Cardeal F. Ambongo na Jornada anual do SECAM: “uma experiência prática de sinodalidade”

Marie José Muando – Cidade do Vaticano

O Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar, SECAM, foi oficialmente criado durante a primeira visita do Papa Paulo VI a Kampala, Uganda, em 1969.

A convite do Arcebispo de Kampala, Dom Emmanuel Nsubuga, o Papa Paulo VI realizou uma visita de três dias a Uganda em 31 de julho de 1969. Era a primeira vez que um Soberano Pontífice visitava o continente africano. No encerramento da Conferência Episcopal Africana, o atual SECAM, Paulo VI proferiu um discurso no qual declarou: “Vós podeis e deveis ter um cristianismo africano”. Em 2023, o Simpósio celebra este evento à volta do tema: “SECAM, uma experiência prática de sinodalidade”. Os Bispos Católicos da África afirmam na sua mensagem de apresentação que “o percurso sinodal em curso na Igreja universal nos encoraja a redescobrir o tesouro que está na origem da formação do SECAM”.

Em entrevista ao Vatican News, o Cardeal Fridolin Ambongo, arcebispo de Kinshasa, na RDC, e presidente do SECAM, disse que a Igreja africana através do SECAM é uma experiência prática de sinodalidade. De fato, continua o Arcebispo de Kinshasa, “o percurso sinodal em curso na Igreja universal nos motiva a redescobrir o tesouro escondido por trás da formação do SECAM”. No espírito dos Pais Fundadores, continua o purpurado, “este Simpósio existe para preservar, fomentar e promover a comunhão e a colaboração entre as Conferências Episcopais em toda a África e Madagáscar”. Para o Cardeal Ambongo, o “caminhar juntos” a que agora nos convida o processo sinodal é uma realidade que o SECAM procurou viver desde a sua fundação. “Com efeito, ao escolher a palavra Symposium, os fundadores do SECAM quiseram sublinhar o seu desejo de comunhão e de fraternidade”.

A Igreja família de Deus em África

"Os laços de comunhão, família, trabalho em equipe, partilha comunitária e unidade, que caracterizaram o SECAM desde a sua fundação, levaram à escolha da imagem da Igreja como família de Deus", observa o Arcebispo de Kinshasa, porque "esta imagem enfatiza a atenção aos outros, a solidariedade nas relações humanas, o acolhimento, o diálogo e a confiança". O Cardeal exorta todos os Bispos africanos a se apropriarem desta associação. Como indivíduos, “estaremos perdidos e sem importância no nível universal da Igreja; e não podemos expressar a nível universal da Igreja a nossa identidade como católicos africanos sem o SECAM”.

54 anos após a criação do Simpósio, os Bispos africanos e a Igreja africana devem recuperar e apropriar-se do SECAM e comprometer-se novamente com os seus objetivos. Este novo envolvimento com o SECAM incluiria o financiamento total da associação. A direção do SECAM deseja recordar a todos os Bispos da África e Madagáscar que a palavra symposium é uma expressão de colegialidade, de solidariedade e de comunhão. O SECAM trouxe imensos frutos através da própria identidade da Igreja em África. Em julho de 2022, continua o Cardeal Ambongo, “observava-se que muitos sabiam muito pouco sobre o SECAM e o consideravam como um assunto dos Bispos e teólogos. Esta estrutura deve, pelo contrário, ser conhecida como coisa de todos, do povo de Deus em África, que nela se deve engajar como protagonista. E o dia do SECAM é uma oportunidade para convidar a este compromisso, para todos contribuirem materialmente para que funcione bem”.

A miseria espiritual e material: os desafios da Igreja

“Se não apoiarmos o SECAM, corremos o risco de tornar a Igreja irrelevante a nível continental e até a nível das Dioceses e das Conferências, porque os problemas que afetam o Continente têm um enorme impacto a nível local”, sublinhou o Cardeal Dom Fridolin Ambongo, citando dois grandes desafios que o Episcopado é chamado a enfrentar. Primeiro, a miséria no plano espiritual e moral que faz com que a Igreja seja considerada uma terra a conquistar a nível da fé.

Isto se observa a nível das novas igrejas comumente chamadas de comunidades novas ou seitas, e o SECAM é chamado a encontrar formas e meios para preservar a fé católica. Em segundo lugar, a miséria material, por causa dos conflitos, das guerras, dos golpes de Estado porque, no fundo, quem sofre é a população. Assim, o SECAM deveria desempenhar o seu papel profético de se colocar ao seu serviço, travando a fuga dos mais jovens do Continente para procurar um futuro melhor noutro local, arriscando a vida na travessia do deserto e também do mar Mediterrâneo. Perante esta situação, o Cardeal Ambongo acredita que os Bispos não fizeram tudo o que deveriam fazer como pastores deste povo.

O SECAM perante a democracia do Continente africano

Continuando sobre a miséria material vivida pelo povo africano, o Arcebispo de Kinshasa indicou o egoísmo a nível político, que mina a governabilidade. No entanto, ele nota que a Igreja em África nunca apoiou um golpe de Estado. "Todos os que chegam ao poder, democraticamente ou não, pensam primeiro em si próprios e é o povo que sofre", disse o Cardeal, temendo que os acontecimentos dos últimos dias no Níger se possam alastrar a outros países. Em conclusão, o Arcebispo de Kinshasa recorda que o Dia do SECAM é, para todos os crentes, uma oportunidade para apoiar a Igreja em África e contribuir para o seu desenvolvimento. “Este dia nos recorda que a Igreja em África existe”. Para isso, o Cardeal Fridolin Ambongo convida os crentes a participar na unificação da Igreja africana.