Camarões. Bispos aos separatistas e ao governo: “basta, o povo já sofreu o suficiente”
Cidade do Vaticano
Não pára a violência sangrenta que há cinco anos aflige a região anglófona dos Camarões, onde os grupos separatistas continuam a confrontar-se com o exército com ataques, assassinatos e sequestros. E quem paga o preço mais caro são sobretudo os civis, por vezes vítimas também acidentais do fogo cruzado entre as duas partes. O conflito já causou até agora mais de 3 mil mortos, forçou quase um milhão de pessoas a fugir e reduziu ao extremo uma zona rica em recursos, com três milhões de pessoas em plena emergência humanitária.
“O nosso povo já sofreu bastante e está cansado de viver na incerteza e no medo”, lê-se numa declaração divulgada depois de uma reunião nos últimos dias, em que os Bispos das cinco dioceses de língua inglesa convidam os cristãos “a continuar a rezar, para que se possa ver logo o fim de todos estes sofrimentos". No texto os prelados expressam também o seu apreço pelos "sacrifícios heróicos" feitos por tantos sacerdotes locais "pelo povo confiado aos seus cuidados pastorais" durante a crise, encorajando cada sacerdote "a levar o poder restaurador da graça de Deus a todos os que se encontram em necessidade”.
Recorde-se que nos Camarões existem 8 regiões francófonas e 2 regiões anglófonas, localizadas no Noroeste e no Sudoeste do País. O conflito entre as duas regiões tem suas raízes na época colonial, quando o território dos Camarões, ex-colónia alemã, foi dividido entre a Grã-Bretanha e a França, para depois se re-unificar numa numa única federação depois da independência em 1961.
Os confrontos iniciaram em 2016 quando o governo central decidiu enviar para as zonas de língua inglesa funcionários administrativos, professores e juízes vindos das zonas de língua francesa, facto que provocou várias manifestações para protestar contra tais medidas consideradas discriminatórias e marginalizantes. A dura intervenção das forças militares sobre a multidão exacerbou as tensões, elevando-as ao nível de conflito aberto e levando, em 2017, à formação de grupos de guerrilha anglófonos que reivindicam a secessão, autoproclamando a independência do chamado Estado de Ambazónia.
Nestes últimos anos, a Conferência Episcopal dos Camarões (Cec), que reivindica com força a neutralidade da Igreja no conflito, tem lançado vários apelos à reconciliação e à paz. Apelos que também foram reiterados pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, que visitou o País de 28 de janeiro a 3 de fevereiro deste ano, expressando a proximidade do Papa Francisco com a população local e com o continente africano em geral.
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