Padres Palotinos em Cabo Delgado: entre os desafios e as alegrias da missão
Padre Bernardo Suate – Cidade do Vaticano
Em recente entrevista à Rádio Vaticano, o Padre Eusébio explicou antes de tudo que os Palotinos, família de Padres e Irmãos fundada em Roma por por São Vicente Pallotti, trabalham na formação dos leigos, e estão presentes na diocese de Pemba (Cabo Delgado, norte de Moçambique), trabalhando na renovação na fé sobretudo dos leigos que já receberam os sacramentos.
Já na altura da fundação, observou o sacerdote, havia muitos baptizados que não percebiam a sua missão, e São Vicente insistia que os baptizados devem perceber a sua missão e todos são chamados a colaborar na missão da Igreja e, para tal, “é necessária a formação”.
Catequistas na missão da Igreja em Moçambique
Também a Igreja em Moçambique é evangelizada pelos Catequistas, na sua maioria leigos, sublinhou o Padre Mauaie, motivo pelo qual, disse, a Congregação dos Palotino encontrou em Pemba terreno fértil para renovar o espírito missionário, do anúncio – “e devo dizer com muita alegria que, como Palotinos, estamos a prosperar em Moçambique”, acrescentou.
Na verdade, ressaltou ainda o Padre Eusébio, é muito importante o papel do Catequista na Igreja em geral, e também nas Igrejas locais e particulares. Em Moçambique, por exemplo, “a Igreja teve altos e baixos, particularmente na época em que era perseguida e na qual os seus missionários (sobretudo europeus) tiveram que voltar para as suas terras, e quem ficou a salvar a Igreja em Moçambique foram os Catequistas” - reconheceu o sacerdote.
Então, para a fundação e consolidação da fé dos seguidores de Cristo, “os Catequistas são tão importantes que sem eles podemos quase se pode dizer que a Igreja moçambicana não iria para frente, não poderia florescer, e o mesmo se diga para a Igreja no mundo, pois têm anunciado nas próprias línguas locais a Boa Nova da salvação”, afirma o sacerdote.
Palotinos e pastoral do acolhimento em Cabo Delgado
Padre Eusébio falou também da missão dos Palotinos na diocese de Pemba (Cabo Delgado), na Paróquia de Namuno, onde se encontram desde 2016, pouco antes do início dos ataques terroristas, em outubro de 2017. Hoje, a província de Cabo Delgado é associada à guerra e ao terrorismo, como se não existisse nada de bom que possa vir de lá, disse ainda o Padre Eusébio sublinhando que, na missão, “temos enfrentado muitas dificuldades, mas também temos tido várias alegrias, aliás, mais alegrias que dificuldades”.
E as dificuldades da missão em Cabo Delgado, prosseguiu o sacerdote Palotino, são sobretudo as relacionadas com os ataques terroristas, pois a Paróquia tem sido o destino para o acolhimento dos deslocados internos vindos da região norte da província, mais exposta às incursões terroristas. Desde o início, portanto, os missionários têm feito a pastoral do acolhimento que não consiste apenas em acolher o deslocado e deixá-lo lá no lugar: “uma pessoa que vem chega sem nada, apenas procura a sobrevivência, e o primeiro lugar que procura é a Igreja”, explicou ainda o Padre Mauaie.
Trata-se de uma pastoral, insistiu, feita juntamente com a diocese e a Caritas diocesana, e também em parceria com outras organizações, e já chegaram de acolher mais de 20 mil deslocados internos vindos de fora. E, quando foi dos ataques de outubro a novembro de 2022, muito próximo da Paróquia, tiveram “mais de 40 mil deslocados dentro da vila, único lugar onde o povo das aldeias se podia refugiar com segurança”, disse Padre Eusébio acrescentando que também a Paróquia abriu as portas e tantos outros lugares para o acolhimento.
Assistência psicossocial e para a autossustentabilidade
A pastoral que se tem vindo a fazer, reitera ainda o missionário, consiste sobretudo em acompanhar os deslocados, dando-lhes antes de tudo pão e água e, em seguida, a assistência psicossocial: “tem um grupo da Paróquia que trabalha com as famílias para orientá-las ao espírito de resiliência, para perceberem que, mesmo caindo, podem se levantar”, enfatizou. Também em parceria com a Caritas e outras organizações, os Palotinos têm dado instrumentos de trabalho para os deslocados poderem trabalhar por conta própria, uma pastoral, portanto, em vista à autossustentabilidade e não simplesmente a assistência de emergência.
Existe grande harmonia, sinergia e colaboração entre os diferentes grupos religiosos, e estes com os leigos, no trabalho pastoral da diocese, pois tem havido esforços para evitar o “congregacionismo” (o “isto que faço é da minha Congregação”) – o que se quer é uma Igreja a se desenvolver, e a “Igreja de Pemba precisa de pessoas que se unam mais do que se dividirem devido aos carismas diferentes”, ressaltou o Padre Eusébio, que nisto vê também o espírito do Fundador que queria “que todos pudessem trabalhar em prol da renovação da fé dos fiéis”.
Palotinos e empenho com os jovens no estudo
O nosso entrevistado quis também dedicar uma palavra ao jovem moçambicano que, disse, “precisa de se identificar com algo que ele queira, que não fique “panguando” de um lado para o outro, pois tem muitas propostas que no fim não o levam àquilo que gostaria de ser futuramente. E, por isso, o jovem precisa abraçar o estudo, porque é o estudo que vai fazer com que ele cresça e se desenvolva, para então fazer aquilo que gostaria de ser no futuro.
“Prosperidade é fruto de sacrifícios”
E, com certo orgulho, o Padre observou que existem muitos jovens, e não são só católicos, que aderem aos projectos de estudo organizados pela Paróquia, como os sete jovens (cinco dos quais antigos deslocados internos) que beneficiaram da oportunidade de bolsas de estudo e que agora vão terminar a formação em Nampula – “isto é muito bonito, e trabalhar com a juventude é a minha alegria, porque de lá consigo ter as energias e forças para me renovar”, afirmou o sacerdote.
A terminar, a mensagem que o Padre Mauaie quis dirigir a todos os jovens é que eles não se iludam com coisas fáceis, porque tudo requer sacrifício, e a prosperidade é fruto de sacrifício: “hoje nos são apresentados projectos fáceis, e então achar que tudo é fácil, não, há sempre um sacrifício por fazer, todo o jovem tem que passar pelo sacrifício” – concluiu dizendo o Palotino Padre Eusébio.
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