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Caritas vai realizar Fórum sobre liderança feminina

A Caritas Internationalis organizou há poucos dias em Roma, um encontro de trabalho com vista na realização de um Fórum o papel e o espaço que ocupam as mulheres na gestão das Cáritas. Vatican News conversou com algumas das participantes: Maria Cristina dos Anjos (Brasil); Margareth Mwaniki (Quénia) a irmã Françoise Messina (Camarões) e Martina Liebesch, da CI.

Cidade do Vaticano

Oiça as suas palavras na rubrica “África.Vozes Femininas”

Som….

Março, mês da mulher. Muitos os eventos que marcaram o dia 8 um pouco por todo o mundo. Em Roma, a Cáritas Internationalis (CI) escolheu essa quadra para um encontro de trabalho em preparação do Fórum sobre mulher e liderança nesta confederação das Cáritas mundiais. Foi nos dias 7, 8 e 9 e trouxe a Roma, pouco mais de uma dúzia de mulheres, entre as quais três da África. Não é a primeira vez que se faz um fórum sobre mulheres nas Cáritas. Já em 1999 e depois em 2003 o assunto foi enfrentado e alguns progressos foram feitos. Mas resta ainda muito por fazer. Então, as mulheres pediram que o tema fosse repensado, explicou Martina Liebsch, responsável das politicas internacionais da CI:

Durante a última assembleia geral da Cáritas em 2016, as mulheres que participaram nela pediram um espaço específico para as mulheres e foi dito que se teria organizado este espaço. Então, estamos aqui a pensá-lo, a dizer: ok, o que pode ser este espaço, para onde queremos que nos leve? E porquê este pensar? Porque, por um lado, vemos que nos lugares de liderança há ainda poucas mulheres. Por ex., em África, um continente com 48 Caritas nacionais  só há sete directoras e, no grosso, pode-se dizer que há cerca de 13% de mulheres na gestão das Cáritas. Mas este é só um aspecto. Neste nosso encontro foi sublinhado que há muitas mulheres na segunda fila, isto é que não estão na direcção e não são visíveis. Mas quando se vai a nível das caritas paroquiais, há muitas mulheres. Pode-se, portanto, dizer que a Cáritas tem um grande número de mulheres que dedicam o seu trabalho, o seu coração, a sua paixão à Cáritas, mas sentimos que seria necessário que as suas vozes fossem ouvidas, talvez, de maneira mais forte

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Se a África tem apenas sete mulheres directoras de Cáritas, num universo de 48 Cáritas nacionais, nos outros continentes a situação não é mais brilhante: a Europa – disse-nos Martina Liebsch – com 49 Cáritas só tem dez directores e a América Latina com 22, só tem cinco directoras.

Sendo esta a situação, é importante, ir alargando esses espaços às mulheres na Confederação que reúne todas as Cáritas do mundo, A Cáritas Internacional - disse-nos Maria Cristina dos Anjos- Assessora nacional das Caritas do Brasil para Migrantes e Refugiados.

A reunião de trabalho destes dias em Roma, foi, portanto, um pensar o Fórum que deverá ter lugar ainda este ano, ou em 2019, pouco antes da próxima assembleia geral da Cáritas que será no mês de Maio. Fazê-la próxima dessa Assembleia, assegurou Maria Cristina dos Anjos é já uma estratégia para atingir o objectivo de mais mulheres na gestão das Cáritas, mas há outras, como por ex., definir o perfil das mulheres nas Caritas

Nesta reunião de preparação do próximo Fórum, a África estava representada por três mulheres: Marina Almeida, Secretária Geral da Cáritas caboverdiana, Margareth Mwaniki, do Secretariado das Cáritas-Africa em Nairobi, e a irmã Françoise Messina, encarregada de Programas na Cáritas da Arquidiocese de Yaoundé, nos Camarões. Ela confirmou que as mulheres lá estão sobretudo a nível das paróquias…

Encontramos uma forte representação de mulheres sobretudo nas Cáritas paroquiais e de zonas, porque a Caritas da Arquidiocese está dividida em zonas rurais e urbanas. Mas de momento a preocupação das mulheres nas nossas Caritas não é realmente a procura de lugares, porque o contexto é diferente. A sua principal preocupação é assumir-se a si próprias, tornar autónomas as mulheres.

