Maurício Francisco Caetano “é o nosso antropólogo maior”
Dulce Araújo - Vatican News
Depois de Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Brasil, os dois volumes da antologia "Os Bantu na visão de Mafrano: quase memórias" vão ser agora apresentados em Lisboa e Porto, respetivamente na Biblioteca do Palácio Galveias e na Casa Comum da Universidade do Porto, a 18 de julho e a 9 de agosto de 2024, às 19 horas.
A obra cujo terceiro volume deverá sair ainda este ano, é uma recolha de textos, de caracter antropológico, deixados pelo etnólogo e escritor angolano, Maurício Francisco Caetano, que faleceu há 42 anos, e nos quais, numa ótica cientifica, mostrava, nos tempos em que se negava a existência duma civilização negra, que a cultura bantu já existia havia milhares de anos e que, como afirma Dom Zacarias Kamwenho, não é nem superior nem inferior à de outros povos do mundo.
Educado em ambiente cristão-católico, Maurício Francisco Caetano, era uma pessoa muito culta que se dedicou a estudos das ciências sociais e, por isso, os seus escritos são de grande valor para a sociedade e a Igreja de hoje - explica ainda o arcebispo emérito do Lubango que, não só prefaciou o livro, como foi também o seu apresentador no Seminário P. Sikufinde de Lubango e na Universidade Católica de Luanda.
Já o filho de Mafrano, José Soares Caetano, jornalista e escritor, que tem levado a cabo a procura e recolha dos textos do pai, explica que o fez por pressão de amigos e por uma observação da mãe que lhe ficou impressa e o empurrou a pôr de lado os seus próprios projetos para abraçar essa tarefa que durou doze anos até chegar a esses três volumes e ainda vai continuar.
Emocionado por esse grande homem que era o seu pai, José Caetano fala do teor dos vários escritos de Maurício Francisco Caetano, do denominador comum que apresentam ao ponto de justificar o título da antologia, mas também das profundas críticas sociais que tecia, de forma inteligente, à sociedade do seu tempo, das recordações que tem dele e da necessidade de elementos suficientes para traçar verdadeiras memórias e não "quase memórias".
Sobre a importância do legado de Maurício Francisco Caetano para a Igreja de hoje, Dom Zacarias Kamwenho sublinha que é de grande ajuda para a evangelização na linha da inculturação aberta pelo Concílio Vaticano II e para conhecer melhor o ser humano a quem se quer evangelizar, neste caso os bantu. Saber quem são, donde vêm, para onde vão. O arcebispo, que conheceu Mafrano e conviveu com ele, oferece também alguns elementos esclarecedores sobre a cultura bantu, que se baseia em três pilares fundamentais e interdependentes: o homem, a família, a terra.
Ainda acerca da importância desta obra, José Soares Caetano cita o Prof. Doutor, Kabenguele Munanga, uma das maiores autoridades na área da Antropologia Cultural e que apresentou a obra na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o qual recomendou aos académicos africanos para estudarem a obra de Mafrano nas suas cátedras.
Sobre estes e outros aspetos da conversa com Dom Zacarias Kamwenho e com José Soares Caetano acerca da obra de Maurício Francisco Caetano, oiça a emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” dedicada à supracitada antologia.
Fotos: cortesia de José Soares Caetano.
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