Cardeal Ranjith apela pelo fim da violência contra muçulmanos no Sri Lanka
Michele Raviart e Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"A situação está agora sob controle, foram apenas incidentes isolados", disse o cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, que lançou nestes dias - ao lado do monge Ittapane Dhammalankara, respeitada autoridade budista no país - um apelo pelo fim da violência contra os muçulmanos no Sri Lanka.
Logo após os atentados em abril, o cardeal Ranjith havia feito a seguinte declaração ao Vatican News: "Fizemos um apelo a todas as comunidades para manterem a calma e a não fazerem justiça com as próprias mãos, garantindo que os funerais sejam feitos em clima de tranquilidade. Fiz um apelo aos católicos para que sigam o exemplo de Jesus Cristo, que na Cruz perdoou os que o tinham crucificado."
Não à instrumentalização dos ataques de Páscoa
"Fizemos este apelo aos muçulmanos para que permaneçam calmos, não haverá perigo para eles e procuramos tranquilizá-los", disse o cardeal, que teme que os ataques de Páscoa possam ser instrumentalizados pela política.
"Este é o ano de eleições" - explica ele - e alguns, "por interesse político, começaram a incitar as pessoas, colocando-as umas contra as outras, preparando a arena para a luta política. Isso não é bom e condenamos essas tentativas de explorar para os próprios fins o que aconteceu no domingo de Páscoa."
Cristãos retornam às igrejas
Em um país de 22 milhões de habitantes, cerca de 10% são muçulmanos, enquanto a maioria é budista. Os cristãos, pouco mais de 7%, estão retornando lentamente à normalidade.
"Começamos a celebrar as missas dominicais, ainda que os fiéis compareçam em menor número do que antes", revelou o cardeal Ranjith. “Pedi aos párocos que gradualmente aumentem o número de celebrações caso a situação permanecer calma e não houver problemas. Mas as pessoas, com grande entusiasmo, começam a retornar às igrejas".
As violências
O governo do Sri Lanka decretou o toque de recolher em toda a ilha após as violências anti-muçulmanas registradas nas últimas semanas em todo o país. Um carpinteiro muçulmano de 45 anos foi assassinado por uma multidão enfurecida. Mesquitas foram depredadas, lojas, casas e carros destruídos e incendiados.
Presas 80 pessoas
As violências que voltaram a sacudir o país - que comemora os dez anos do fim da guerra civil no sábado, 18 de maio - são consideradas como uma reação aos atentados realizados na Páscoa, no dia 21 de abril, contra igrejas e hotéis, e que causaram a morte de mais de 250 pessoas. Os ataques, atribuídos pelas autoridades cingalesas a um grupo extremista muçulmano local, foram posteriormente reivindicados por jihadistas da facção Estado Islâmico.
Governo acusa extremistas e racistas
Para o governo, as represálias são obra de grupos racistas e fundamentalistas de inspiração budista, que atingiram principalmente o noroeste do país, até a manhã de terça-feira a única área sob toque de recolher noturno. As principais redes sociais também foram bloqueadas para impedir a disseminação do ódio e a incitação à violência. Ao menos 80 pessoas foram presas.
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