Jovens carregam cruzes com mochilas em memória aos estudantes mortos nos protestos Jovens carregam cruzes com mochilas em memória aos estudantes mortos nos protestos 

Nicarágua: peregrinação em apoio ao episcopado

Em entrevista ao Vatican News, o assessor da Comissão para o Diálogo Nacional, Dom Carlos Avilés, traça um panorama sobre a mais grave crise vivida na Nicarágua desde os anos 80.

Patricia Ynestroza - Cidade do Vaticano

Movimentos da sociedade civil e universitários, convocaram a população nicaraguense para participar da Peregrinação de solidariedade aos bispos, defensores da verdade e da justiça, a ser realizada em Manágua neste sábado, 28 de julho.

Enquanto a população prepara esta iniciativa em apoio aos religiosos que sofreram agressões físicas e difamações por parte do governo, a Conferência Episcopal da Nicarágua segue aguardando uma resposta de Daniel Ortega, se ainda quer a mediação da Igreja no Diálogo Nacional.

Um diálogo nacional bloqueado desde 8 de julho

 

Em entrevista à Foxnews, Ortega disse que permanecerá no poder até 2021. A Comissão para o Diálogo Nacional havia pedido as eleições fossem antecipadas, sem sua participação no pleito. Ortega também afirmou ao canal estadunidense que nesta semana tudo voltou à normalidade. Que as igrejas e o clero não foram mais atacados.

O assessor da Comissão para o Diálogo Nacional, Dom Carlos Avilés, disse por sua vez ser esta afirmação uma mentira e uma falsidade. “Eu não sei a quem ele está falando, e a quem quer apresentar essa imagem”, disse o prelado ao Vatican News, recordando que há duas noites três pessoas foram mortas em Jinotega pela repressão policial e paramilitar, em um bairro na cidade do norte do país.

"Eu não sei em que país ele vive [Ortega], porque ao contrário do que disse, esta semana foi a de maior ansiedade”. Estou falando de “civis encapuzados, apoiados pela polícia, com armas de grosso calibre, passando de casa em casa e levando as pessoas, detendo-as, sequestrando-as, e não se pode dizer que são prisioneiros, porque não foi a polícia que os levou, mas encapuzados. Assim, não sei de que país ou de quem está falando Ortega”.

Ademais, recordou Dom Avilés, seis sacerdotes da Diocese de Manágua estão jurados de morte. A Paróquia de Moninbó, em Maria Madalena, foi alvejada e quebrados todos os vidros. A Paróquia de Santiago Jinotepe, na quarta-feira 25 de julho, na festa de São Tiago, também foi alvejada. Paróquias em Diriamba e em Manágua, a Paróquia de Jesus da Misericórdia e a Catedral, foram cercadas somente porque “abrimos os templos para proteger os fiéis que fogem e sofrem”.

Tudo o que o presidente Ortega afirmou na entrevista é falso, afirmou com veemência o prelado. Existe uma perseguição declarada contra a Igreja. Ortega disse que nós bispos somos golpistas e que todos que apoiam as pessoas que protestam são terroristas. Então, todos somos terroristas, porque abrimos humanamente e pacificamente as portas às pessoas que correm, que fogem, que estão feridas”.

Ortega – comenta Dom Carlos Avilés – ao dizer à Foxnews que pretende permanecer no poder até 2021, invoca uma institucionalidade e uma obediência à Constituição, justo ele que foi eleito de forma inconstitucional. O prelado recorda que a Constituição proibia uma terceira ou quarta reeleição do presidente, cláusula que foi alterada com um decreto. As eleições foram “manipuladas” pelo Conselho Supremo Eleitoral que vinha preparando uma fraude já anos antes, afirma Dom Avilés, e o processo eleitoral foi denunciado internacionalmente.

Igreja ao lado dos povo com pacifismo e humanismo radical

 


Os bispos questionam que papel ainda poderia ter a Igreja na possível retomada do diálogo.

A Igreja sempre vai optar pela palavra, pelo diálogo, jamais vai se fechar, sempre estará invocando a conversação como seres racionais, como seres pensantes, diz o assessor da Comissão para o Diálogo Nacional. Nunca se pode chegar ao uso da violência. Por isto a Igreja mantém esta atitude de chamar ao diálogo, de fazer um chamado às consciências.
“A Igreja sempre estará do lado do povo, apoiando-o, ajudando-o, com um pacifismo radical e um humanismo radical. Ajudando a todas as pessoas que se aproximam de nossos templos, ajudando-as e oferecendo a elas tudo o que for possível”, afirmou.

A Igreja não se calará

 

Para este sábado, 28 de julho, a população foi convidada a participar de uma peregrinação em apoio aos bispos nicaraguenses. Dom Avilés disse que fez um chamado ao governo para que retire as tropas de choque, a polícia e os paramilitares, porque a violência é só de um lado.

A sociedade civil – reiterou – está exercendo um direito civil básico, que é o de protestar pacificamente e isso não se pode negar. E sempre no marco pacífico, pode-se fazer um chamado às autoridades para não reprimirem e não violentarem um direito básico.

O prelado disse ademais, que já há muitos anos não há paz, vive-se com ilegalidades e com a falta de constitucionalidade. Os únicos que falam sempre são o presidente e a vice-presidente, nenhum prefeito, nenhum ministro, somente eles. Não há informes de nada, por desejo do próprio presidente. O sistema judicial e eleitoral estão submetidos a eles dois, que dominam a polícia, os juízes e todas as forças. Não existe diferença de instituições que equilibre o poder. E contra isto que as pessoas também protestam. Não há trabalho, falta assistência sanitária e educação pública de qualidade.

Chamado à comunidade internacional

 

Dom Avilés pede que a comunidade internacional preste um pouco mais de atenção à Nicarágua, que se solidarize, que a apoie, que esta não é uma guerra de gangues. Essa é uma proposta pacífica que está sendo reprimida com violência e de forma impune. “Todos nos sentimos frustrados, atemorizados, disse o prelado. Pedimos uma solidariedade da parte da comunidade internacional, e que sigam pressionando o governo da Nicarágua, e que faça o que é o correto para a democratização do país. É isto que está sendo pedido. Entrar em um terceiro milênio em paz, com o desenvolvimento, onde haja educação e assistência sanitária.

 

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27 julho 2018, 15:42