A África é um continente criativo ao máximo - Maria Graça Gomes
Dulce Araújo - Cidade do Vaticano
Maria Graça Gomes de Pina é Leitora de Português na Universidade de Nápoles, “L’Orientale”. Mas tem muita paixão pela língua e literatura cabo-verdianas, sobre as quais vai publicando algo sempre que pode. Um dos seus mais recentes artigos é "Os Contos "Na Bóka Noti”, na Tradição Oral Cabo-Verdiana”, publicado em maio deste ano, na Revista de Estudos Interculturais do CEI-ISCAP. Um artigo que procura valorizar a oralidade através dos contos narrados ao anoitecer à criançada e não só, sobretudo no Cabo Verde de um tempo que já lá vai…
A história de Vasquinho
O artigo “Os Contos "Na Bóka Noti”, na Tradição Oral Cabo-Verdiana”, traz a interessante narração da personagem Vasquinho, um camponês muito astuto nas suas relações com o seu meio social e espiritual. Um conto tirado da colectânea realizada pelo investigador cabo-verdiano, Tomé Varela da Silva.
Recolher, conservar estas histórias é, sem dúvida alguma, muito importante, mas não basta, há também que contá-las. E isto já está, de algum modo, a ser feito nas escolas, frisa a Prof.ra Graça Gomes de Pina, dando o exemplo de "Chiquinho" (obra do escritor cabo-verdiano Baltazar Lopes, publicado pela primeira vez em 1947 e considerado o primeiro romance da literatura cabo-verdiana), transformado em audio-livro para pessoas que não sabem ler.
Hoje, na época das redes sociais, não é fácil recriar o ambiente da "bóka noti" dos tempos passados, mas não faltam novas soluções, como a transformação dos contos em banda desenhada que se pode ver em telemóveis.
Magia, expressão da sensibilidade e criatividade africanas
Ao analisar a história de Vasquinho a Prof. Graça de Pina põe em evidência também a magia ínsita nas culturas e que se reflecte nesses contos orais, magia muitas vezes interpretada como resignação, ignorância das causas profundas dos fenómenos, enfim como um elemento negativo nessas culturas. Mas, para Graça de Pina a magia pode também ser vista numa óptica positiva, como expressão máxima da criatividade africana. Nada que ver, portanto, com o querer ver a magia unicamente como uma característica negativa das cultura africanas!
Além disso, há que ter presente que hoje há uma forte tendência a valorizar as fontes orais na escrita da História da África. Algo positivo, segundo Graça de Pina, desde que não fiquem fechadas em si mesmas.
Artigos à espera de ser publicados
A paixão da Graça de Pina pela língua, literatura e cultura cabo-verdianas levou-a a traduzir, em 2005, para o italiano, introduzir e acompanhar com amplas notas de enquadramento a obra “Mornas” do grande intelectual e poeta cabo-verdiano, Eugénio Tavares, falecido em 1930. Mas, para além disto, e do artigo sobre “Os Contos "Na Bóka Noti”, na Tradição Oral Cabo-Verdiana Contos ", tem mais artigos à espera de ser publicados e outros projectos na mente.
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