Indígenas Guarani-Kaiowá perdem casa de reza no Mato Grosso do Sul, destruída por incêndio
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A principal casa de reza dos Guarani-Kaiowá, na reserva indígena de Dourados/MS, feita em estrutura tradicional de madeira e coberta com palha de sapé, foi destruída pelo fogo na última segunda-feira (8). A aldeia Jaguapiru é a mais populosa do Brasil com pelo menos 17 mil pessoas. “Para nós, esse incêndio é um massacre. É como se morresse também o corpo de um de nós”, lamentou Eliseu Lopes, liderança da Aty Guasu, a grande assembleia Guarani-Kaiowá, que também já pediu apoio para a reconstrução do espaço.
Fogo destrói referência espiritual e cultural
Ao redor da fumaça na aldeia, imagens registradas no dia do incêndio mostram os indígenas orando sobre as cinzas. Além da destruição total do espaço, que reunia todas as noites dezenas de pessoas e era uma referência cultural para sediar encontros tanto indígenas como da própria sociedade, as chamas também queimaram objetos religiosos seculares, como cocares, vestes tradicionais e, principalmente, um antigo “Xiru”, um altar com enorme significado espiritual para a comunidade. Flávio Vicente Machado, missionário da regional de Mato Grosso do Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), explicou que “o Xiru, para os Kaiowá, é o espaço onde o diálogo com o sagrado acontece. É o sustentáculo do mundo espiritual, reunindo os espíritos que habitam a casa, as árvores e a água, e dá harmonia à vida no ambiente”.
Casa acolhia diálogo com a fé
O missionário do Cimi lembrou “que a casa de reza é um dos símbolos que representa a herança espiritual familiar Kaiowá, que atravessa gerações, acolhendo os desafios do dia a dia que, no diálogo com a fé, vão gestando respostas. É a materialização da vida Kaiowá e de sua fé. Todo crente sabe que no santuário também está a esperança que o poder religioso provoca. E, por isso, sua destruição é algo emocionalmente violento, de total desolação. Além de, nesse caso, gerar uma desordem no mundo espiritual, desesperançar a família, chegando a beirar a perda de um ente querido”, finalizou o missionário.
A perda é considerada inestimável e a comunidade indígena está inconsolável. A suspeita é de incêndio criminoso, mas a polícia está investigando o caso para apurar as causas das chamas.
Assessoria de Comunicação do Cimi
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui