O I volume da antologia O I volume da antologia  

Maurício Francisco Caetano “é o nosso antropólogo maior”

É assim que Dom Zacarias Kamwenho define Maurício Caetano, etnólogo e escritor angolano, falecido em 1982 e cujos escritos estão agora reunidos na antologia “Os Bantu na visão de Mafrano: quase memórias”. A obra, já apresentada em vários países, foi prefaciada pelo arcebispo emérito de Lubango. Da importância desta obra para a Igreja falou à Rádio Vaticano, enquanto que o filho de Mafrano (pseudónimo do autor) explica porque se lançou na recolha dos escritos do pai.

Dulce Araújo - Vatican News

Depois de Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Brasil, os dois volumes da antologia "Os Bantu na visão de Mafrano: quase memórias" vão ser agora apresentados em Lisboa e Porto, respetivamente na Biblioteca do Palácio Galveias e na Casa Comum da Universidade do Porto, a 18 de julho e a 9 de agosto de 2024, às 19 horas. 

A obra cujo terceiro volume deverá sair ainda este ano, é uma recolha de textos, de caracter antropológico, deixados pelo etnólogo e escritor angolano, Maurício Francisco Caetano, que faleceu há 42 anos, e nos quais, numa ótica cientifica, mostrava, nos tempos em que se negava a existência duma civilização negra, que a cultura bantu já existia havia milhares de anos e que, como afirma Dom Zacarias Kamwenho, não é nem superior nem inferior à de outros povos do mundo. 

Dom Zacarias Kamwenho apresentando o livro na Universidade Católica de Luanda
Dom Zacarias Kamwenho apresentando o livro na Universidade Católica de Luanda

Educado em ambiente cristão-católico, Maurício Francisco Caetano, era uma pessoa muito culta que se dedicou a estudos das ciências sociais e, por isso, os seus escritos são de grande valor para a sociedade e a Igreja de hoje - explica ainda o arcebispo emérito do Lubango que, não só prefaciou o livro, como foi também o seu apresentador no Seminário P. Sikufinde de Lubango e na Universidade Católica de Luanda. 

Dom Zacarias Kamwenho com os estudantes que tomaram parte na apresentação da antologia
Dom Zacarias Kamwenho com os estudantes que tomaram parte na apresentação da antologia

Já o filho de Mafrano, José Soares Caetano, jornalista e escritor, que tem levado a cabo a procura e recolha dos textos do pai, explica que o fez por pressão de amigos e por uma observação da mãe que lhe ficou impressa e o empurrou a pôr de lado os seus próprios projetos para abraçar essa tarefa que durou doze anos até chegar a esses três volumes e ainda vai continuar. 

O filho de Mafrano, José Soares Caetano, jornalista e escritor
O filho de Mafrano, José Soares Caetano, jornalista e escritor

Emocionado por esse grande homem que era o seu pai, José Caetano fala do teor dos vários escritos de Maurício Francisco Caetano, do denominador comum que apresentam ao ponto de justificar o título da antologia, mas também das profundas críticas sociais que tecia, de forma inteligente, à sociedade do seu tempo, das recordações que tem dele e da necessidade de elementos suficientes para traçar verdadeiras memórias e não "quase memórias". 

O II volume da antologia
O II volume da antologia

Sobre a importância do legado de Maurício Francisco Caetano para a Igreja de hoje, Dom Zacarias Kamwenho sublinha que é de grande ajuda para a evangelização na linha da inculturação aberta pelo Concílio Vaticano II e para conhecer melhor o ser humano a quem se quer evangelizar, neste caso os bantu. Saber quem são, donde vêm, para onde vão. O arcebispo, que conheceu Mafrano e conviveu com ele, oferece também alguns elementos esclarecedores sobre a cultura bantu, que se baseia em três pilares fundamentais e interdependentes: o homem, a família, a terra. 

Dom Zacarias Kamwenho com José Caetano e outras personalidades ligadas a Mafrano e à antologia
Dom Zacarias Kamwenho com José Caetano e outras personalidades ligadas a Mafrano e à antologia

Ainda acerca da importância desta obra, José Soares Caetano cita o Prof. Doutor, Kabenguele Munanga, uma das maiores autoridades na área da Antropologia Cultural e que apresentou a obra na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o qual recomendou aos académicos africanos para estudarem a obra de Mafrano nas suas cátedras. 

Sobre estes e outros aspetos da conversa com Dom Zacarias Kamwenho e com José Soares Caetano acerca da obra de Maurício Francisco Caetano, oiça a emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” dedicada à supracitada antologia.  

Oiça
O Cardeal Dom Arlindo Furtado, Bispo de Santiago de Cabo Verde, onde o livro foi também apresentado.
O Cardeal Dom Arlindo Furtado, Bispo de Santiago de Cabo Verde, onde o livro foi também apresentado.
Dom Francisco Chimoio, Arcebispo Emérito de Maputo com duas netas de Mafrano, em Maputo.
Dom Francisco Chimoio, Arcebispo Emérito de Maputo com duas netas de Mafrano, em Maputo.

Fotos: cortesia de José Soares Caetano. 

 

 

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12 julho 2024, 15:39