Bispos de Mianmar com o Papa, durante visita de Francisco ao país do sudeste asiático, em novembro de 2017 Bispos de Mianmar com o Papa, durante visita de Francisco ao país do sudeste asiático, em novembro de 2017 

Mianmar. Bispos: urge interromper barragem no rio Irrawaddy

"Os benefícios econômicos prometidos que se pensa vir da barragem não são comparáveis aos desequilíbrios sociais e ecológicos que certamente aparecerão. A paz se tornará um sonho distante. Após décadas de conflitos, Mianmar merece ressurgir para uma vida nova, enriquecida por oportunidades criativas, e não privada das abundantes águas vivificantes do Irrawaddy", lê-se no apelo dos bispos do país do sudeste asiático

Cidade do Vaticano

“Nós bispos católicos de Mianmar, que representamos os católicos de 16 dioceses, pedimos sinceramente a todas as partes em questão que reconsiderem seriamente o plano mal concebido da barragem de Myitsone, no Estado de Kachin. Nosso apelo é dirigido a todos nossos irmãos e irmãs de toda a Birmânia, cuja história de vida é a história da nossa ‘Mãe sagrada’, o rio Irrawaddy.”

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É o que afirma a Conferência Episcopal Birmanesa, num comunicado oficial, lançando o veemente apelo a suspender a construção da hidroelétrica.

País vulnerável aos desastres naturais

Os bispos explicam: “O rio Irrawaddy atravessa o coração da nossa nação alimentando com sua água milhões de pessoas, flora e fauna para o sustento e a vida. Para o povo de Mianmar, a história do rio Irrawaddy se entrelaça com a nossa longa história de alegrias e de dores. Os cientistas identificaram importantes linhas de falha no subsolo ao longo do leito do rio e a construção de uma barragem poderia expor as linhas a uma maior pressão e a consequentes desastres imanes. Uma barragem poderá privar milhões de pessoas de uma vida sustentável e provocará uma catástrofe humanitária, com a migração de milhares de pessoas. Também as agências internacionais ressaltaram que Mianmar é a terceira área mais vulnerável aos desastres naturais”.

Mianmar merece vida nova

O texto prossegue: “O plano para construir uma barragem no rio Irrawaddy teve uma forte resistência da parte da sociedade e da população de Mianmar. O arcebispo de Yangun, cardeal Charles Maung Bo, fez duas declarações, que suplicam calorosamente a tratar o rio Irrawaddy como a mãe sagrada do povo de Mianmar. Para uma paz duradoura na região, o rio Irrawaddy deve ser deixado intacto. Os benefícios econômicos prometidos que se pensa vir da barragem não são comparáveis aos desequilíbrios sociais e ecológicos que certamente aparecerão. A paz se tornará um sonho distante. Após décadas de conflitos, Mianmar merece ressurgir para uma vida nova, enriquecida por oportunidades criativas, e não privada das abundantes águas vivificantes do Irrawaddy”.

Diálogo construtivo

O comunicado afirma: “Como Igreja católica, nos comprometemos constantemente num diálogo construtivo com o governo e com todos os sujeitos em questão, firmemente convencidos de que a paz constitui o único modo de construir uma nação eficaz. Nesse espírito de cooperação lançamos esse apelo, para ajudar a promover uma paz duradoura em Mianmar”.

Números do projeto

O projeto de uma barragem de 3,8 bilhões de dólares no Irrawaddy, a principal via navegável do país do sudeste asiático, visa fornecer energia hidroelétrica a ser utilizada quase exclusivamente ao país confinante, a China.

O governo do então presidente birmanês Thein Sein suspendera a construção em setembro de 2011. Com a perspectiva de retomá-la, começou novamente em Mianmar a campanha da sociedade civil para dizer “não” à hidroelétrica.

(Fides)

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12 junho 2019, 15:40