Catolicismo na literatura brasileira: da negação na história à redescoberta
Silvonei José e Andressa Collet - Cidade do Vaticano
A presença do sagrado na literatura leva o nome de “teopoética”. É a linha de pesquisa investigada por um pequeno grupo de dez brasileiros em todo o país que busca não apenas “resgatar a dimensão do catolicismo na literatura, como também ajudar a difundi-la, através de teses de doutorado e dissertações de mestrado”, explica Leandro Garcia, doutor em Ciência da Religião e professor na Universidade Federal de Minas Gerais.
Há 10 anos, desde que terminou o PhD, Leandro desenvolve a linha de pesquisa da teopoética, principalmente pra não negar a sua presença na história oficial.
“A literatura brasileira tem uma presença do catolicismo muito forte, embora um grande erro da historiografia nossa no Brasil é ignorar isso. Porque, infelizmente, a nossa historiografia foi muito marcada por historiadores marxistas que não só negaram como deletaram essa presença do sagrado católico, do catolicismo, não apenas na nossa cultura mas, de forma específica, na nossa literatura. Porque a nossa literatura ela nasce sob o signo católico que é justamente chamada de literatura jesuítica. As nossas primeiras manifestações literárias foram dos padres missionários: do Pe. Vieira, com os Sermões e as Cartas, e do Pe. Anchieta, no teatro e na poesia. Eles conseguiram, através da catequese que foi feita inicialmente no Brasil, desenvolver todos os gêneros literários da nossa literatura. Depois, uma nova presença muito forte do catolicismo é na poesia de Gregório de Matos no barroco brasileiro.”
A literatura brasileira é muito complexa por seus desmembramentos em 500 anos de vida e com escritores das mais diferentes tendências ideológicas. Atualmente, porém, poucos tematizam a dimensão católica do sagrado porque, segundo o professor, a literatura de hoje é mais direcionada à “uma tendência de sagrado exotêrico”.
Leandro também aborda a dificuldade de estudar esses temas e de ser rotulado dentro da universidade pública como conservador, “no tom bem brasileiro e pejorativo mesmo. E eu acho que a gente perde muito quando fica com esses preconceitos”, enfatiza ele. Num universo de 136 professores onde atua, apenas ele pesquisa a linha da teopoética: “isso é um caos pra mim e inaceitável. É difícil manter a fé na universidade pública”, acrescenta o professor.
Sem esquecer, inclusive, que a própria ideia de universidade surgiu na Idade Média com a Igreja católica, então, “o nosso conceito de universidade é católico medieval e precisa ser valorizado”.
“As faculdades de Letras no Brasil e a crítica literária brasileira perderam muito em negar porque, segundo eles, é coisa de católico, é coisa de gente religiosa, então isso não deve ser estudado. E pra mim é o contrário: tem de ser estudado!”
O professor Leandro Garcia, da Universidade de Minas Gerais, esteve em Roma no final de 2017 para um evento literário promovido pela Embaixada do Brasil na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
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