2019.04.25 Nicolau do Rosário Partigiano capoverdiano morto in combattimento a Genova 2019.04.25 Nicolau do Rosário Partigiano capoverdiano morto in combattimento a Genova 

ANPI renovou a coroa de flores ao Partigiano Nicolau do Rosário

A ANPI, Associação Nacional dos "Partigiani" Italianos, renovou, nesta quadra do 25 de Abril de 2019, a coroa de flores, junto da placa que recorda o "Partigiano" cabo-verdiano, Nicolau do Rosário, morto em combate pela libertação da Itália do nazi-fascismo, em Abril de 1945.

Dulce Araújo - Cidade do Vaticano

Foram numerosos os africanos mortos em campos de batalha para libertar a Europa do nazi-fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Mas até hoje a heroicidade desses homens não foi devidamente reconhecida e valorizada.

Repropomos hoje um trabalho feito sobre esta temática em Março de 2017, altura em que foi apresentado um livro sobre os "Partigiani": 

Oiça

Quinta-feira, 9 de Março de 2017, em Roma, viveu-se um momento que recorda essa página da história da Europa, do mundo. Numa pequena sala  da Câmara dos Deputados foi apresentado o livro (em italiano)  “A 59ª Brigada Garibaldina de Manovra “CAIO” e Memórias “Partigiane” da VI Zona Operativa”. O autor do livro é o genovês, Bruno Garaventa, que dedica algumas páginas a Nicolau do Rosário, caboverdiano tombado em Génova à cabeça de um grupo de “Partigiani” ou seja, de resistência contra soldados do Exercito nazista alemão.

Uma placa no Hospital Galliera de Génova recorda o feito de Nicolau. Mais de 70 anos depois da sua morte, a placa, já quase ilegível, foi renovada em Abril de 2016 pela Embaixada de Cabo Verde em Itália.

Mas, como chegou, Bruno Garaventa, a descobrir a figura de Nicolau do Rosário ou Nicola como se lê na placa?

Foi um pouco por acaso, porque alguém, já nem me recordo quem, telefonou-me perguntando se sabia alguma coisa dessa pessoa. Eu há anos que estou a pesquisar sobre os factos da Resistência na área que se chamava “6ª Zona Operativa da Ligúria” e encontrei uma pequena documentação – pois que naqueles tempos a documentação (fotos e outras coisas eram proibidas porque podiam constituir um perigo) e descobri que essa pessoa tinha combatido juntamente com a Brigada que agia no seio e na área circunstante do Porto de Génova: o antigo Porto que tinha sido minado pelos alemães para fazer com que – em caso de retirada - saltasse para o ar, tornando-se, desse modo, inacessível a uma eventual entrada dos americanos ou de outras forças aliadas. E esse Nicola do Rosário combateu nos últimos dias da batalha de insurreição de Génova; combateu na zona mais quente que havia, e com ele, no mesmo dia, morreram outros quatro “Partigiani” e onze ficaram feridos – estou a falar daqueles do seu grupo, porque naqueles dias morreram centenas, mas do seu grupo, que se chamava “SAP Belluci 863”  [ou CAIO], morreram esses  quatro no mesmo dia e onze ficaram feridos. Ele foi morto mais ou menos às 12 horas do dia 24 de Abril de 1945 enquanto estava a combater contra um grupo de alemães que estavam numa barricada no Hospital Galliera em Génova. Ele foi antes atingido com um golpe de baioneta, mas continuou a combater e a incitar os companheiros a combaterem contra os alemães que tinham uma metralha montada numa “machine Gewehr” e deram-lhe uma rajada de metralha e ele morreu quase instantaneamente".Mas é graças a toda essa gente que hoje em Itália somos um país livre, um país com democracia. E ele tinha compreendido que naquele momento havia que dar um grande contributo ao povo italiano, à nossa Constituição, à nossa liberdade”.

Bruno Garaventa dedica-se, como ele próprio dizia – desde há anos ao estudo da valorosa acção dos “Partigiani” (ou seja dos grupos de resistência) na região italiana da Ligúria, cujo principal centro urbano é a cidade portuária de Génova. E Nicolau do Rosário não podia imaginar que mais de 70 anos depois da sua morte em combate, seria esse italiano casado, há décadas, com uma cabo-verdiana a contribuir para a recordação da sua figura – disse o então Embaixador de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa , na sua intervenção - uma mensagem carregada de sentimentos:

Oiça

Voltando para Nicolau do Rosário, não se sabe ao certo porque se encontrava em Génova. A hipótese lançada pelo então Embaixador é que teria vindo nalgum navio que transportava cereais e que terá passado por Cabo Verde com destino a Génova, onde ele terá ficado a trabalhar… O próprio Bruno Garaventa diz não ter conseguido informações sobre esse aspecto:

Não consegui, mas ele habitava ali perto, naquela zona, porque quase todos aqueles “Partigiani” eram gente local porque os SAP [Squadra di Azione Patriottica, (Esquadra de Acção Patriótica)] nasciam em certas zonas e formavam equipas patrióticas. E, provavelmente, ele morava numa zona ali perto, aliás, no livro há mesmo o endereço onde ele morava. E, provavelmente, os dirigentes daquele tempo tinham proposto ao Ministério a atribuição de alguma medalha de reconhecimento, mas dado que ele já não estava, terá ficado nos arquivos. Mas, há documento assinado pelo Coronel que comandava a Praça de Génova e do Comandante de todos os SAP"…

E há também essa placa no Hospital Gallieri de Génova!

Essa placa que está ali e que foi renovada o ano passado recorda a sua figura; o seu corpo está sepultado no Cemitério do Staglieno, onde há uma área expressamente reservada a todos os tombados pela liberdade da Pátria. É um campo perene que permanecerá como facto histórico em memória dessas pessoas”.

Bruno Garaventa, autor do livro sobre os “Partigiani” da Região italiana da Ligúria, onde o caboverdiano, Nicolau do Rosário, tombou pela libertação da Itália do nazi-fascismo. Foi a 24 de Abril de 1945. Os “Partigiani”, recordamos, eram grupos de “Resistência” armada que não pertenciam a nenhum exército oficial. Nicolau do Rosário tinha então, 51 anos de idade. Já tinha, portanto, maturidade suficiente para ter consciência do gesto que fazia pela Itália – disse o Embaixador, Manuel Amante.

Em 29 de Junho de 2018, o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, conferiu, na sede da Embaixada do país, em Roma, a Medalha de Mérito de Primeira Classe, ao Partigicano, Nicolau do Rosário. No encontro, para além de cabo-verdianos, tomaram parte Bruno Garaventa e, em representação do Governador da Região da Ligúria, o conselheiro Giovanni Boitano. 

 

 

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25 abril 2019, 16:09