Dom Ignace Bessi Dogbo, arcebispo de Abidjan, Costa do Marfim, nomeado cardeal pelo Papa Francisco no domingo, 6 de outubro de 2024 Dom Ignace Bessi Dogbo, arcebispo de Abidjan, Costa do Marfim, nomeado cardeal pelo Papa Francisco no domingo, 6 de outubro de 2024 

Costa do Marfim. Nomeado Cardeal, Dom Bessi convida-nos a entrar no espírito sinodal

A Igreja acolherá 21 novos cardeais durante o consistório que se realizará a 7 de dezembro. O anúncio foi feito pelo Santo Padre durante o Angelus de domingo, 6 de outubro. Consta na lista o nome do Dom Ignace Bessi Dogbo, arcebispo de Abidjan, na Costa do Marfim. Um pensamento para o povo da Costa do Marfim e o desejo do fim do terrorismo nas zonas afetadas da África Ocidental são os sentimentos e as orações do futuro cardeal da Costa do Marfim, que falou ao Vatican News.

Stanislas Kambashi, SJ – Cidade do Vaticano

Enquanto ele estava fechado no seu quarto de hotel e trabalhava sobre o Instrumentum Laboris, o documento de trabalho para o Sínodo em que está a participar, Dom Bessi foi surpreendido por telefonemas que lhe diziam “Auguri - Parabéns”. Era o anúncio de uma grande notícia que ele não esperava. Durante o Angelus, o Papa Francisco tinha acabado de anunciar a sua nomeação como Cardeal. “Fiquei estupefacto”, diz o arcebispo de Abidjan, que agradece ao Santo Padre a confiança que depositou nele. A sua reação a esta surpresa foi um Fiat voluntas tua. “Todos nós estamos ao serviço da Igreja. Por isso, se o Senhor pensa que alguém está mais próximo do Santo Padre para lhe dar conselhos e recebê-los dele, só pode dar graças e também agradecer ao Santo Padre pela sua confiança”, disse o futuro Cardeal.

Confiança, apesar das limitações

O Arcebispo de Abidjan não esquece a sua condição limitada e conta com a graça de Deus. Com humor, fala da sua condição física durante a primeira sessão do Sínodo de outubro de 2023. “Entre os membros do Sínodo, no ano passado, eu era o único que, tal como o Santo Padre, tinha um carrinho, uma cadeira de rodas”. Apesar dos problemas de saúde que possam surgir, o futuro Cardeal mantém-se confiante nesta nova responsabilidade, que o poderá obrigar a viajar muito.

A alegria e o apoio do povo da Costa do Marfim

O povo da Costa do Marfim não escondeu a sua alegria com a notícia. As reações chegaram de todos os lados. “Um digno filho da Costa do Marfim foi a Roma vestido de violeta e regressou vestido de púrpura”, lê-se nas redes sociais. Na sua aldeia natal, uma banda de música tocou para a ocasião. Entre as primeiras chamadas telefónicas, conta-se uma do Primeiro-ministro da Costa do Marfim, Robert Beugré Mambé, que Dom Bessi considerou “muito reconfortante”. Membros do governo e muitas outras pessoas enviaram também mensagens de felicitações. “Todo o país está muito feliz e à espera de ver o que isto pode fazer pela coesão e reconciliação do país”, disse o prelado.

“Ser conselheiro do Papa abre-nos o espaço, os olhos e o coração”. Ao vermos o que se passa no mundo, ficamos mais fortes para sermos mais úteis ao nosso país, em todos os domínios da vida, tanto religioso como político”, afirmou Dom Bessi.

O mundo beneficiaria com o controlo do terrorismo

Referindo-se à África Ocidental, assolada pelo terrorismo, o futuro Cardeal exprimiu a sua indignação pelo facto de os países ricos em recursos naturais serem perpetuamente confrontados com tais tensões. Para ele, o terrorismo é como um “inimigo invisível, uma hidra sem cabeça, mesmo que possamos mais ou menos adivinhar onde está a cabeça”. Tudo isto, lamenta, sob o olhar atento da comunidade internacional.

A convite do Papa Francisco, os participantes no Sínodo e muitos fiéis reuniram-se na Basílica de Santa Maria Maggiore na noite de domingo, 6 de outubro, para rezar o Terço pela paz no mundo. Para Dom Bessi, foi uma consolação ver que o Santo Padre partilhava as preocupações da sub-região da África Ocidental, de onde é originário, e as preocupações de todos os países em estado de guerra. O prelado também não escondeu a sua consternação pelo facto de o mundo inteiro não ser capaz de controlar o terrorismo, sabendo que a paz nestas regiões conturbadas seria benéfica para as relações e parcerias vantajosas para todos. “Temos a impressão de que o mundo inteiro está enfraquecido perante o terrorismo. As grandes potências que conhecemos, que dispõem de todos os meios para controlar tudo numa questão de segundos, têm dificuldade em fazê-lo”, salienta.

Um bispo sinodal

Dom Ignace Bessi foi nomeado Cardeal enquanto a Igreja refletia sobre a sinodalidade, com a sua participação direta. Para este prelado, é um sinal de que o Senhor o convida a continuar a ser um “bispo sinodal”, um bispo que escuta. “Escutar o espírito que fala à sua Igreja e que fala através de todos nós, mesmo dos mais pequenos”. O bispo não sabe tudo”, declara, referindo-se à epístola de S. Paulo aos Filipenses, no seu segundo capítulo, os três primeiros versículos: ‘Estimai os outros acima de vós mesmos...’.  Esta atitude, segundo ele, é fundamental, na medida em que Deus deu a cada pessoa um carisma particular. Quando compreendemos isto, ficamos atentos aos outros, sacerdotes, leigos, consagrados, escutamos o que Deus nos pode dizer através deles e recebemos o que eles trazem à Igreja”, sublinha.

Este espírito sinodal acompanhou Dom Bessi quando era presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim. Nessa altura, teve o reflexo de reunir todos os seus confrades para refletir sobre uma visão e um plano comuns, em vez de elaborar uma espécie de plano estratégico pessoal. Foi durante o mesmo período que o Santo Padre apelou à reflexão sobre a missão da Igreja como comunhão e participação.

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10 outubro 2024, 10:44