Civiltà Cattolica traz recente encontro do Papa com jesuítas na Romênia
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco não gosta de monólogos. O que lhe agrada é entrar em contato com as pessoas, por meio de uma troca de perguntas e respostas. Ele demonstrou isso também em seu recente encontro com os jesuítas que trabalham na Romênia, durante sua Viagem Apostólica ao país, de 31 de maio a 2 de junho. Para eles, conseguiu encontrar tempo na agenda para uma conversa, em um ambiente descontraído e familiar, no final do primeiro dia. Foi às 8 da noite, após seu retorno à Nunciatura em Bucareste.
Foram 22 os jesuítas que participaram do encontro, entre os quais o padre Gianfranco Matarazzo, provincial da Província Euro mediterrânica da Companhia, o assistente do Prepósito Geral para a Europa meridional, padre Joaquín Barrero, o delegado para a Romênia, padre Michael Bugeja, e o superior, padre Henryk Urban.
"Façam perguntas ... Bola no centro!", deu o sinal Francisco. Aquele momento de diálogo e comunhão foi relatado na revista dos jesuítas pelo padre Antonio Spadaro.
Diante das críticas e tensões, é preciso mansidão e paciência
A primeira pergunta diz respeito aos próprios jesuítas, apreciados por muitos, mas às vezes também criticados. Como se comportar nos momentos difíceis? "É preciso paciência", responde o Papa, é preciso encarar “os acontecimentos e as circunstâncias da vida" com suas tensões. Existem tempos "em que não se pode ir muito em frente, e então é preciso ter paciência e doçura". E cita São Pedro Fabro, "o homem do diálogo, da escuta, da proximidade", dizendo que, em tempos de críticas, é preciso fazer como ele. E depois acrescenta: "É preciso estar antes de tudo próximos ao Senhor com a oração", e próximos "ao povo de Deus na vida cotidiana", para curar as feridas. "A Igreja está tão ferida" - continua ele - há tensões também dentro dela e então é preciso mansidão! "Este não é o momento de convencer, de fazer discussões" – pondera - e não devemos "responder aos ataques".
Em seguida, indica o exemplo do padre Lorenzo Ricci, Prepósito Geral da Companhia em 1758, que em suas cartas explica o que os jesuítas devem fazer no momento da tribulação: imitar Jesus, que diante das acusações, "permaneceu em silêncio”. E conclui: "Quando está ocorrendo uma perseguição, se continua a viver o testemunho e a proximidade amorosa na oração, na caridade e na bondade. Abraça-se a Cruz ".
Quais as consolações que acompanham o Papa?
A segunda pergunta é do provincial, que pede ao Papa para falar sobre as consolações que o acompanham. Uma pergunta que agrada a Francisco: "Quais são as verdadeiras consolações? Aquelas nas quais o passo do Senhor se faz presente - responde. Onde encontro as verdadeiras consolações? Na oração, o Senhor se faz ouvir. E depois as encontro com o povo de Deus”. Em particular com os doentes e idosos e com os jovens "que são inquietos e estão à procura de testemunhos verdadeiros".
E fala do 'sensus fidei' que o povo de Deus possui. "Mas vocês têm que ouvir as coisas que as pessoas me dizem quando as encontro nas audiências!" E fala de um diálogo com uma idosa de 87 anos, a quem pediu no final: “Senhora, reze por mim!”. “Todos os dias”, respondeu ela. E o Papa, para brincar, insiste: "Mas diga-me a verdade: a senhora reza por mim ou contra mim?" E a pronta resposta da mulher: “Eu rezo pelo senhor! Mas outros dentro da Igreja rezam contra o senhor!” “A verdadeira resistência - observa Francisco - não está no povo de Deus".
E depois outra história, para dizer que as pessoas aceitam sim a teologia, mas querem a concretude dos gestos, como poderia ser uma bênção pessoal. "No povo de Deus nós encontramos a concretude da vida, das verdadeiras questões reais, do apostolado, das coisas que devemos fazer".
