Bahia, uma guerra pela independência total do Brasil
Dulce Araújo - Vatican News
A população da Bahia, em grande parte afrodescendente, está a comemorar, com orgulho, os 200 anos da independência desse Estado brasileiro, ocorrida a 2 de julho de 1823, na sequência de uma guerra que contribuiu para independência total do Brasil. Mas, a independência do Brasil não fora um ano antes, a 7 de setembro de 1822? Certo. O que se terá passado então?
Jorginho Ramos, jornalista, redator-chefe do sector Cultura na TV-Educativa e membro do Instituto Geográfico e de História da Bahia esclarece sobre a questão. Salienta que Portugal recusou-se, em 1822, a abandonar a Bahia, na esperança de continuar a possuir o norte do Brasil. Houve resistência armada e muitas vítimas. Um contingente significativo dos resistentes eram negros, muitos ainda em condições de escravatura. Foi-lhes prometida a libertação que só, viria a chegar, todavia, em 1888.
O sacrifício dos afro-brasileiros para essa gesta de libertação, assim como para todo o desenvolvimento do Brasil não foi devidamente reconhecido. Jorginho considera que o Brasil tem ainda hoje uma enorme dívida social para com os afrodescendentes que, ao lado dos índios, são os mais desfavorecidos do país.
A situação de desvantagem social em que os descendentes da África no Brasil se encontram, é muitas vezes atribuída à sua alegada incapacidade de conquistar um lugar ao sol. Jorginho mostra-se indignado com isto. Considera que se trata duma visão elitista e explica que no Brasil houve libertação, embora tardia, dos escravizados, mas não a sua emancipação, pois não lhes foram proporcionadas as mínimas condições objetivas para construírem a vida como pessoas livres e dignas.
À parte as recentes políticas de reparação como as quotas em instituições públicas de ensino, a comunidade negra no Brasil tem-se organizado em movimento para defender os seus direitos, mormente através da cultura - sublinha ainda Jorginho Ramos.
Apenas algumas recentes políticas têm tentado, portanto, atenuar, as injustiças sociais em relação aos afrodescendentes. E é nesta linha que, recentemente, a Universidade Federal da Bahia estabeleceu que todos os cursos de graduação nessa instituição educativa, deverão ter, a partir do primeiro semestre de 2025, pelo menos um componente curricular obrigatório com o ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e dos Povos Indígenas; também as Licenciaturas deverão ter um componente curricular obrigatório com Educação em Direitos Humanos nas suas matrizes curriculares. Jorginho Ramos vê isto de bons olhos e mostra-se convicto de que mesmo em condições não muito favoráveis, Lula da Silva saberá negociar no sentido de ampliar o leque de ofertas sociais para a população negra e indígena.
A recente coletânea “Bahia, 2 de julho: uma guerra pela Independência do Brasil”, que reúne estudos de vários investigadores sobre o assunto, inscreve-se, na opinião de Jorginho Ramos, no esforço de reescrita da História do Brasil e da valorização da contribuição da população negra e não só.
Foi a Bahia que tornou o Brasil realmente independente.
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