Escritores de língua portuguesa reunidos na Cidade da Praia
Dulce Araújo - Vatican News
Nascido como encontro itinerante para favorecer o diálogo e o enriquecimento entre escritores de língua portuguesa, o Encontro, anual, acabou por estabilizar-se na cidade da Praia que, aliás, faz parte da rede das cidades criativas da UNESCO.
Sobre este XII Encontro, o VII a decorrer em Cabo Verde, debruçou-se o programa da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos” do dia 5 de setembro 2024, com crónica do parceiro, Filinto Elísio (escritor e editor), acerca do teor, programa e mesmo uma breve nota crítica relativa à circulação de livros na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa); e considerações de dois dos intervenientes no encontro: a escritora e jurista cabo-verdiana, Vera Duarte, e Tony Tcheka, jornalista e escritor da Guiné-Bissau.
Eis aqui a sua crónica
ENCONTRO LITERÁRIO DA UCCLA
Decorre de 5 a 8 de setembro, na cidade da Praia, República de Cabo Verde, a XII edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa - UCCLA, em parceria com a Câmara Municipal da Praia e a Empresa de Mobilidade e Estacionamento da Praia, numa homenagem nesta edição ao Centenário do nascimento de Amílcar Cabral e ao V Centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões.
Fazem-se representar neste encontro literário anual da Praia, escritores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Sob o tema geral "Literatura, Liberdade e Inclusão" destacam-se mesas temáticas como Camões e a Identidade Literária da Língua Portuguesa, Literatura e Liberdade: Homenagem ao centenário do nascimento de Amílcar Cabral, Literatura e Inclusão, para além de ações como a Tertúlia Literária sob o título “Conde Silvenius e a corte dos poetas, no seu segundo castelo, o Café Sofia” – um tributo ao poeta Arménio Vieira, a Apresentação do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CML: Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa (sendo vencedora Fernanda Ribeiro (brasileira, com o romance intitulado “Cantagalo”) e o Encontro de escritores estrangeiros com estudantes, escritores locais, agentes culturais, “Mano a Mano Literário” - José Luiz Tavares & Mário Lúcio Sousa e o lançamento do Livro “Um Preto de Maus Bofes”, do Escritor José Luiz Tavares.
Pela oportunidade e pertinência, um dos tópicos a abordar neste e noutros encontros literários lusófonos seria o questionamento crítico sobre circulação das obras e dos autores pelos estados da CPLP, com foco na isenção de taxas alfandegárias ou impostos na circulação de livros e em políticas do livro e da leitura pública convergentes.
Nesta edição de 2024, do país anfitrião Cabo Verde, participam os escritores António Correia e Silva, Arménio Vieira, Augusta Teixeira, Cheila Delgado, Comandante Pedro Pires, Daniel Mendes, Germano Almeida, José Luiz Tavares, Mário Lúcio, Nardi Sousa, Paulo Veríssimo e Vera Duarte.
Ainda entre os participantes, constam Alfredo Ferreiro Salgueiro, da Galiza, da Guiné-Bissau Tony Tcheka, de Moçambique Luís Carlos Patraquim, de Portugal – Inês Barata Raposo, Isabel Alçada (vídeo), José Pires Laranjeira e Rita Marnoto, de São Tomé e Príncipe Olinda Beja e de Timor-Leste Luís Cardoso.
O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, procede à abertura da XII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa e o encerramento do certame está a cargo do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Augusto Veiga.
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Neste dia 6 intervém numa mesa redonda integrada no painel “Literatura e Liberdade: em homenagem ao centenário do nascimento de Amílcar Cabral” o escritor Tony Tcheka. Em entrevista à Rádio Vaticano, manifestou apreço pelo Encontro e disse que vai falar de Amílcar Cabral que conheceu desde cedo através de bobinas da Rádio Libertação e de encontros com Mário Pinto de Andrade. Refere ter tido sempre grande admiração pela postura de Amílcar Cabral, homem sonhador, concreto, perseverante. A sua intervenção - garantiu - será, portando, sobre esse “sonhador” e sobre o sonho de dignidade que Cabral tinha para os povos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, da África, sonho do qual a Guiné-Bissau se desviou, levando os seus filhos a vergonhar-se hoje do “país que têm”, ou melhor, “que não têm”. Lamenta também pelos sinais que há de se querer adiar ou passar para segundo plano as comemorações do Centenário de Nascimento de Amílcar Cabral para uma data diferente do 12 de setembro, mas exprime confiança de que a nova geração de jovens, cada vez mais conscientes da situação do país, possam contribuir para a mudança necessária.
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Já no dia 7, intervirá, no painel “Literatura e Inclusão” a escritora e jurista, Vera Duarte, que realça como “selo de qualidade e dignidade” deste Encontro o facto de homenagear Amílcar Cabral, “grande profeta da inclusão” e de ele estar (nessa homenagem) na “boa companhia” de Luís Vaz de Camões, poeta maior e divulgador da língua portuguesa.
Vera Duarte antecipou à nossa Emissora os eixos principais da sua intervenção em que vai evocar obras de escritores e escritoras de vários horizontes para pôr em evidência o contributo da literatura em prol da inclusão, incluindo o aspeto da beleza e da generosidade.
Não obstante os progressos feitos pela humanidade em garantir os direitos de todos a uma vida digna, muita luta resta por fazer e nisto, Amílcar Cabral constitui uma grande referência. No que toca aos direitos das mulheres, por exemplo, Vera Duarte recorda que ele foi um dos primeiros a elevar a voz em favor da dignidade da mulher. Muito se deve a ele e é uma “grande honra” - sublinha esta poeta e romancista - celebrar o seu centenário. E anuncia que está para sair um conto infantil, ilustrado, sobre Abel Djassi (pseudónimo de Amílcar Cabral), da sua autoria, como “prova da admiração que tem por ele e de tudo o que lhe inspirou ao longo da sua vida.”
Fotos: cortesia da UCCLA
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