Pasolini: expandir os limites de uma esperança mais universal e inclusiva
Isabella Piro - Vatican News
“Dirigimos uma querida saudação ao Santo Padre que, temos certeza, estará conosco daqui um pouco, participando da vida da sua Igreja”. Foi assim que o capuchinho Roberto Pasolini iniciou na manhã desta sexta-feira, 11 de março, na Sala Paulo VI, a última das quatro pregações da Quaresma, abertas a todos, sobre o tema “Ancorados em Cristo. Enraizados e fundamentados na esperança da Vida Nova”.
Leia aqui o texto completo (italiano e inglês)
Após as três primeiras reflexões de 21 e 28 de março e 4 de abril - focadas respectivamente em “Aprender a receber - A lógica do Batismo”, “Ir para outro lugar - A liberdade no Espírito” e “Saber se reerguer - A alegria da Ressurreição” - nesta sexta-feira (11/04) o pregador se detém no tema “Expandir a esperança - A responsabilidade da Ascensão”, destacando três aspectos - a conversão, o avesso e a sinergia - e reiterando que saber partir, quando tudo o que é necessário já foi realizado, alargando as fronteiras da esperança é o ensinamento que Jesus ofereceu à humanidade justamente com a Ascensão ao céu.
Não ceder à síndrome do abandono
Em primeiro lugar, analisando a passagem do Evangelho de João que narra o encontro entre Jesus e Maria Madalena após a ressurreição, o Fr. Pasolini enfatiza a importância de não cair na síndrome do abandono, como aquela vivida pela discípula, fechada na sua dor e desejosa de embalsamar, junto com os restos mortais de Jesus, também a memória do seu Amor. Essa tendência a embalsamar a ausência, ressalta o frei capuchinho, "pode adoecer gravemente o coração da humanidade, impedindo-o de reabrir-se à vida nova".
A Ressurreição não volta atrás, mas abre-se a uma nova esperança
Em vez disso, assim que o Senhor Ressuscitado a chama pelo nome, Maria Madalena se sente chamada a uma nova esperança de vida e é essa - enfatiza o pregador - a conversão definitiva à qual a Ressurreição quer nos conduzir: aquela que permite ao coração da humanidade libertar-se da tristeza e de fazer um encontro pessoal com Cristo e com a novidade que Ele inaugura. Pois, depois da Ressurreição, não se pode voltar atrás, mas se caminha para frente, em direção ao Pai, transformados em novas criaturas. Com a Ressurreição, portanto, continua o Frei Pasolini, ”a tentação de confinar Deus em um tempo ou lugar, como Madalena gostaria de fazer, levando os restos mortais de Jesus para a casa materna, é superada".
A Páscoa não é idolatria religiosa
Pelo contrário, o Senhor convida a discípula a anunciar a sua Ressurreição aos outros e a ver seu rosto na humanidade. Evitando o risco de transformar a Páscoa em mera idolatria religiosa, portanto, Cristo ascendeu ao céu para fazer surgir na história um sinal maravilhoso dele: as relações que sabemos tecer e valorizar em seu nome.
O “reviravolta” da Ascensão: Cristo deixa espaço ao homem
Nesse sentido, explica ainda Fr. Pasolini, a Ascensão gera uma “reviravolta”, ou seja, uma inversão definitiva sobre o plano existencial, porque Cristo deixa o palco da história para dar lugar à humanidade, para que possamos nos tornar a presença viva de Deus no tempo e no espaço. Em essência, Jesus parte para conduzir os discípulos para além de si mesmos, para além das ilusões e das decepções, até o ponto em que possam se tornar plenamente humanos, em solidariedade com os irmãos.
Dessa forma, a Ascensão não lembra uma vida ideal e abstrata, mas permite que se encontre a presença do Senhor em qualquer lugar e em qualquer circunstância, invertendo a ordem das coisas: o Espírito está nas realidades visíveis, o corpo entra nas realidades invisíveis. Porque o retorno de Cristo ao céu é realizado juntamente com o avanço para o céu do seu corpo, ou seja, a humanidade que, todos os dias, dá testemunho do maior Amor.
Reconhecer a beleza e a bondade de toda criatura
"A aventura do Evangelho”, destaca o pregador da Casa Pontifícia, ”continua na terra, entre o pó e o céu, em sinergia. Os apóstolos, de fato, são chamados a ir a todos os lugares para anunciar a Boa Nova a todas as criaturas. Sobre esse termo - “criaturas” - o Frei Pasolini se detém ainda mais, recordando que, no momento da criação, Deus viu que tudo era belo e bom. Daí o desafio de olhar para os outros não como seres humanos, portanto sujeitos a julgamentos e exigências, mas como criaturas cuja beleza e bondade podemos reconhecer.
A mansidão de Jesus
Evangelizar, portanto, enfatiza o capuchinho, "significa, antes de tudo, ver no próximo uma criatura, mesmo frágil e turbulenta, mesmo com luzes e sombras. Mas, ainda assim, reconhecê-la e aceitá-la com benevolência pelo que ela é. Essa é a mansidão de Jesus, que considera primordial não fazer o bem ao outro, mas, antes de tudo, declarar que o outro é um bem". E neste tempo histórico, continua o pregador, "isso representa uma nova oportunidade para a Igreja: a de percorrer a história de cada pessoa com humildade e respeito, reconhecendo o caminho do indivíduo sem incluir imediata ou apressadamente uma avaliação moral.
Escuta, acolhimento e discernimento
Por fim, acrescenta o Frei Pasolini, levar o Evangelho até os confins da terra não significa apenas chegar a lugares distantes no espaço e no tempo, mas também avançar com atenção e respeito no coração de cada pessoa, acolhendo a complexidade, habitando com sabedoria evangélica e caridade pastoral a singularidade de cada um e deixando espaço para a ação silenciosa de Deus. Escuta, acolhimento e discernimento, portanto, são atitudes fundamentais para permanecer fiel ao Evangelho, lembra o pregador, e para colocar no centro a história e a dignidade de cada pessoa que espera, mesmo sem saber, de encontrar o rosto de Deus.
Saber como se distanciar, permanecendo em profunda comunhão
Com a Ascensão do Senhor, continua o pregador da Casa Pontifícia, "os discípulos compreenderam a possibilidade de viver e agir junto com Ele, por meio do poder do Espírito. E isso interrompeu para sempre o pesadelo da solidão porque, por meio da Ressurreição e da Ascensão, a vida humana foi transformada em uma espécie de dança, um pas de deux entre o céu e a terra. Assim, ressalta Pasolini, em uma época em que lutamos para “sair de cena”, Jesus nos mostra como é precioso saber sair para permanecer em uma comunhão mais profunda e autêntica.
A vida é eterna, não se deixa aprisionar, diz o capuchinho: a aparente ausência de Deus do palco da história é, na realidade, um convite à humanidade, chamada a encarnar e testemunhar a verdade do Evangelho sem ceder a protagonismos e monopólios, mas manifestando ao mundo a plenitude dos tempos. E esta - conclui o Frei Pasolini - "é a maior esperança a ser cultivada durante o Jubileu: que o mundo possa reconhecer, na fé e na tradição da Igreja, algo de belo e de novo, capaz de suscitar uma sacudida de esperança universal”.
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