“Nós somos responsáveis por lhes dar amor”, diz uma voluntária portuguesa com refugiados em Lesbos
Rui Saraiva – Porto
No próximo domingo dia 29 de setembro celebra-se o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Na sua mensagem o Papa Francisco afirma que “não se trata apenas de migrantes”, mas “trata-se também dos nossos medos”, as nossas “dúvidas” e “receios” em relação aos “desconhecidos, aos marginalizados, aos forasteiros”. Medos que nos podem tornar “fechados” e até mesmo “intolerantes” – diz o Santo Padre.
Francisco aconselha “caridade” para “reconhecer o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar”. Sempre com ternura. O Papa frisa que não se pode excluir ninguém.
O Santo Padre refere que “o mundo atual vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos”. Sublinha os recursos que são retirados aos países em vias de desenvolvimento “em benefício de poucos mercados privilegiados”. “A Igreja em saída (...) sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos” – afirma Francisco.
Para tudo isto ser possível devemos “colocar os últimos em primeiro lugar” – diz o Papa – fazendo em modo que “no centro” de “cada atividade política”, “cada programa” ou “ação pastoral” esteja “sempre a pessoa com as suas múltiplas dimensões, incluindo a espiritual. E isto vale para todas as pessoas, entre as quais se deve reconhecer a igualdade fundamental” – escreve Francisco lembrando que o desenvolvimento não é apenas crescimento económico, mas deve ser integral promovendo todos e todo o ser humano.
Teresa Folhadela é uma jovem portuguesa de 25 anos que participou na Jornada Mundial da Juventude do Panamá em 2019 e que entrevistamos na última edição da nossa rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”. Relata-nos desta vez a sua experiência de voluntariado em Lesbos na Grécia em 2018 junto de refugiados, num campo que acolhe famílias. Esteve lá quase 2 meses. Publicamos aqui parte da entrevista que nos concedeu:
R: Durante quase dois meses estive a trabalhar com famílias em educação não formal…
P: Famílias de que nacionalidades?
R: Imensos sírios que fogem da guerra. E nessa altura havia muitos do Paquistão, do Iraque e afegãos. Há muito africanos. Eu ia à missa ao domingo e havia muitos refugiados africanos que vêm do Congo, da Eritreia.
P: Que tipo de atividade era desenvolvida pelo vosso grupo?
R: Como é um campo de famílias trabalhamos muito com crianças a partir da educação não formal divididos por grupos. Temos o grupo dos mais pequeninos, o grupo dos juniores, que são raparigas e rapazes entre os dez e os doze anos, e o grupo dos mais crescidos que é o “youth group”. Depois também tínhamos um serviço que era o “child care” que era como se fosse um “babysitting” em que nós estávamos 24 horas disponíveis à chamada. Os pais, às vezes ficavam doentes, ou estavam no hospital, ou estavam a tratar de documentos e não tinham mais ninguém e nós ficávamos com eles. (…) Em Lesbos continuam a chegar pessoas e os campos estão sobrelotados.
P: Que lição trás dessa experiência de voluntariado com os refugiados?
R: Gosto muito de Santo Inácio de Loyola e há uma frase que ganhou muito sentido lá: “o amor põe-se mais nas obras do que nas palavras”. Não é nada de novo do que o Evangelho nos diz, mas, muitas vezes, a forma como cuidávamos e como vivíamos sem usar as palavras, usando gestos, é que faziam a forma como eles se sentiam acolhidos. Por isso, um gesto vale mesmo muito. Parece uma frase de abrir uma capa de revista… Na verdade, eu em termos práticos não lhes conseguia dizer muita coisa, mas conseguia mostrar em gestos pequenos. O menino que andou com os sapatos trocados o dia todo e eu vou lá reparo e troco… É perceber onde é que eu posso pôr este amor em obras estando também atento. E isto exige uma disponibilidade grande de coração.
P: É fácil a comunicação interpessoal, é fácil criar laços com essas pessoas que estão tão debilitadas, famílias com tantos problemas e a fugirem à guerra, portanto, com tantos traumas. É fácil criar comunicação e criar laços?
R: Sim, eu acho que sim. Porque, na verdade, é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Eles são irmãos nossos. Isso foi outra coisa que eu aprendi na Grécia. Dificilmente deve haver coisa pior do que sair do seu país a fugir da guerra com mil histórias pelo caminho. Eu acho que nós somos muito responsáveis por lhes dar amor e o nosso coração tem de ser tão grande que deve acolher. E vimos de lá muito mais ajudados do que ajudamos.
Teresa Folhadela foi voluntária em Lesbos na Grécia em 2018 junto de refugiados. Esteve lá quase 2 meses.
No final da sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado neste ano de 2019, o Papa recorda quatro verbos fundamentais para responder ao drama dos migrantes e dos refugiados: “acolher, proteger, promover e integrar”.
Laudetur Iesus Christus
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