Uma comunidade com boa reputação, generosa e firme na sua fé
Dulce Araújo - Vatican News
Religiosa há quase dez anos, formada em jornalismo, a Irmã Sãozinha Vaz está atualmente a fazer um estágio de três meses na Rádio Vaticano, no âmbito do projeto "Pentecostes", que visa valorizar e dar visibilidade às religiosas e ao seu papel na Igreja e na sociedade.
Reabilitar a Comunidade de "Bon Voyage"
Ela veio de Nice, no sudeste da França onde, a pedido da Diocese daquela cidade, a sua Congregação está presente desde 2015 a prestar serviço de acompanhamento socio-espiritual à comunidade da igreja "Bon Voyage" pertencente à Paróquia de São Carlos de Foucauld. Essa comunidade é formada de emigrados congoleses, senegaleses e sobretudo cabo-verdianos, esta última representando cerca de 30% da população e dos cristãos daquela cidade francesa. Quando lá chegou a Congregação, a igreja “Bon Voyage” estava quase de portas fechadas, tendo a comunidade muçulmana feito pedido para a utilizar como lugar de culto. Hoje é uma comunidade católica viva e animada.
Uma prioridade urgente
Atualmente - explica esta jovem religiosa - são quatro irmãs, duas senegalesas e duas cabo-verdianas, a levar avante essa missão, mediante uma pastoral de proximidade para que as pessoas, nas suas vicissitudes, sintam que há alguém que pensa nelas e reza por elas. É que, embora se trate duma comunidade viva, generosa e que procura viver a sua fé, não faltam aspetos críticos que exigem uma abordagem consistente para serem melhor enfrentados. Um deles é a questão da língua. Muitos cabo-verdianos, mesmo estando lá há muitos anos, não dominam o francês e isto tem uma certa influência mesmo na vivência da fé, como por exemplo no sacramento da confissão. A comunidade dispõe apenas de um padre estudante em Roma - P. António Martins - que vai a Nice por ocasião das grandes solenidades, mas, na opinião da Irmã Sãozinha, ter um padre cabo-verdiano residente nessa comunidade é algo fundamental que os bispos de Cabo Verde e de Nice deveriam ver como uma prioridade urgente, pois a comunidade precisa e há pelo menos dez anos que anda a manifestar este desejo. No que toca ao aspeto da língua, a irmã anuncia que há projetos a ser estudados para enfrentar a questão. Mas assinala também indícios de uma baixa autoestima da parte da comunidade, o que acaba por ter influência na integração social e, consequentemente, também na saúde mental das pessoas.
Interação entre as três componentes da comunidade "Bon Voyage"
Nice é uma cidade de imigrados, afirma a irmã Sãozinha reconhecendo, todavia, que para além das partilhas de carater cultural entre congoleses, senegaleses e cabo-verdianos nas animações no âmbito da Igreja "Bom Voyage", falta uma maior interação no sentido de reforçar a consciência de pertença ao mesmo continente, a África, e transmitir isso às novas gerações. Isso poderia beneficiar também o aspeto da vivência da fé nessa sociedade já bastante secularizada.
É preciso fazer mais para acompanhar humana e espiritualmente a comunidade
Satisfeita do ponto de vista pessoal por esta missão que a ajuda a reforçar a sua fé, a irmã Sãozinha Vaz, admite, todavia, que ser missionária numa sociedade secularizada como a França não é fácil. Por vezes, até têm de pôr de lado o hábito religioso para não dar nas vistas, pois, não faltam perigos. Sentem-se, contudo, respeitadas, no bairro da Comunidade de Bon Voyage, onde bom número de habitantes são de religião muçulmana. O trabalho que a sua Congregação tem feito em "Bon Voyage" é louvável, mas considera que é preciso fazer ainda mais para acompanhar humana e espiritualmente essa comunidade que não perdeu, porém, a sua identidade religiosa.
Quanto ao estágio na Rádio Vaticano, esta religiosa que fez em 2023 os votos perpétuos, considera que se trata de uma dádiva de Deus, que lhe está a enriquecer muito.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui