Jesus: o maior presente para a humanidade

Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Na noite de Natal de 1223, em Greccio (Itália), São Francisco de Assis fez um presépio – o primeiro da história. Era a representação do estábulo de Belém e das figuras que participaram do nascimento de Cristo. Desde então, os presépios tomaram conta dos lares e do mundo.

Não é possível imaginar um presépio sem um menino, sem uma criança. O profeta Isaías nos anuncia: “Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho”^[1]. Não é possível imaginar um presépio sem uma mãe. Escreveu o evangelista Lucas: “Maria deu à luz o seu filho primogênito... o enfaixou e o colocou na manjedoura”^[2]. Não é possível imaginar um presépio sem pastores: “Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho”^[3]. Não é possível imaginar um presépio sem anjos. Um deles anunciou: “Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor!” Os demais, cantaram: “Glória a Deus no mais alto dos céus!”^[4]

Neste Natal de 2019, somos convidados a imitar os pastores, indo à gruta de Belém. Ali, o que vemos? O que encontramos? Vemos uma criança que nasce e que adoramos. Quando nasce uma criança, os que vão visitá-la costumam levar-lhe presentes. O que temos para oferecer ao Menino que nos é dado? Podemos oferecer-lhe o ano que está terminando, com suas conquistas e desafios, com seus sofrimentos e alegrias. Não há dúvida de que o Senhor aceitará essa nossa oferta, pois ele convida a ir ao seu encontro os que estão cansados e carregados de fardos^[5].

Mas, pensando bem, não somos nós que damos presentes ao Menino Jesus. Ele, o Salvador, é o presente do Pai para nós. Quem nos afirma isso é o apóstolo Paulo, na Carta que escreveu a Tito: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos os homens”^[6].

Cresce o número de pessoas que desejam viver intensamente a festa do Natal e, por isso, se perguntam como fazê-lo. Tais pessoas são convidadas a se voltar para o profeta Isaías. Tendo vivido cerca de 700 anos antes de Cristo, num período muito difícil, em que os líderes do povo, em vez de confiar em Deus, buscavam a proteção dos povos vizinhos, Isaías anunciou que no meio das trevas há uma grande luz; que o Senhor faz crescer a alegria no meio de seu povo; e que o reino do menino que nasce será de paz^[7].

Também o apóstolo Paulo nos ajuda a viver o Natal: ele nos lembra que Deus se manifestou a nós; que é preciso abandonar a impiedade e as paixões mundanas e viver com equilíbrio, justiça e piedade. Afinal, Deus quer formar, por meio de Cristo, um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem^[8].

Damos um passo além e nos dirigimos a Lucas, autor da mais bela, completa e profunda página sobre o Natal. Ouvindo nossa pergunta: Como viver o Natal, hoje?, o evangelista começa nos afirmando que o Natal é a festa dos contrastes, pois houve um grande recenseamento e um humilde nascimento; uma grande alegria e uma humilde manjedoura; uma grande manifestação de Deus e o medo dominando o coração dos pastores. Mais forte do que tudo isso, porém, é o grito do Anjo - grito que toma conta do mundo e dos corações: “Eu vos anuncio uma grande alegria!”^[9]

A Palavra de Deus nos ensina, pois, que viver o Natal hoje significa tomar consciência de que o Pai nos dá um dom, um presente: Seu Filho. Diante de tal dom, não podemos ficar indiferentes, tristes ou abatidos. Antes, precisamos acolhê-lo, pois se trata do nosso Salvador. Acolhê-lo significa mudar de vida; viver como Ele viveu; procurar fazer, como Ele, a vontade do Pai; significa, enfim, ter no coração um lugar para todos.

Tendo recebido esse presente do Pai, será inevitável nossa reação: como os pastores, sentiremos necessidade de glorificar e louvar a Deus porque não se cansa de nos amar, perdoar e presentear...^[10].

[1] Is 9,5

[2] Lc 2,7

[3] Lc 2,8

[4] Lc 2,11.13

[5] Cf. Lc 11,28

[6] Tt 2,11

[7] Cf. Is 9,1-6

[8] Cf. Tt 2,11-14

[9] Lc 2,10

[10] Lc 2,20