Comece: cultura cristã é diálogo, respeito pela alteridade
Cidade do Vaticano
A cultura cristã é unidade na diversidade. É diálogo, respeito pela alteridade. Escuta do outro. E hoje há uma desesperada falta de sentido de alteridade em nossas sociedades.” Essa é a contribuição específica que a cultura cristã dá hoje à Europa: disse o secretário geral da Comece (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia), Pe. Olivier Poquillon, na Conferência de diálogo sobre “Promover o patrimônio cristão da Europa”, promovida pelo organismo eclesial europeu no quadro do Ano europeu do patrimônio cultural designado pela União Europeia para este 2018.
“Estamos dentro de sistemas antropológicos que rejeitam o outro somente porque diferente. A alteridade, patrimônio cristão para a humanidade, criou uma antropologia que faz do homem um ser em relação, que recebe a vida, a compartilha e a transmite.”
“São 2000 anos que a Igreja vive na Europa”, observou o frade dominicano. “Sua presença não é uma herança no sentido que se espera sua morte para acolhê-la. A Igreja é uma realidade viva.”
“Fala-se que os povos europeus não amam a Europa”, frisou o secretário geral da Comece. “Mas talvez não amem suas instituições. A Europa, na realidade, é uma instituição jovem, deve talvez simplesmente superar este momento de adolescência para tornar-se adulta e encontrar finalmente aquela maturidade que lhe permitirá dialogar com todos, sem ter medo da alteridade, da diferença. Somente desse modo será novamente capaz de construir juntos o bem comum”, destacou.
“A dignidade da pessoa humana e a visão humanista foi a grande contribuição que a tradição judaico-cristã deu ao patrimônio cultural da Europa. Se esquecermos que o homem é o sujeito de nossas ações, teremos em mente somente aquilo que dá renda, aquilo que serve, aquilo que produz lucro”, disse, por sua vez, o bispo italiano de Piacenza e vice-presidente da Comece, Dom Gianni Ambrosio, no referido evento.
Durante a manhã desta quarta-feira (31/01) expoentes de vários países apresentaram quatro “boas práticas” de utilização do patrimônio religioso, como sinal da imensa riqueza espiritual e cultural que o cristianismo deixou ao longo dos séculos no Velho Continente: a restauração da capela de São Martinho em Stari Brod, na Croácia, a peregrinação de São Columbano, os hinos cantados na região de Samogitia na Lituânia e a Catedral de Chartres na França.
A Igreja tem o dever de recordar que este patrimônio é patrimônio da civilização europeia. Por conseguinte, somos chamados como cidadãos europeus a redescobrir nossas raízes para poder oferecer a beleza da dignidade da pessoa humana, a beleza da arte e ajudar os povos a reconhecer-se uma só família que vive numa casa comum, a Europa”, acrescentou Dom Ambrosio.
Já o secretário do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Paul Tighe, afirmou que para a Igreja o Ano europeu do patrimônio cultural “é um momento que nos permite partilhar aquilo que temos, um patrimônio extraordinário, rico de monumentos e obras de arte, importante a nível histórico, cultural, artístico, mas também a nível existencial. Nossas pedras, nossas tradições, nossa música, nossa arte ainda podem falar ao coração do homem, podem ainda tocar as almas”, frisou.
-Para o prelado trata-se de um “patrimônio excepcional”, que é, porém, chamado a tornar-se “lugar de encontro, aberto ao diálogo entre crentes e não crentes, para entender juntos o que dá valor à vida, como podemos habitar juntos em nossas terras e construir uma sociedade inclusiva para todos”.
Num tempo de “analfabetismo religioso” difuso sobretudo entre os jovens, o patrimônio cultural das Igrejas permite “oferecer uma explicação daquilo em que acreditamos e porque inspirou tanta arte, e não o fazemos por proselitismo, mas para enriquecer, para partilhar nossa história com outros”, concluiu o bispo.
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