A Igreja que o Papa encontrará no Marrocos
Dom Cristóbal López - Arcebispo de Rabat
A primeira coisa que pode ser dito da Igreja Católica no Marrocos é que ela existe! Verdadeiramente existe. Há duas catedrais, em Tânger e Rabat, muitas paróquias, sacerdotes e freiras, mas acima de tudo há comunidades cristãs, com muitos jovens - a idade média de nossos fiéis é de 35 anos - que vivem sua fé e a testemunham entre o povo marroquino que nos acolhe. Quais são as características desta Igreja?
Uma Igreja insignificante, mas significativa
Insignificante porque pequena, minúscula ... Estamos falando de 30.000 católicos, todos estrangeiros, em uma população de cerca de 37.000.000 de habitantes. Significativa, porque trazemos conosco uma mensagem, temos algo a dizer e oferecer à sociedade, porque somos um sinal e um instrumento do Reino de Deus.
Uma Igreja verdadeiramente "católica", em comunhão
Mais de 100 nacionalidades estão presentes neste pequeno rebanho de 30.000 pessoas. Nós, cristãos, viemos dos cinco continentes, o que nos confere grande diversidade e riqueza. Mas também constitui um desafio, porque devemos viver a comunhão a partir da diferença que nos enriquece e construí-la todos os dias, cotidianamente.
O lema que escolhemos para 2018-2019 indica isso bem: "Construir a comunhão, viver em comunhão". E isto em todos os níveis: os sacerdotes com o bispo e entre eles, os fiéis em cada paróquia e entre os diferentes grupos e movimentos, as comunidades religiosas dentro deles, a diocese como um todo ... E depois há a comunhão com outras confissões cristãs (ecumenismo), com o povo marroquino (diálogo islâmico-cristão) e com todas as pessoas de boa vontade.
Uma Igreja a serviço do Reino de Deus
Sim, o nosso objetivo aqui - e acredito que em todos os lugares - não é fazer crescer a nossa Igreja, mas fazer crescer o Reino de Deus no Marrocos, ou seja, a justiça e a paz, a verdade e a vida, a solidariedade e o amor. ... E fazer isso junto com nossos irmãos e irmãs muçulmanos.
Não queremos ser uma Igreja auto referencial, mas uma Igreja aberta e voltada para o externo, para os outros. Nós não trabalhamos "para" a Igreja, mas "como Igreja, enquanto Igreja", trabalhamos "pelo Reino de Deus".
Uma Igreja encarnada no Marrocos
Como a Palavra de Deus se fez carne e veio habitar entre nós, a nossa Igreja quer ser encarnada e a serviço do povo marroquino.
O grande serviço que aqui prestamos é sermos testemunhas de Cristo, pela nossa vida em comunhão, a nossa vida de oração - queremos ser "orantes em meio a um povo de orantes" - e pequenos serviços.
Estes "pequenos" serviços são as atividades pelas quais somos responsáveis: escolas, Caritas, centros de saúde, centros socioculturais, bibliotecas e assim por diante. Mas o mais importante não é o que fazemos, mas o que somos, a nossa presença ...para que possamos testemunhar o amor de Deus, ser um Evangelho vivo.
Uma Igreja de diálogo e encontro
Os muçulmanos não são nossos inimigos e tampouco concorrentes ou adversários. Eles são nossos irmãos e irmãs e queremos ir ao encontro deles, estabelecer um diálogo que começa com a amizade e a convivência pacífica, continua com o trabalho comum a serviço das grandes causas da humanidade (saúde, educação, direitos humanos, promoção das mulheres, etc.) e chega à partilha da fé e da oração.
Este diálogo islâmico-cristão cristalizou-se em um projeto educacional desenvolvido por professores muçulmanos e cristãos, em andamento nas 15 escolas católicas que treinam cerca de 12.000 estudantes, todos muçulmanos. Este projeto educacional é cristão e muçulmano ao mesmo tempo, porque todos o sentem como próprios.
Os encontros entre cristãos e muçulmanos são inspirados no ícone da Visitação. Como Maria, o cristão leva Jesus dentro de si, em sua pessoa e, sem dizer nada, permite que o Espírito e Jesus se façam sentir.
Uma Igreja ecumênica
Talvez impelidos pelo fato de sermos uma minoria, nós cristãos procuramos nos aproximar uns dos outros, para nos conhecermos e seguir em frente juntos. É por isso que instituímos um Conselho Ecumênico de Igrejas no Marrocos, com representação católica, protestante, anglicana e ortodoxa.
E, como fruto da amizade e dos contatos entre o arcebispo anterior de Rabat e o pastor presidente da Igreja Evangélica, também nasceu um Instituto ecumênico de teologia. Chama-se "Al Mowafaqa", que significa "o acordo", "a compreensão".
Estudantes protestantes e católicos, jovens e adultos, europeus e africanos, leigos e religiosos, seguem cursos de teologia com professores católicos e protestantes, mas também muçulmanos para assuntos relacionados ao Islã. E não poucas pequenas comunidades evangélicas, anglicanas ou ortodoxas, que não têm seus próprios lugares para se encontrar e rezar, usam espaços disponibilizados pela Igreja Católica. Impressiona ver anunciado na porta de uma igreja: "Missa domingo, às 10 horas; Culto protestante, aos 12”.
Uma Igreja samaritana
Sim, uma Igreja que, como o Bom Samaritano, quer parar ao longo do caminho ao lado daqueles que sofrem, dos que estão em dificuldades, dos mais fracos, curá-los, ouvi-los e devolver-lhes alguma esperança. Através da Caritas, mas não só, a nossa Igreja cultiva essa dimensão samaritana, especialmente para os migrantes que sofrem e são vulneráveis. Para eles e com eles, tentamos colocar em prática o programa que o Papa Francisco nos propõe com quatro verbos: aceitar, proteger, promover e inserir.
Mas também a sociedade civil marroquina se beneficia do apoio e do sustento da Caritas, por meio de programas de fortalecimento das competências e de orientação técnica e administrativa. Também os mais pobres são acolhidos e ajudados nas várias Caritas das paróquias. Numerosas Congregações religiosas, por sua vez, oferecem a eles o melhor do amor cristão, feito serviço concreto.
Uma Igreja-ponte
Temos uma vocação muito clara: ser construtores de pontes. A nossa Igreja quer ser uma "ponte" entre cristãos e muçulmanos, entre a África e a Europa, entre negros e brancos, entre o Oriente e o Ocidente, entre jovens e adultos, entre protestantes e católicos. Construir pontes, em vez de construir muros: esta é a nossa vocação ... e a vocação de toda a Igreja!
Para concluir, somos, ou melhor, queremos ser uma Igreja apaixonada e apaixonante. Apaixonada por Cristo e pelo Marrocos; apaixonante para todos aqueles que foram convidados e chamados a servir a Cristo neste contexto, mas também, por meio do nosso testemunho, para todos aqueles que nos visitam e nos conhecem pela primeira vez. A visita do Papa Francisco será uma oportunidade extraordinária para aprender sobre esta Igreja.
(L'Osservatore Romano)
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