Jornalismo em risco na Guiné-Bissau
Casimiro Cajucam - Bissau
Este é o segundo ataque à Rádio Capital em cerca de um ano e meio. Homens armados, fardados e encapuzados neutralizaram a segurança policial e, já no interior das instalações, deram tiros, destruindo equipamentos.
A estação Rádio Capital têm-se mostrado crítica em relação às decisões e ações do Presidente da República e do Governo, através do programa matinal “Frequência Activa”, em que os ouvintes são convidados a opinar sobre a vida política e social na Guiné-Bissau.
O ataque resultou também no ferimento de sete funcionários entre os quais jornalistas, técnicos e pessoal administrativo que procuravam fugir quando os encapuzados começaram a disparar em direção aos equipamentos.
O Administrador da Rádio Capital, Mustafa Queita, estava presente no momento de ataque e explica como as coisas se passaram.
Este é o segundo ataque às instalações desta estação emissora privada do país. O primeiro aconteceu a 26 de julho de 2020 e os resultados da investigação anunciada pelas autoridades policiais são ainda desconhecidos. O administrador da Rádio Capital duvida se haverá justiça em relação a mais este caso de destruição da Rádio Capital.
“Não existe justiça na Guiné-Bissau, porque esta não é a primeira vez que tentaram destruir a Rádio Capital, mas nunca foi feita justiça”- lamentou.
Entretanto, o Bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, afirma que a classe jornalística está ameaçada na Guiné-Bissau. António Nhaga reagia esta terça-feira, 8 de fevereiro, a este novo ataque à Rádio Capital.
“A classe está ameaçada porque nós próprios jornalistas, estamos a contribuir pela nossa ameaça, não há uma defesa em bloco, por isso transformamos numa classe frágil”.
António Nhaga, condenou o ato e disse que é urgente a união entre a classe jornalística a fim de trabalhar para fortificar a democracia na Guiné-Bissau. Lembrou que sem uma imprensa independente não pode haver democracia.
“É urgente que a classe una, trabalhe e saiba identificar uns aos outros. Temos que trabalhar para que exista um sistema democrático na Guiné-Bissau, porque sem imprensa independente no país não há democracia, é por isso que a classe política quer comprar a consciência de jornalistas”.
O Sindicato Nacional de Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social, também reagiu: disse que o ato visa amedrontar os profissionais da comunicação social da Guiné-Bissau e critica a forma como tem acontecido ataques aos órgãos de comunicação social sem que nunca os resultados da investigação sejam conhecidos. Indira Correia Baldé, Presidente do Sindicato dos Jornalistas teme que este seja mais um ato, cujos responsáveis não serão conhecidos, nem responsabilizados.
Sobre o mesmo assunto, o Ministério do interior, a entidade que gere a segurança interna dos cidadãos e instituições no país, defendeu-se e considerou o ocorrido um ato isolado e sem relação com a tentativa de golpe de Estado da semana passada. O Comissário-adjunto da Polícia de Ordem Pública, Salvador Soares, nega, por seu lado, que o Ministério do Interior tenha perdido o controlo da segurança nacional.
O ataque à Rádio acontece quase uma semana depois de uma tentativa de golpe de Estado no país.
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