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9º dia da Assembleia Geral da CNBB: últimas votações

Sobre a conclusão dos trabalhos da Assembleia Geral da CNBB nós conversamos com Dom Bernardino Marchiò, bispo de Caruaru, PE.

Silvonei José – CNBB - Aparecida

No 9º e penúltimo dia da 56ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), os bispos reunidos na “Casa da Mãe”, ainda têm muito trabalho. Continuam com sessões disponíveis para votação de textos e ainda acompanham a apresentação de vários informes importantes a respeito da caminhada da Igreja no Brasil. O dia teve início com a celebração da Santa Missa no Santuário Nacional presidida pelo arcebispo de São Luis do Maranhão, Dom José Belisário da Silva.

No dia de ontem tivemos muitos assuntos em pauta entre os quais a palavra do arcebispo emérito de São Paulo, Cardeal Cláudio Hummes, sobre a Amazônia e as últimas informações sobre a continuidade da Semana Social Brasileira e do Gritos dos Excluídos, celebrado no dia 7 de setembro de cada ano.

Amazônia

A apresentação de Dom Cláudio foi em duas linhas de trabalho: as atividades da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia e a preparação para a Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que será realizada em outubro de 2019. O Cardeal Cláudio Hummes preside a Comissão para a Amazônia da CNBB e está na coordenação do Conselho de preparação para o Sínodo.

Dom Cláudio chamou a atenção para a convocação do Papa Francisco para o Sínodo para a Pan-Amazônia a rever os caminhos da Igreja na região. Em entrevista concedida recentemente à irmã Osnilda Lima, ele enfatizou: “A Igreja precisa rever sua presença, seus caminhos. Formular e construir novos caminhos, não pode ficar sentada, acomodada, numa rotina pastoral e missionária dentro de um certo esquema, precisamos ser capazes de se levantar e ter a coragem de caminhar e aceitar o novo”. Dom Cláudio lembrou ainda que é preciso ser uma Igreja presente, vizinha que também cuida da natureza, envolvida com a temática ecológica.

Semana Social e Grito dos Excluídos

A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da CNBB foi a responsável pela apresentação dos dois temas sociais do dia: a continuidade das Semanas Sociais e o Grito dos Excluídos.

Dom Guilherme Werlang, bispo de Lages (SC), é o presidente da Comissão e trouxe o assunto para o plenário da Assembleia na companhia dos outros bispos da Comissão: dom Canísio Klaus, bispo de Sinop (MT); dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo (MA); dom André de Witte, bispo de Ruy Barbosa (BA); dom Rodolfo Luís Weber, arcebispo de Passo Fundo (RS); e dom Luiz Gonzaga Fechio, bispo de Amparo (SP); além da assessoria.

Sobre o Grito dos Excluídos, eis o que disse no passado Dom Guilherme afirmou: “Trabalhamos bastante a questão do Grito dos Excluídos. Nossa Comissão ficou encarregada de fazer uma análise a apresentar novas propostas para aprofundar e melhorar esta ação que já existe há 23 anos e, especialmente, dentro da nova realidade brasileira, ver como realizar sempre melhor o Grito em todo o Brasil“.

Organizadores da última Semana Social Brasileira – a quinta de uma série inciada no século passado e realizada em Brasília, no mês de setembro de 2013 – disseram que o evento tem sempre cinco preocupações sempre presentes em seu contexto, história, motivações e resultados: um diagnóstico da realidade sócio-política e econômica do país; uma mobilização ampla de todas as forças vivas da sociedade (eclesiais e não eclesiais); tomada de posição com relação a alguns compromissos concretos em âmbito global; o protagonismo real e efetivo dos leigos e o caráter propositivo dos debates.

República Centro-Africana (RCA)

Nestes dias de trabalhos tivemos a presença aqui em Aparecida de Dom Juan Aguirre Munhoz, bispo espanhol que há 38 anos trabalha como missionário comboniano na República Centro-Africana (RCA). Atual bispo da Diocese de Bangassou, ele partilhou com os bispos brasileiros um pouco da sua experiência num dos países mais perigosos do mundo e com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do planeta.

“Vivo num país grande, o coração da África. Estou vivendo com as pessoas mais vulneráveis que comem uma única vez por dia. A frase ‘isto não gosto’ não existe, porque se fica muitas horas sem comer. O governo centro-africano controla apenas 20% do país, enquanto os outros 80% estão nas mãos das 14 pessoas mais ricas do país”, disse Dom Aguirre.

A RCA vive num conflito permanente entre milícias rivais. A Séléka, composta por muçulmanos, e os anti-Balaka, compostos por cristãos e animistas. A situação fica ainda mais complicada porque os cristãos sofrem perseguições constantes. “Em 2013 o grupo islâmico fundamentalista Séléka invadiu o país. Estamos numa Igreja perseguida. São criminosos armados”, ressaltou.

As comunidades e os religiosos missionários são frequentemente confrontados por criminosos de todos os tipos, que estão saqueando, destruindo e devastando os bairros. O país está efetivamente nas mãos de mercenários. Mas não somente católicos, outros povos também são perseguidos. “Em maio cercaram e queimaram todo um bairro muçulmano e cerca de dois mil muçulmanos tiveram que se esconder. A mesquita deles foi toda destruída”, contou.

Os padres da Diocese de Dom Aguirre estão escondendo esses muçulmanos e com isso arriscando suas próprias vidas. O ódio e a intolerância religiosa são crescentes.

“Temos de estender a mão da amizade para aqueles que nos atacaram, porque é o que a Igreja faz. Infelizmente, em meio a tanta violência, fomos obrigados a enterrar numa sepultura comum dezenas de pessoas de diferentes religiões, e que finalmente se uniram novamente, em paz”, afirmou Dom Aguirre numa entrevista para a Assessoria de Imprensa da “Ajuda à Igreja que Sofre”, uma agência católica alemã, que vem financiando projetos na República Centro-Africana.

Ao mostrar uma foto da Catedral de Bangassou aos bispos na Assembleia, o bispo de Bangassou lembrou cultos públicos ali são proibidos. “Não podemos abrir a Igreja porque há pessoas que nos impedem de rezar”.

Dom Aguirre visitou a Assembleia dos Bispos do Brasil e trouxe um pedido do seu povo: “Peço a oração de vocês. Já sofri dois infartos. Em Bangassou estou ameaçado de morte. Quando eles me ameaçam, eu retorno com um sorriso. Por isso, venho em nome do meu povo pedir a vocês as orações”. No fim, em meio a uma realidade triste, Dom Juan Aguirre deixa uma mensagem de esperança. “Nos roubaram tudo, menos a fé”.

Sobre a conclusão dos trabalhos da Assembleia Geral da CNBB nós conversamos com Dom Bernardino Marchiò, bispo de Caruaru, PE.

Ouça Dom Bernardino

 

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19 abril 2018, 08:00