Toussaint Louverture - Uma referência emancipadora
Dulce Araújo - Vatican News
A emissão semanal do Programa Português (África) da Rádio Vaticano, "África em Clave Cultural: personagens e eventos" evocou no dia 11 de abril de 2024 a figura de Toussaint Louverture, o maior líder da Revolução Haitiana, com o intento de proporcionar elementos que possam ajudar a compreender as causas profundas da situação em que o Haiti se encontra atualmente.
Na sua habitual crónica, o poeta, ensaísta e editor (Rosa de Porcelana Editora) Filinto Elísio traça o perfil desse grande líder, nascido escravo nas Caraíbas, mas que se libertou, venceu exércitos europeus e lutou para que os ideais de liberdade que animavam então o mundo beneficiassem todos os seres humanos, sem distinção alguma, indo assim, mesmo para além - explica o filósofo Severino Elias Ngoenha - da ideia de liberdade propagada pela Revolução Francesa e pela Revolução Americana.
Na sua lúcida análise das causas e consequências da aspiração de Toussaint Louverture à liberdade para todos, Ngoenha evidência a dificuldade de universalizar certos ideias por parte daqueles que os proclamam. Essa dificuldade ou falta de vontade de estender esses direitos a todos, leva os haitianos, guiados por Toutsaint Louverture, a pegar, com sucesso, em armas para conquistar os seus direitos.
Mas a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder desemboca no restabelecimento da escravatura e, mais uma vez, os negros são obrigados a pegar em armas e a proclamar a própria independência.
De boa fé, Toussaint Louverture chega a acordo com Napoleão que acabará, todavia, por traí-lo e emprisioná-lo em França, onde viria a morrer.
O preço económico que a França exigiu do Haiti como indemnização aos esclavagistas é, ao lado das várias invasões estrangeiras, um dos importantes fatores exógenos que - sublinha Nguenha - determinam a situação do Haiti hoje. Isto, sem excluir fatores endógenos como as diversas ditaduras por que o país tem passado.
Severino Elias Ngoenha põe ainda em relevo a ligação entre o Haiti e a África e compara o Haiti à Palestina, ambos postos, pela comunidade internacional, em situação de não poder desabrochar dignamente.
O quadro histórico traçado por Severino Elias Ngoenha pode levar a pensar que o Haiti está num beco sem saída. Em que se deve, então, basear-se para encontrar o caminho do progresso, da elevação da sua cultura e da dignidade do seu povo?
Respondendo a este quesito, Severino põe em evidência a necessidade de uma séria intervenção da comunidade internacional, a necessidade de os africanos apoiarem esse povo, pois o Haiti é, de certo modo, a génese da libertação da África.
Significa isso que o Haiti por si só, não tem capacidade para sair da situação em que se encontra?
Ao responder a esta pergunta, Ngoenha recorda que todos os países em situações de emergência recorrem à ajuda de outros. Não há nenhum mal, nem vergonha nisso.
Finalmente, a concluir, este estudioso de Filosofia da História põe em realce o significado profundo de Toussaint Louverture e do Haiti para a África de hoje e para a sua diáspora: ter a consciência de que confiar em pessoas, cuja lealdade não se conhece, subir para "barcos" de outros, pode ser perigoso.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui