Nicarágua: a força dos bispos vem do apoio do Papa
Roberto Piermarini, Silvonei José - Cidade do Vaticano
Na Nicarágua continua-se a morrer. Ontem, terça-feira (24/07) outras quatro pessoas perderam a vida, entra as quais uma estudante universitária brasileira. Para Ernesto Medina, reitor da Universidade Americana de Manágua, a jovem foi atingida por grupos paramilitares. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil manifestou sua profunda indignação pela morte da estudante e pediu esclarecimentos ao governo nicaraguense. O governo brasileiro mais uma vez condenou o agravamento da situação na Nicarágua, a repressão, o uso excessivo e letal da força e o uso de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas forças de segurança. Na última segunda-feira, mais três pessoas foram mortas, 25 ficaram feridas e 15 foram presas na cidade de Jinotega, onde a polícia atacou uma manifestação de protesto horas depois da entrevista à emissora Fox na qual o presidente Ortega anunciava que o país estava voltando à normalidade. Ortega também rejeitou os pedidos de eleições antecipadas e negou qualquer responsabilidade nos ataques ao clero católico.
Nas manifestações participam, além dos jovens, inteiras famílias
Através da mídia social, os bispos nicaraguenses individualmente comunicaram que o governo ainda não decidiu retomar o diálogo nacional e que eles se consideraram ainda mediadores, porque ninguém lhes comunicou ao contrário. Segundo a imprensa internacional, o governo ainda não respondeu ao pedido de acabar com a repressão contra os jovens manifestantes e contra os postos de bloqueio que foram criados em todas as cidades do país. As manifestações contra o governo, cada vez mais numerosas, tendem a mostrar aos meios de comunicação que os manifestantes não são apenas jovens, mas famílias inteiras, agricultores, trabalhadores, empresários e muitas pessoas comuns. O comentário das pessoas que participam da marcha é: "Se perdermos o caminho certo, nos tornaremos como a Venezuela e isso nós não queremos".
Ortega acusa a Igreja de não ser neutra porque apoia a população
A jornalista Lucia Capuzzi, do jornal italiano Avvenire, especialista em assuntos latino-americanos explica ao microfone Fabio Colagrande – Rádio Vatícano Itália - que os bispos da Nicarágua, a pedido das partes – desde o início dos protestos em 18 de abril - são testemunhas e garantes do diálogo entre governo e oposição. No entanto, isso não impede à Igreja de defender a população civil. Essa defesa obviamente não é vista com alegria por parte do presidente Ortega, que nas últimas semanas acusou os bispos de não serem mais neutros no diálogo nacional. Ortega - explica Capuzzi -, queria dialogar por um período maior, para ganhar tempo, porque ele não quer eleições antecipadas como pedem a oposição, os bispos e o país, enquanto ele mudou a constituição precisamente para permanecer no poder por tempo ilimitado. Quando os bispos - observa a jornalista – se tornaram porta-vozes dos pedidos da população civil, Ortega começou a atacar ferozmente igrejas, paróquias, chegando até mesmo a agredir os bispos. Uma ação destinada a desacreditar a Igreja.
O risco de uma guerra civil
O risco existe - disse Capuzzi -, até agora, a oposição fez a escolha de manter-se desarmada e não pegar em armas. O problema é até quando poderá resistir? Neste contexto onde o governo nicaraguense viola os direitos humanos com assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, torturas e detenções arbitrárias – como denuncias feitas pela Comissão Interamericana para os Direitos Humanos - a Igreja continua a pedir trégua armada e diálogo. Uma atitude profética que recorda o papel desempenhado por Dom Romero na véspera da guerra civil salvadorenha.
A Igreja sente o pleno apoio do Papa
A Igreja, junto com o núncio apostólico, denuncia a violação dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que não fecha a porta ao diálogo. Continua a manter vivo esse fio de ligação com Ortega. Há também uma linha direta com o Papa Francisco, que reza e segue diariamente a situação, apoia os bispos, e esse apoio forte do Pontífice - disse Lucia Capuzzi - permite à Igreja nicaraguense ter uma força e cumprir esse papel realmente muito complexo.
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