisamente por aquelas três atitudes básicas lembradas por São Paulo, características da vida e do testemunho do cristão no mundo: comportar-se com sobriedade, justiça e piedade. Em outras palavras, a responsabilidade deve significar conversão pessoal e comunitária, voltando a direcionar nosso espírito para o Senhor que vem, para realizar o “milagre” de uma nova vida, uma nova sociedade e um novo mundo.
Eminência, o Papa encerrará a conferência sobre religiosidade popular no Mediterrâneo, que contará com a presença de bispos de diferentes nações. É uma oportunidade única para o diálogo e a unidade. Que frutos o senhor espera desse encontro que vê uma fé enraizada nas tradições e aberta à evangelização?
Sabemos como o diálogo é importante para o Papa Francisco, “a cultura do encontro”, em busca de maior unidade e harmonia entre comunidades, igrejas, crentes, países e nações... tudo pelo que o Senhor Jesus ofereceu sua vida: “para que sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste e que os amaste como igualmente me amaste”. (Jo 17, 23). E como a piedade popular é importante para ele! É sobre essas duas coordenadas centrais que a Conferência está se realizando e é sobre esses dois pontos que ela se propõe a dar frutos. “Permitam-me recordar - sobre a piedade popular - o que o Santo Padre escreve no capítulo sobre o anúncio do Evangelho na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (nn. 122-126). Ele nos diz que a piedade popular é uma força evangelizadora, esconde uma fé profunda que se expressa mais simbolicamente do que racionalmente, mas nem por isso sem um conteúdo teológico”. Na realidade, o Papa Francisco nos convida a ver na mãe que reza o terço pelo filho doente, nas procissões e peregrinações, na oração espontânea aos santos ou ao crucifixo, na devoção a Nossa Senhora em um santuário... pequenos-grandes gestos missionários que testemunham um grande amor e confiança em Cristo Crucificado e Ressuscitado.
No final da viagem, haverá a possibilidade de um encontro com o presidente francês Macron no aeroporto. Que questões o senhor acha que poderiam surgir nesse diálogo, com uma perspectiva de construção de pontes e de fraternidade, porém em um momento histórico tão complexo e marcado por guerras?
Não saberia dizer quais questões estarão no centro do encontro do Santo Padre com o Presidente da República, mas imagino que o tema da paz, onde quer que ela seja necessária e esperada hoje, será crucial. Faltando apenas alguns dias para o Natal, nascimento do Príncipe da Paz e nas atuais circunstâncias do mundo, certamente o tema da paz será um pensamento dominante. Além disso, é bem sabido o quanto o respeito pela vida humana, desde sua concepção até seu fim natural, é caro ao coração da Igreja Católica, que não hesita em apelar aos líderes e dirigentes dos Estados em todas as oportunidades, mesmo quando sabe que pode não agradar. Por outro lado, segundo o conselho de Paulo a Tito: “Isso deves ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda autoridade...”. O encontro será realizado no aeroporto de Ajaccio, ou seja, no meio do Mediterrâneo. Imagino que o Santo Padre reafirmará que o ‘mare nostrum’ não deve ser o ‘cemitério nostrum’ para aqueles que buscam um futuro melhor, arriscando suas vidas. Isso sempre levanta a questão de como acolher, como irmãos e irmãs em humanidade, aqueles que batem à porta e que muitas vezes participam da construção da vida social e econômica de nossos países, acolhendo assim seus talentos e energias. Essa atitude nos permite estabelecer regras, exigir respeito às nossas leis e aos nossos equilíbrios sociais e culturais, mas também, e acima de tudo, trabalhar com os países de partida para que seus filhos possam ficar e encontrar o que precisam para viver com dignidade como cidadãos.
Francisco se reunirá com o clero e celebrará uma Missa durante a sua visita. Que mensagens se espera que o Pontífice transmita aos sacerdotes e leigos?
Em geral, e especialmente nas Viagens Apostólicas, o Santo Padre está particularmente atento à história das pessoas que estão diante dele, à cultura em que estão inseridas, aos pedidos, esperanças e sofrimentos que cada uma carrega em seu coração. Nesse sentido, a melhor atitude por parte de todos nós não é “esperar” algo de acordo com nossos gostos, mas acolher a sua palavra, a escutar seu Magistério para nos deixarmos mais uma vez ajudar ao longo do caminho. Certamente, encontrando-se no coração da Europa, o Papa Francisco não deixará de encorajar e apoiar, com sua proximidade, o compromisso apostólico da Igreja e de seus agentes pastorais, sacerdotes e leigos, exortando tanto o mundo crente quanto as instituições civis e políticas a dialogar e trabalhar juntos pelo bem comum da sociedade e, em particular, dos mais frágeis.
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