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Fome no mundo aumentou nos últimos três anos

A fome no mundo não dá sinais de aplacar. Ao mesmo tempo aumenta a obesidade. É o que revela o relatorio da ONU sobre o "Estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo” , tornado público no dia 15 de Julho, em Nova Iorque. A Ásia e a África são os continentes onde a situação é mais preocupante. Há que ter estragégias multisectoriais e centradas na pessoa humana e nas comunidades, para fazer face a isto e atingir o objectivo "Fome Zero" até 2030.

Ana Poce /Dulce Araújo - Cidade do Vaticano 

Mais de 820 milhões de pessoas passam fome no planeta. Pelo terceiro ano consecutivo a fome no mundo não deu sinais de diminuição, antes pelo contrário. Isto mostra quão grande é o desafio de atingir o objectivo Fome Zero até 2030 – lê-se na edição do relatório anual sobre o Estado da Segurança Alimentar e má-nutrição no mundo, publicado ontem no Palácio das Nações Unidas em Nova Iorque.  

Num comunicado de imprensa conjunto, a FAO, IFAD, UNICEF, WFP e OMS fazem notar que se está a proceder com muita lentidão no processo de diminuição de metade das crianças que sofrem de má-nutrição crónica e de redução do número daqueles que nascem com peso abaixo do normal. E isto torna ainda mais difícil atingir o objectivo fome zero.

Ao lado deste desafio há o do aumento da obesidade que atinge 338 milhões de crianças em idade escolar e adolescente mundo. Os adultos obesos são 672 milhões ou seja 1 em cada 8.

A possibilidade de ser vítimas da insegurança alimentar é mais elevadas entre as mulheres do que os homens em todos os continentes. A diferença é maior na América Latina – lê-se no comunicado. Nele sublinha-se ainda a necessidade de intervenções  multissectoriais para enfrentar esta tendência preocupante.

A fome está a aumentar  em muitos países onde o crescimento económico demora a chegar, de modo particular nos países de rendimento médio e naqueles onde a principal fonte de entrada é a venda de matérias-primas. O relatório anual das Nações Unidas revela também que a diferença de PNB está a alargar-se em países onde fome está a aumentar, tornando ainda mais difícil para os pobres, vulneráveis e marginalizados fazer face à crise.

“Temos de promover uma transformação estrutural inclusiva e a favor dos pobres, centrada na pessoa, e que ponha a comunidade no centro para reduzir as vulnerabilidades económicas e enveredar pelo caminho que leve a acabar com a fome, a insegurança alimentar e com todos as formas de má-nutrição” – escrevem as agencias das Nações Unidas.

África e Ásia

Em África a situação é extremamente alarmante porque é o continente onde a fome continua a aumentar lenta, mas constantemente em quase todas as sub-regiões. Na África oriental, por exemplo, a taxa de má-nutrição é de 30,8%. Para além do clima e dos conflitos, esta situação é determinada pelas crises económicas. Quase metade dos países onde aumentou a fome a partir de 2011 e na sequencia de crises ou estagnações económicas, são africanos.

O maior número de pessoas desnutridas no mundo, (mais de 500 milhões) encontra-se, todavia, na Ásia, sobretudo Asia meridional. Juntas, a África e a Ásia detém a maior quota de todas as formas de má-nutrição no mundo, ou seja mais de nove em cada dez crianças sofrem de má-nutrição crónica. Na Ásia Meridional e na África sub-sahariana, uma criança em cada três sofre de má-nutrição crónica

Para além da má-nutrição cronica e aguda, na Ásia e na África vivem mais de três quartos de todas as crianças obesas do mundo, sobretudo devida a uma alimentação incorrecta.

Novo indicador 

De salientar ainda que o relatório deste ano introduz também um novo indicador para medir os diversos níveis de insegurança alimentar e monitorar os progressos em direcção ao objectivo fome zero: a prevalência da insegurança alimentar moderada ou grave. Este indicador baseado em sondagens junto das populações, mostra que as pessoas expostas a uma moderada insegurança alimentar enfrentam incertezas em relação à sua capacidade de procurar alimentos, e para sobreviver tiveram de reduzir a qualidade ou a quantidade de alimentos que consumem.

Ainda segundo o relatório, mais de dois mil milhões de pessoas, sobretudo nos países de rendimento baixo, não têm acesso regular a alimentos sãos, nutritivos  e suficiente. Mas o acesso regular constitui um desafio também para países de alta renda per capita, inclusive 8% da população nos Estados Unidos e na Europa. Isto requer uma profunda transformação dos sistemas alimentares a fim de que forneçam alimentos sãos e produzidos de forma sustentável para uma população mundial em crescimento.

Recordamos que o relatório agora publicado faz parte da monitorização dos progressos feitos na caminhada em direcção ao segundo objectivo do Desenvolvimento Sustentável – Fome Zero – que visa eliminar a fome, promover a segurança alimentar e pôr termo a todas as formas de má-nutrição daqui até 2030.

Factores na base do aumento da fome

O relatório de 2017 tinha apontado três factores na base do recente aumento da fome no mundo: conflitos, mudanças climáticas e diminuição do crescimento económico. O Relatório deste ano é centrado sobre o papel das crises e da diminuição do ritmo de crescimento económico em relação à segurança alimentar e à nutrição.

O Relatório deste ano sobre o “Estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo”  revela que a fome no mundo não dá sinais de diminuir, enquanto que está a aumentar a obesidade.

O Relatório foi apresentado por cinco agencias da ONU no decurso de um evento especial por ocasião do Fórum Politico de alto nível no Palácio das Nações Unidas em Nova Iorque.

Alguns dados em síntese:

- Número de pessoas que passaram forme no mundo em 2018: 821,6 milhões (1 em cada 9)

- Na Ásia: 513,9 milhões;

- Em África 265,1 milhões;

- Na América Latina e Caraíbas: 42,5 milhões;

- Número de pessoas em estado de insegurança alimentar moderada ou grave: dois mil milhões (26,4%)

- Crianças com pessoa abaixo do normal à nascença: 20,5 milhões (1su 7);

- Crianças com menos de cinco anos que sofrem de má-nutrição crónica (baixa estatura em relação à idade)148,9 milhões (21,9%);

- Crianças com menos de cinco anos que sofrem de má-nutrição aguda (peso baixo em relação à altura): 490 milhões (7,3%);

- Crianças com menos de cinco anos obesas (peso elevado em relação à altura): 40 milhões (5,9%);

- Crianças em idade escolar e adolescentes obesas: 338 milhões

- Adultos obesos: 672 milhões 13%)

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16 julho 2019, 15:55