Nicarágua: atuação da Igreja desagradou governo, diz cardeal Brenes
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O governo nicaraguense retomou na terça-feira, 17, o controle do bairro de Monimbò, na cidade de Masaya, a sudeste da capital Manágua, epicentro da resistência contra o governo de Daniel Ortega. O balanço da operação é de três mortos, um número ainda desconhecido de feridos e 40 pessoas presas.
Durante a operação, o cardeal Leopoldo Brenes Solórzano relatou à Fundação de direito pontifício Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) que Masaya estava “sob uma chuva de projéteis” e lançou um apelo para que fosse feita “pressão sobre o governo, para que respeite os bispos, os sacerdotes, a população”.
Antes de a operação ser deflagrada, o purpurado havia exortado a população a permanecer em casa, para evitar novas mortes. “É um momento muito difícil para todo o país”, lamentou.
Igreja, hospital de campanha
A repressão do governo sandinista é agora dirigida abertamente contra a Igreja. “Ouvindo o convite do Papa Francisco para ser um hospital de campanha, muitas das nossas paróquias deram refúgio aos que buscavam segurança e socorrido os feridos – explica o purpurado. Isto certamente não agradou ao governo. Assim como não agradou a nossa solicitude ao tentar desmantelar esta força paramilitar”.
Por meio da AIS, o cardeal Brenes lança um apelo ao Ocidente e em particular aos católicos, para que o governo Ortega seja chamado ao respeito pela Igreja e ao povo nicaraguense.
“Ao mesmo tempo – completou - convido todos a lançar uma corrente de oração e a apoiar concretamente os nossos sacerdotes por meio das intenções da Santa Missa. Muitos dos ministros, de fato, devem celebrar de forma privada, não recebem ofertas e portanto não têm nenhuma forma de sustento”.
O responsável internacional pela AIS, Marco Mencaglia, oferece “orações e solidariedade” à Igreja e ao povo nicaraguense. “Nas próximas semanas – revelou - visitaremos o país latino-americano com o objetivo de individuar as mais urgentes necessidade e destinar novas ajudas”.
Episcopado Colombiano
Os bispos colombianos asseguram sua proximidade espiritual e solidariedade “aos irmãos bispos, sacerdotes, religiosos, fiéis leigos e ao povo nicaraguense, ao saber das dolorosas notícias de agressões e atos violentos acontecidos no país nos últimos dias e que custaram a vida de numerosas pessoas”.
Em uma nota publicado no site da Conferência Episcopal, os prelados pedem que “cesse a violência no irmão país nicaraguense, que seja respeitado o direito à vida de todos e que se garanta proteção tanto às instituições eclesiásticas, como às demais organizações sociais que, com a Igreja Católica, têm trabalhado na busca de soluções para a crise social e humanitária”.
Também é feito um chamado à comunidade internacional para que volte seu olhar para a situação na Nicarágua e ofereça ajudas válidas para superar a instabilidade social e alcançar a paz.
Cardeal Juan José Omella
O cardeal arcebispo de Barcelona, Juan José Omellha, também pediu para que cesse a violência. Ele condenou o assassinato de dois estudantes dentro da Igreja da Divina Misericórdia de Manágua. Dom Omella disse sentir-se “consternado” pela situação vivida no país centro-americano, ao mesmo tempo que une-se ao chamado ao diálogo e à concórdia feito pelos bispos nicaraguenses.
O cardeal espanhol havia subscrito a mensagem pastoral divulgada no último domingo pela Conferência Episcopal da Nicarágua, pedindo o fim da repressão e da violência das forças paramilitares contra a população civil.
E na terça-feira, 17, condenou com veemência os ataques perpetrados pelas forças de segurança do Estado e grupos paramilitares governamentais que agridem e semeiam o terror no povo que se manifesta pacificamente, assim como todo ato de profanação sacrílega contra a Igreja.
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