“Christus vivit”: a vocação
Rui Saraiva – Porto
A vocação, entendida em sentido amplo, pode ser considerada como “chamamento de Deus” – escreve o Papa no capítulo VIII da sua Exortação Apostólica dirigida aos jovens.
O chamamento à amizade com Ele
Francisco afirma que para descobrir a vocação é fundamental “discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem” é, acima de tudo, descobrir “a sua amizade”. E o Santo Padre recorda que “no diálogo do Senhor ressuscitado com o seu amigo Simão Pedro, a pergunta importante era: «Simão, filho de João, tu amas-Me?» (Jo 21, 16). Por outras palavras: Amas-Me como amigo? A missão que Pedro recebe de cuidar das ovelhas e cordeiros de Jesus estará sempre ligada com este amor gratuito, este amor de amigo” – escreve o Papa.
A este propósito Francisco lembra o “encontro-desencontro do Senhor com o jovem rico”. “Perdeu a ocasião daquela que poderia certamente ter sido uma grande amizade” – diz o Papa referindo-se ao jovem rico do qual “ficamos sem saber o que poderia ter sido para nós, o que poderia ter feito pela humanidade, aquele jovem único a quem Jesus olhou com amor e estendera a mão”.
Ser para os outros
Para o Santo Padre, vocação é, antes de mais, serviço aos outros. “O Senhor chama-nos a participar na sua obra criadora, prestando a nossa contribuição para o bem comum com base nas capacidades que recebemos” – escreve o Papa.
É a vocação como missão: “Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo” – escreve o Papa recordando as suas palavras na Exortação “A alegria do Evangelho”.
Para o Santo Padre “toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional” e afirma que a vocação é “um percurso que levará muitos esforços e muitas ações a orientar-se numa direção de serviço. Por isso, no discernimento duma vocação, é importante ver se a pessoa reconhece em si mesma as capacidades necessárias para aquele serviço específico à sociedade”.
“Para realizar a própria vocação, é necessário desenvolver-se, fazer germinar e crescer tudo aquilo que uma pessoa é. Não se trata de inventar-se, criar-se a si mesmo do nada, mas descobrir-se a si mesmo à luz de Deus e fazer florescer o próprio ser” – escreve o Papa na sua Exortação.
Segundo o Santo Padre, o “ser para os outros” na vida dos jovens está relacionado com “duas questões fundamentais: a formação duma nova família e o trabalho”.
O amor e a família
O Santo Padre neste seu texto dirigido aos jovens sublinha que “os jovens sentem fortemente” o chamamento ao amor e “sonham encontrar a pessoa certa com quem formar uma família e construir uma vida juntos”. O Papa recorda que já escreveu sobre este assunto na sua Exortação Apostólica dirigida à família “A alegria do amor”.
Francisco lembra que Deus “criou a sexualidade” como “um presente maravilhoso para as suas criaturas”. Por isso, “devemos reconhecer agradecidos” que “a sexualidade” é um “dom de Deus” para amar e gerar vida. “O amor entre um homem e uma mulher, quando é apaixonado, leva-te a dar a vida para sempre” – escreve o Papa dirigindo-se diretamente a cada jovem.
O Papa refere no seu texto as dificuldades pelas quais passam hoje as famílias, tais como, o “aumento de separações, divórcios, segundas uniões e famílias monoparentais”. Não obstante estas dificuldades o Papa afirma que “vale a pena apostar na família” lançando aos jovens um desafio: “Não permitais que vos enganem quantos vos propõem uma vida desenfreada e individualista que acaba por levar ao isolamento e à pior solidão”.
Para o matrimónio Francisco recorda que é necessária preparação e isso “requer educar-se a si mesmo, desenvolver as melhores virtudes, sobretudo o amor, a paciência, a capacidade de diálogo e de serviço. Implica também educar a própria sexualidade, para que seja sempre menos um instrumento para usar os outros, e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa, de maneira exclusiva e generosa”.
Nota especial do Papa para “as pessoas não casadas” que “mesmo que não o sejam por opção, podem tornar-se de modo particular testemunhas da vocação batismal no seu caminho de crescimento pessoal” – escreve o Santo Padre.
O trabalho
“Peço aos jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda doutros” – diz o Papa na sua Exortação assinalando que o trabalho “faz parte do sentido da vida nesta terra” sendo também “caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal”.
Francisco recorda que o Sínodo dos bispos sobre os jovens referiu o problema do desemprego juvenil que em alguns países atinge “níveis exorbitantes”.
O Papa considera que esta é uma “questão fundamental da sociedade” que “a política deve considerar como prioritária, sobretudo hoje que a velocidade dos avanços tecnológicos, aliada à obsessão de reduzir os custos laborais, pode levar rapidamente à substituição de inúmeros postos de trabalho por máquinas”.
“Quando alguém descobre que Deus o chama para uma coisa concreta, que está feito para isso – enfermagem, carpintaria, comunicação, engenharia, ensino, arte ou qualquer outro trabalho –, então será capaz de fazer desabrochar as suas melhores capacidades de sacrifício, generosidade e dedicação” – escreve o Papa.
Vocações para uma consagração especial
“Se partirmos da convicção de que o Espírito continua a suscitar vocações para o sacerdócio e a vida religiosa, podemos «voltar a lançar as redes» em nome do Senhor, com toda a confiança. Podemos – e devemos – ter a coragem de dizer a cada jovem que se interrogue quanto à possibilidade de seguir este caminho” – diz Francisco na sua Exortação.
O Papa afirma que “no discernimento duma vocação, não se deve excluir a possibilidade de consagrar-se a Deus no sacerdócio, na vida religiosa ou noutras formas de consagração. Porquê excluí-lo? – pergunta o Santo Padre.
“Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia. Passa pelas nossas estradas, detém-Se e fixa-nos nos olhos, sem pressa” – escreve Francisco referindo que o chamamento de Jesus é “atraente” e “fascinante”.
O Papa avisa que “muitas propostas” podem parecer “belas e intensas”, mas, “com o passar do tempo”, podem trazer o “vazio” deixando o jovem “cansado e sozinho”. “Não deixes que isto te aconteça, porque o turbilhão deste mundo arrasta-te numa corrida sem sentido, sem orientação, nem objetivos claros, e deste modo se malograrão muitos dos teus esforços” – escreve o Papa.
Francisco termina o capítulo VIII da sua Exortação Apostólica “Cristo Vive” dizendo a cada jovem para procurar “espaços de calma e silêncio” que “permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo”, para que “juntamente com Jesus” possa “reconhecer” qual a sua “vocação nesta terra”.
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