Crianças de Alepo acendem velas pela paz na Síria Crianças de Alepo acendem velas pela paz na Síria  

Núncio na Síria: a paz está longe, massacre de inocentes

“Velas pela Paz na Síria”. A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre lança uma campanha internacional para socorrer a população martirizada pela guerra, principalmente as crianças. Entrevista com o cardeal Mário Zenari, núncio apostólico na Síria

Cidade do Vaticano

“Não precisamos da guerra, mas da paz”: diz uma criança síria no vídeo apresentado pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, que envolveu na iniciativa pela paz mais de 50 mil crianças em sete cidades da Síria que foram atingidas pelo sangrento conflito armado, que dura há mais de sete anos e com combates entre forças armadas internas e externas do país. Participam militares governamentais e milicianos rebeldes juntos ao exército e grupos vindos do exterior. A ponto que hoje fala-se da “Síria dos outros” ao lado ou sobrepostas à Síria governada pelo presidente Assad.

 

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Doze milhões de desalojados ou que fugiram para o exterior

Não há números certos das vítimas desta guerra: entre 350 mil a 500 mil segundo a ONU. Do total de 23 milhões de habitantes cerca da metade abandonou a própria casa, mais de 6 milhões e meio são desalojados dentro do país e 3 milhões vivem em áreas sob assédio ou inacessíveis enquanto que 5 milhões e meio fugiram para o exterior. Neste dramático cenário ficaram na pátria apenas 700 mil cristãos, reduzindo de 10 a 3% da população.

Chamas de esperança para dispersar as trevas

No domingo, 2 de dezembro, após rezar a oração mariana do Angelus com o povo de Deus na Praça São Pedro, o Papa Francisco anunciou sua adesão à campanha natalina de oração, ajuda e solidariedade à Síria: “Que estas chamas de esperança dispersem as trevas da guerra!”. Uma guerra que continua, declara o cardeal Mario Zenari, núncio Apostólico na Síria, preocupado por uma paz que nunca chega.

Dom Zenari respondeu às perguntas do Vatican News.

Quanto está longe ou perto a paz na Síria?

R. Eu estava na Praça São Pedro durante o Angelus de domingo, e fiquei muito feliz pelo gesto do Papa: a primeira vela, a primeira de um milhão de velas em todo o mundo e na Síria, que se acendem pela paz. Logo depois encontrei o Papa junto com outras pessoas na Casa Santa Marta. Naturalmente a paz está – infelizmente – ainda longe. Ainda não se vê a solução política.

O Papa Francisco pediu perdão a Deus pelos donos das guerras e pelos fabricantes de armas. Sabemos que na Síria há muitos protagonistas internos e externos desta guerra. Quais são as maiores responsabilidades por não ter chegado ainda um acordo de paz?

R. A situação se complicou nestes oito anos. Atualmente na Síria, estão presentes cerca de vinte nações com armas, homens e militares e entre estas, cinco contam com os exércitos mais poderosos do mundo. Não cito cada uma porque todos sabem quais são, além disso há uma fragmentação de grupos armados que às vezes se combatem entre eles… Tudo isso prejudica os civis, as pessoas pobres e as crianças. Repito que este conflito, infelizmente, é um massacre de inocentes, muitas crianças morreram pelas bombas ou em tiroteios.

“A Síria é como Raquel que chora pelos seus filhos e não pode ser consolada, porque não se sabe quantas pessoas, quantos civis, quantas crianças perderam a vida. O massacre de inocentes”

Gostaria também de recordar que foi lindo ver as crianças, protagonistas deste evento das velas, doar ao Papa esta vela que foi acesa ao mesmo tempo na Síria e em várias partes do mundo. Este tsunami de atrocidades iniciou no final do mês de fevereiro de 2011 e, justamente no Sul da Síria em Darah, quando foi preso e detido um grupo de crianças que tinha escrito um slogan de protestos e de liberdade no muro de uma escola. Ali começou tudo. As famílias começaram a fazer demonstrações pela liberdade destas crianças que estavam detidas…

“As crianças devem ser protagonistas da paz, da reconciliação e desta vela, esta chama da paz e da liberdade, deve estar em primeiro lugar nas mãos das crianças e dos jovens sírios que, ajudados pela comunidade internacional, devem mantê-la viva”

No passado o senhor invocou e desejou um papel positivo para os líderes religiosos. Como está a situação neste sentido?

R. Os líderes religiosos têm um papel importante na Síria, porque devem estar em primeiro plano, como promotores da reconciliação e da paz. É uma grande tarefa para todos: os líderes religiosos, cristãos e muçulmanos. Eles têm uma grande missão. Portanto desejamos que a missão deles seja cada vez mais importante.

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04 dezembro 2018, 14:02