A questão da nulidade matrimonial
A questão seguinte aborda a questão da nulidade matrimonial e de como lidar com processos que parecem nunca chegar ao fim. Os tribunais diocesanos, costuma-se dizer, não funcionam. Francisco sublinha a seriedade do problema e observa como as causas da nulidade podem ser diferentes, ou como o que faz um casamento, quem sabe válido, fracassar, pode ser a imaturidade psicológica, ou ainda que seja preferível para os filhos a separação entre os cônjuges.
"O perigo em que sempre corremos o risco de cair, é a casuística" afirma, sublinhando que o grande passo em frente do recente Sínodo sobre a família foi justamente o de ir além da casuística. "O Sínodo - explica - fez um caminho na moral matrimonial, passando da casuística da Escolástica decadente para a verdadeira moral de São Tomás". Precisamente quando se falou "de integração dos divorciados, abrindo eventualmente à possibilidade dos sacramentos" - continua o Papa – seguiu-se "a moral mais clássica de São Tomás, aquela mais ortodoxa, não segundo a casuística decadente do “se pode ou não se pode". Mas, diz ainda, os tribunais diocesanos servem, são muito poucos e os processos devem ser breves.
O futuro da Igreja Greco-católica na Romênia
A quarta pergunta diz respeito à Igreja Greco-católica, que desempenhou um papel importante na Romênia, um papel que hoje, no entanto, parece ter se esgotado. E recorda-se que logo mais o Papa Francisco beatificaria sete bispos mártires daquela Igreja.
Francisco repete com São João Paulo II, que a Igreja respira com dois pulmões e que "o pulmão oriental pode ser ortodoxo ou católico". E continua: "há toda uma cultura e uma vida pastoral que deve ser custodiada e preservada. Mas o uniatismo hoje não é mais o caminho. Antes ainda, eu diria que hoje não é lícito. Hoje, no entanto – afirma – deve-se respeitar a situação e ajudar os bispos greco-católicos a trabalhar com os fiéis”.
A indiferença é uma forma de paganismo
Outra pergunta: um pároco jesuíta em uma cidade do norte do país confessa: "O que mais me magoa é a indiferença". Para Francisco, a indiferença é "uma das grandes tentações de hoje (...) é a forma mais moderna de paganismo". Porque na indiferença "tudo está centrado no eu". E descreve uma foto tirada pelo "L'Osservatore Romano", intitulada justamente "Indiferença", em que coloca lado a lado uma senhora bem vestida e uma mulher no chão, pedindo esmola. Mas a senhora elegante não a vê, "olha para outro lado". E diz que esta foto sugeriu a ele a chamada "calma linear”. E diz que, segundo Santo Inácio, se na alma "não há nem consolações nem desolações, isso não é bom". Se nada se move, deve-se olhar o que acontece", porque vivemos essa indiferença interior ou porque nessa situação existe indiferença. "Como eu posso ajudar a movimentar as águas?" Fico preocupado, diz o Papa, "onde tudo é uma calma linear, onde não se reage à história, quando não se ri e não se chora". Uma comunidade assim - conclui - "não tem horizontes".
Jesuítas, como a Igreja, têm muitos matizes
Outro jesuíta pede conselhos a Francisco sobre como administrar as diferenças entre os próprios jesuítas, que aparecem em tantos matizes. O Papa responde que a diversidade é uma graça, porque quer dizer "que a Companhia não anula as personalidades". Como administrar isso? Por meio do diálogo comunitário e do debate fraterno. Mas também faz um apelo: "Quando é resultado de tomadas de posições ideológicas fechadas, a diversidade não serve" e deve ser combatida.
A última palavra é de encorajamento: “As dificuldades nunca devem bloquear. É preciso sempre seguir em frente. A paz então, a encontraremos mais além ... ".
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