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Iva Cabral - Historiadora, filha de Amílcar Cabral, líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde Iva Cabral - Historiadora, filha de Amílcar Cabral, líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde 

Iva Cabral satisfeita com a efervescência para o centenário do pai

Se Amílcar Cabral, líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde estivesse vivo, faria a 12/9/2024 cem anos de nascimento. Muitas iniciativas em várias partes do mundo, marcam este centenário. Isto deixa muito satisfeita a filha, Iva Cabral. Em entrevista à Rádio Vaticano, ela aborda diversos assuntos, inclusive o papel da Igreja ontem e hoje em relação a esses países. É no programa “África em Clave Cultural” em que o perfil desta Historiadora é traçado por Filinto Elísio.

Dulce Araújo - Vatican News

A sensação com que se fica no final da entrevista com Iva Cabral, convidada do Programa semanal da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos” do dia 9 de maio de 2024, é a de uma pessoa crítica, mas serena, otimista e confiante quanto ao futuro de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, países para cujas independências o pai, Amílcar Cabral, lutou, não obstante todas as adversidades, até à morte. Será esse otimismo uma herança do pai? Não sabemos, não nos ocorreu fazer-lhe a pergunta, mas o certo é que a sugestão do pai de estudar História não lhe causa nenhum arrependimento e uma das suas maiores satisfações é ter feito parte da elaboração da “História Geral de Cabo Verde”, assim como o de ter sido Reitora da Universidade Lusófona de Cabo Verde.

Ensinar a História e favorecer a investigação histórica

No que toca à História, diversos pontos emergem da entrevista: a sua visão crítica em relação ao inadequado ensino desta disciplina nas escolas, embora no plano da investigação a situação seja mais animadora; a necessidade da reescrita da História numa visão africana e não na que o colonizador “inventou para nós” e que não é nada abonatória da África, e ainda a oportunidade de colocar a descolonização da História da África no plano da cooperação com a Europa e no âmbitos do discurso sobre as reparações, atualmente bastante vivo. A obrigatoriedade da reafricanização da História seria, a seu ver, “a maior reparação.”

Igreja Católica e a luta de libertação dos PALOP, ontem e hoje

Quanto à Igreja Católica, Iva Cabral sublinha a importância que teve a audiência, em 1970, do Papa Paulo VI aos líderes dos Movimentos de Libertação das então colónias portuguesas em África. Agora, com o Papa Francisco, que ela muito preza, gostaria que fossem abertos arquivos do Vaticano relativos à África “para podermos estudar melhor o nosso passado.”

Cultura

É sabido que para Amílcar Cabral, a luta de libertação era uma luta que tinha como perno a cultura. Solicitada a exprimir-se sobre a forma como vê as políticas culturais hoje nos dois países, Iva Cabral explica que História e Cultura caminham juntas. Se uma vai mal a outra não pode estar melhor. Contudo, tem havido progressos desde as independências, mas não se pode ficar pela promoção da música e artes plásticas. Há que fazer com que a cultura ajude a resolver “certos problemas cognitivos de nós mesmos” - diz em relação a Cabo Verde, enquanto que no que toca à Guiné, alegra-se com a “movimentação cultural extraordinária” que se nota.

50 anos de independência

Outro capítulo da entrevista é o meio século das independências da Guiné-Bissau (2023) e de Cabo Verde (2025). Um momento de balanço em que no prato dos ganhos, esta Historiadora coloca a oportunidade que elas trouxeram de esses povos serem protagonistas da sua História; e no prato dos desafios, a desigualdade socia-económica que não cessa de crescer. “Tem de haver uma nova política, novos combates, novos líderes que possam lutar contra essa desigualdade.” E como Historiadora, a primogénita de Cabral mostra-se esperançosa de que essas crises sejam uma oportunidade de renovação.

Desmistificar Cabral e humanizá-lo 

Rebatendo na tecla do Centenário de Amílcar Cabral, Iva sublinha, sorrindo, que vai “ocupar um lugarzinho nesses festejos com muito orgulho e muita satisfação”, a mesma satisfação que manifesta ao constatar o enorme e, a seu ver, valioso envolvimento da sociedade civil em iniciativas para marcar os cem anos de nascimento do seu pai; pai, cujas cartas à sua mãe, Maria Helena Vilhena Rodrigues, nos anos 40, ela fez questão de publicar para mostrar aos jovens que “líder não se nasce, mas se constrói”, contribuindo assim para “desmistificar” a figura de Cabral e humaniza-lo, dar a conhecer o seu pensamento.

Falou-se ainda nesta entrevista da Unidade entre a Guiné e Cabo Verde, assunto - sublinha - a ser estudado, esclarecido, avaliado para se tirar eventuais lições para a África de hoje, tão necessitada de “unidade e luta” para ultrapassar os desafios que tem pela frente. Iva está, todavia, convencida que “a História dará razão a Cabral”, pois a “África não pode continuar sem uma união séria”.

Amílcar Cabral
Amílcar Cabral

Centenário, palco de inovação e criação

Por fim, Iva Cabral vê no centenário de nascimento do pai “um palco de novidades e criação” e considera ainda que o cinquentenário da independência deve ser festejado com muita força em Cabo Verde, país de que Cabral se orgulharia pelo que tem feito da sua independência, e quanto à Guiné recorda, entre outros aspetos, que viveu no seu território onze anos de luta, que não tinha uma burocracia organizada, que tem uma grande diversidade humana e cultural, mas que “vai ter um grande futuro, minha senhora, tenho a certeza.”

Para os pormenores, siga em baixo a entrevista e a emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” que inclui o retrato biográfico da entrevista, feita por Filinto Elísio, da Rosa de Porcelana Editora e intitulada, “Iva Cabral – Historiadora, Professora e Combatente das Pátrias da Guiné-Bissau e de Cabo Verde”. 

Oiça aqui a entrevista
Oiça aqui a emissão com a crónica de Filinto Elísio

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10 maio 2024, 12:07