Bispos da Venezuela: "não ao derramamento de sangue"
Cidade do Vaticano
Dezenove países europeus, entre os quais França, Grã-Bretanha, Espanha e Alemanha, reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela. A Itália, por enquanto, pede novas eleições. Maduro define a declaração emitida pelo "Grupo Lima" (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai e Peru) "repugnante", na qual se pede aos militares venezuelanos para apoiarem Guaidó.
No comunicado, o "Grupo Lima" também destacou a necessidade "de garantir o acesso à assistência humanitária" e lançou um apelo às Forças Armadas da Venezuela para que não "impeçam a entrada e o trânsito da ajuda humanitária" que será enviada.
Os países do Grupo pedem também à Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que "reaja imediatamente à grave situação dos direitos humanos", rejeitando a repressão dos protestos contra o governo. Pedem ainda que a liberdade de imprensa seja garantida, bem como a segurança do mesmo Guaidò, rejeitando as medidas restritivas impostas a ele pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), "controlado pelo regime de Maduro".
Bispos venezuelanos
O secretário dos bispos venezuelanos, dom José Trinidad Fernández em uma coletiva de imprensa falou sobre a preocupação do Papa e invocou uma solução negociada e pacífica e um diálogo que leve a mudanças como pede o povo.
"Estamos em constante contato com o Vaticano, com o Papa, com o Secretário de Estado, card. Pietro Parolin e com o núncio, dom Aldo Giordano. Sabemos que o Papa está muito preocupado com o derramamento de sangue. Não queremos que isso aconteça, por nenhum motivo no mundo". Foi o que afirmou à Agência Sir dom José Trinidad Fernández, bispo auxiliar de Caracas e secretário-geral da Conferência Episcopal Venezuelana (Cev), no final da coletiva de imprensa na qual a Igreja venezuelana mais uma vez se expressou sobre a situação do país.
"Sabemos que o povo venezuelano é gente pacífica, precisamos de uma solução negociada e pacífica que respeite a todos. O mandamento "não matar" é particularmente válido neste momento e esse deve ser um processo de paz, não de guerra". Ao mesmo tempo, as ações de Maduro, incluindo a carta escrita ao Papa, da qual o Secretário de Estado do Vaticano falou na segunda-feira, parecem ser ações "para ganhar tempo".
O diálogo deve levar a uma mudança política que o povo pede
"Certamente - continua o secretário geral da Cev -, "o pedido de diálogo é nosso, e repetimos isso tantas vezes em nossos pronunciamentos. Um diálogo que deve levar a uma transição pacífica e a uma mudança política que o povo está pedindo". Além disso, a Igreja venezuelana continua a relatar sobre a situação dramática da população, sobre a falta de alimentos e medicamentos: "é essencial abrir o país às ajudas humanitárias, estamos em uma situação dramática, inédita, as crianças estão subnutridas e os medicamentos de base, os mais comuns, estão faltando".
O povo está pedindo eleições claras e transparentes
"Precisamos de uma mudança política, o povo está pedindo para ir a eleições claras e transparentes", disse dom Fernández que destaca a importância de um pronunciamento compacto de bispos, religiosos e leigos: "Um comunicado conjunto é a expressão de uma Igreja sinodal, como nos pede o Papa Francisco. Neste caso, então, sentimos que esta é a posição de todo o povo. Deus nos pede para interpretar os sinais dos tempos e é isso o que tentamos fazer". "A recente mensagem do Papa para o Dia da Paz, que fala da necessidade de uma boa política a serviço da paz, nos inspira", continua o bispo. É o que estamos tentando fazer neste momento, no qual o tecido social deve ser reorganizado. Nós não queremos mais ver pessoas arbitrariamente detidas, crianças procurando comida no lixo".
Caritas sobre a possível chegada da ajuda humanitária internacional
A possibilidade da liberação da entrada de ajudas humanitárias "gerou muitas expectativas devido as grandes necessidades do povo venezuelano, principlamente em relação à alimentação e à saúde": escreve a Caritas venezuelana, em um comunicado divulgado para fornecer alguns esclarecimentos, diante da situação, e para comunicar que a Caritas Venezuela está disposta a cooperar somente se se trabalhar de modo "apropriado" e respeitando os "direitos humanos e humanitários".
As ajudas humanitárias não olham para interesses políticos
A nota assinala que as ajudas humanitárias "são regidas por protocolos aceitados internacionalmente" e não olham "para os interesses políticos, mas apenas para o bem da população mais fraca"; "não resolvem os problemas do país, mas apenas suavizam o impacto" de uma situação de crise para a população mais pobre; "são limitadas em sua cobertura e no tempo" e devem ajudar a população a "viver com seus próprios meios"; "mão abastecem os mercados com diferentes produtos da cesta básica", dado que a ajuda alimentar não consiste em "alimentos habituais, mas em rações de emergência e complementares para crianças e idosos com deficiência nutricional; "são sempre subsidiárias e não substituem a ação que o Estado é chamado a realizar com seus recursos".
As autoridades estão em silêncio sobre a entrada de ajuda humanitária
Em consideração a estas premissas, a Caritas venezuelana recorda que "a Assembléia Nacional solicitou a entrada de ajudas humanitárias e pediu à Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) que participasse de uma comissão técnica. A Caritas da Venezuela foi convidada a levar a sua experiência no campo do social". Em segundo lugar, "a comissão técnica propôs à CEV que participasse de uma reunião com várias organizações da sociedade civil para trocar experiências de trabalho". Além disso, a Cáritas anuncia que "várias organizações sociais pediram às autoridades competentes que permitissem a entrada dessas ajudas, sem receber qualquer resposta". Finalmente, a Caritas, ao explicar sua posição interlocutória, especifica que a Igreja sempre trabalhou em um contexto de "humanidade, independência e honestidade". (Agência Sir)
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