As mulheres da nossa região de Yaoundé, nos Camarões, estão ao corrente do que se passa no mundo, não transcuram isto. Acho que com o tempo conseguiremos fazer com que todas as mulheres tenham consciência dessa problemática da desigualdade entre homens e mulheres”.

-Mas há outras mulheres a ocupar lugares importantes nas Cáritas como a irmã, ou é preciso dar passos em frente neste sentido?

Sim, claro, seria necessário dar passos em frente neste sentido. É claro que os lugares importantes são preenchidos sempre pelos homens. Por isso, seria necessário fazer algo neste sentido. Creio que depois deste encontro de Roma na CI, vamos dirigir uma correspondência aos responsáveis regionais sobre as reflexões que fizemos aqui e criar um dinamismo que nos leve a partilhar as reflexões sobre o que esperamos da Igreja no que toca às desigualdades no seio das nossas Cáritas.

É claro que este encontro, pessoalmente, me abriu os olhos e estou confiantes… É, todavia, necessário dizer que há alguns responsáveis homens que nos encorajam neste sentido, isto é constatam que o problema é real e que é necessário fazer alguma coisa. Trata-se, claro, duma minoria, mas é já alguma coisa. Toca às mulheres entrar no jogo e fazer com que o número de homens que partilham a causa aumente.”

Margareth Mwaniki, do Quénia, considera que a situação de liderança feminina nas Cáritas tem melhorado, mas o caminho a percorrer é ainda longo. De qualquer modo – diz – os bispos não põem obstáculos:

A situação na Cáritas-África melhorou muito e actualmente temos até uma mulher Presidente. Tradicionalmente, são os bispos que presidem as Cáritas nacionais em toda a África, mas agora temos uma mulher presidente da Cáritas das Ilhas Maurícias. É uma boa cristã e está a agir como um modelo para a África. É uma forma de dizer, sim, as mulheres podem fazer isto. As mulheres precisam de ser preparadas a ocupar esses lugares, porque em África as mulheres são tímidas e se se lhes disser para serem presidentes das Cáritas, dirão: não, não, este é um lugar para o bispo.

Mas eu acho que em África os bispos estão a encorajar as mulheres a levantar-se. Em Setembro passado houve um encontro em Dakar sobre o papel dos bispos nas Cáritas, estavam lá bispos e cardeais do continente, e concluíram com um comunicado em que sublinham que o empoderamento da mulher é necessário tanto na esfera pública como na Igreja. Este é um verdadeiro encorajamento, e estou segura de que de que as mulheres assumirão o seu papel, mulheres a representar outras mulheres”.

Mas parece-me que os novos Estatutos da Cáritas-África estabelecem que são os Bispos que devem assumir as rédeas das Cáritas nacionais?

Não está escrito preto no branco que o Presidente tem de ser um bispo. Como acabei de dizer, à cabeça da Cáritas das Ilhas Maurícias foi posta, com o apoio do Bispo uma mulher. E há outras Cáritas em que o Presidente não é necessariamente um bispo. De qualquer modo, os bispos em África dizem-se favoráveis a que as mulheres assumam lugares de liderança. Mas as mulheres não estão prontas, porque não temos modelos, não temos confiança em nós mesmas… mas acho que com as mudanças e a consciência que criaremos também a partir deste fórum, as mulheres dirão, ok: mulheres podem ser líderes.

Eu sou do Quénia e lá os bispos estão a encorajar as mulheres a assumir papeis de liderança e acho que está a acontecer o mesmo em vários países. Nunca ouvi um bispo dizer que é contra a liderança feminina, não, nunca ouvi!”.  

Mas porque é que é tão importante que as mulheres assumam lugares de liderança, neste caso nas Cáritas? Maria Cristina dos Anjos é da opinião que é necessário a complementaridade entre o olhar do homem e da mulher, sem excluir nenhuma das partes.

África, vozes femininas

 

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12 março 2018, 16:24