Sudão do Sul marca 10 anos. Igrejas: década perdida, falta paz, justiça e liberdade
Cidade do Vaticano
Tendo em vista o 10° aniversário da independência do Sudão do Sul (nesta sexta-feira, 9 de julho), o Conselho das Igrejas do Sudão do Sul, numa mensagem, escreve: “Temos muito pouco para festejar, o povo está passando por um momento difícil por causa da violência contínua, do desespero e da miséria" que prevalecem.
O Sudão do Sul, de facto, é subjugado por perenes tensões que se agravaram em 2013, quando os partidários do presidente Salva Kiir, da etnia Dinka e os do ex-Chefe de Estado Riek Machar, da etnia Nuer, começaram a confrontar-se. O grave conflito deixou um rastro de morte e destruição no terreno, com 400 mil vítimas e 4 milhões entre refugiados e deslocados internos.
Resultados de acordos demoram a chegar
Cinco anos depois, em 2018, foi alcançado um acordo para o fim da guerra, o “Acordo Revitalizado para a Resolução do Conflito no Sudão do Sul” (R-ARCSS), enquanto que em fevereiro de 2020 as facções políticas chegaram a um acordo para a formação de um novo Governo de transição de unidade nacional, chefiado por Salva Kiir e Riek Machar na oposião. Mas os resultados concretos demoram a chegar e a violência continua, afectando também líderes religiosos. De facto, no passado mês de abril, o Bispo de Rumbek, o Comboniano Padre Christian Carlassare, foi baleado por desconhecidos.
Violência atrasou desenvolvimento sócio-económico do País
É este, portanto, o contexto em que se insere a mensagem do SSCC, que deplora “a crescente violência intercomunitária, bem como os crescentes casos de violência sexual, assassinatos por vingança, açambarcamento de terras e sequestro de crianças”. Todos eles factores que “não apenas desestabilizaram a paz, mas também atrasaram o desenvolvimento socioeconómico do País”.
Década perdida, estamos num ponto morto
E em particular, afirma o SSCC: “estes conflitos fizeram dos nossos primeiros dez anos de independência uma década perdida. Estamos praticamente num ponto morto”. Há dez anos atrás, de facto, “havia a euforia e o entusiasmo de marcar o nascimento da nação mais jovem do mundo”, porque “se esperava, depois de anos de lutas e sacrifícios, de se ter chegado finalmente à 'Terra Prometida' e de poder construir um mundo melhor ”, graças também aos “sacrifícios abnegados de tantos mártires e heróis dos nossos dias que trabalharam em nome da justiça, da liberdade e da prosperidade do nosso povo”.
Forças políticas implementem acordo de paz
No dia 9 de julho de 2011, “esperávamos um novo raio de esperança e de paz sustentável - escreve o Conselho das Igrejas do Sudão do Sul - mas aquela exultação durou pouco porque, apenas dois anos mais tarde, a nação precipitava em violentos conflitos que a devastaram”, empobrecendo a população, que ficou “sem esperança e reduzida a uma extrema dependência da ajuda humanitária”. Daí a exortação do SSCC para que as forças políticas implementem o acordo de paz, manifestando “a vontade política para o fazer” e “restaurando a estabilidade no país”. Por seu lado, as Igrejas nacionais asseguram o seu compromisso em "apoiar a paz, a justiça, o perdão e a reconciliação no País".
Segunda década não seja outra década perdida
A esperança do SSCC é que a segunda década da independência do País represente "um novo começo de liberdade e prosperidade para todo o povo". Não deve, portanto, ser "uma outra década perdida", mas "uma oportunidade para salvar a população da indigência" e "parar a auto-sabotagem do nosso futuro colectivo e da nossa prosperidade". “Devemos reflectir sobre aquilo que não funcionou até agora - reitera a mensagem - aprender daquelas experiências e assumir a responsabilidade colectiva de libertar o nosso País das dificuldades actuais”. “Nunca mais o nosso povo seja vítima, sem piedade, das nossas próprias mãos!”, conclui o SSCC.
Empenho do Papa Francisco pelo Sudão do Sul
Recorde-se também o grande empenho do Papa Francisco com o Sudão do Sul: um empenho que se concretizou a 11 de abril de 2019, com a convocação de um retiro espiritual na Casa Santa Marta e no qual participaram Salva Kiir e os vice-presidentes designados. Aquele acontecimento, fruto de um longo caminho, foi marcado por um gesto particularmente significativo: o Pontífice ajoelhou-se e beijou os pés dos políticos, invocando a paz para o jovem País.
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